A BRF (BRFS3) segue uma trajetória volátil na bolsa neste ano, com quase 15% de valorização nos últimos 30 dias, mas com 31% de baixa em relação ao primeiro pregão do ano.
Mesmo nesse contexto de recuperação recente, os analistas do BB Investimentos decidiram manter recomendação neutra para as ações da BRF.
O preço-alvo, contudo, foi cortado de R$ 23 para R$ 20 – cifra que ainda representa uma valorização de cerca de 27% diante da cotação atual, na casa dos R$ 15.
“Considerando a redução do Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) projetado para 2022, principalmente como resultado da forte queda no 1T22, concluímos que os papéis estão sendo negociados em linha com os múltiplos históricos (~8,2x), motivo pelo qual nossa recomendação permanece neutra”, diz o relatório do BB-BI.
A casa conversou com o CFO da empresa antes da elaboração do relatório, por entender que viu ‘mais perguntas do que respostas’ nos números do primeiro trimestre de 2022 (1T22).
“O erro estratégico de planejamento de demanda para o primeiro trimestre custou caro para a empresa, que viu seu Ebitda ajustado desabar 90% a/a. Menores volumes de vendas elevaram os estoques de produtos acabados, o que trouxe desarranjos em toda a cadeia produtiva da BRF”, diz a casa.
“Nesse contexto, a empresa optou por uma estratégia agressiva de concessão de descontos, ajustes de mix de produtos e baixa de custos já incorridos (como o descarte de ovos), que, combinada a um cenário externo conturbado (com a guerra no leste europeu contribuindo para a escalada dos preços dos grãos – cerca de 45% do custo total do produto vendido da BRF) e demanda no Brasil bastante enfraquecida pelos efeitos da inflação ao consumidor, ocasionou a forte deterioração de margens”.
A mudança se deu justamente com a revisão de curto prazo ante “resultados aquém do esperado”. Na conversa, contudo, a gestão da empresa se mostrou confiante quanto à recuperação já no 2T22.
O CFO frisou a possibilidade de ter uma recuperação ‘pautada pela melhora sequencial do cenário’ já visto nos meses de abril e maio no Brasil e pela continuidade do bom desempenho operacional da unidade de negócios Halal.
Segundo o BB Investimentos, os dois fatores mais estratégicos e relevantes neste momento para o ajuste de premissas feito sobre BRFS3 são:
- custos com grãos
- demanda no mercado doméstico brasileiro
“Neste sentido, consideramos que o curto prazo permanece bastante desafiador, mas que veremos uma recuperação gradual de margens ao longo dos próximos trimestres, já que, segundo a companhia, o pior já passou”, diz o relatório sobre BRF.
Veja mais números da BRF
Com um resultado de um ‘trimestre para ser esquecido’, a BRF (BRFS3) caiu mais de 12% Ibovespa após a divulgação do seu balanço.
No resultado da BRF, a companhia reverteu o lucro do 1T21 em prejuízo no 1T22, com prejuízo líquido de R$ 1,546 bilhão. Já a receita líquida proveniente das vendas no período somou R$ 12,04 bilhões, aumento de 13,7% sobre os R$ 10,592 bilhões de igual trimestre de 2021.
Segundo a companhia, o cenário econômico brasileiro e geopolítico mundial pressionou negativamente o desempenho no primeiro trimestre.
Para a XP Investimentos, os resultados foram fracos e abaixo das expectativas dos analistas – que já não eram as maiores. “Nós já esperávamos números sem consistência, mas fomos surpreendidos pelo lado negativo”, dizem os analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, citando que a companhia ‘se surpreendeu’ com uma demanda abaixo do esperado no início do ano.
Na operação nacional, a empresa enfrentou um cenário desafiador no Brasil para volumes, principalmente em janeiro, o que levou a BRF a aumentar as promoções e readequar sua cadeia produtiva.
“Olhando à frente, continuamos céticos em relação ao ritmo de recuperação das margens no Brasil”, diz a XP. A corretora cita como principais pontos:
- Os preços do milho e da soja em níveis desafiadores e possíveis problemas climáticos no Brasil
- Risco crescente para os preços dos fertilizantes, o que pode elevar os preços dos grãos
- Risco climático nos EUA devido a La Niña e possível atraso no plantio
- Perspectiva de demanda doméstica no Brasil permanece fraca
O Ebitda da BRF (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado da BRF nos primeiros três meses do ano alcançou R$ 121 milhões, queda de 90,2% ante a soma de R$ 1,234 bilhão registrado no mesmo intervalo do ano anterior.
A margem do Ebitda ajustado foi de 1%, ante 11,6% na mesma base comparativa.
Em comunicado enviado à imprensa, a BRF informou que a dívida líquida ficou em R$ 12,588 bilhões, R$ 2,73 milhões a menos que o reportado de janeiro a março de 2021.
Com isso, a BRF encerrou o trimestre com o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) em 2,83 vezes, contra 2,96 vezes no mesmo período do ano anterior.
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