Braskem (BRKM5): como o colapso ambiental pode afetar as ações da petroquímica?
A possibilidade de colapso de uma mina de sal-gema da Braskem (BRKM5) em Maceió deixa em alerta não apenas autoridades de todas as esferas públicas, mas também o próprio mercado financeiro, que acompanha de perto os desdobramentos do caso e possíveis impactos que a crise pode causar nas ações da petroquímica.
Desde a última quinta-feira (30), um dia depois de a capital de Alagoas decretar estado de emergência diante do risco iminente de rompimento em um dos poços da antiga mina de sal-gema da Braskem, as ações da empresa caíram mais de 6%, segundo dados do Status Invest.
“Isso se justifica exatamente pelo quanto a Braskem ainda terá que tirar do seu caixa para dar assistência para as famílias e pagar questões jurídicas. Por mais que a área esteja mapeada, somente quando o fato acontece é que vai se olhar as devidas proporções e o quanto isso terá de gastos para a companhia”, afirma Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital.
Também no último dia 30, a Braskem comunicou por meio de fato relevante que foi intimada, em deferimento de tutela de urgência em ação civil pública, sobre o colapso em Maceió. O valor atribuído à causa pelos autores da ação é de R$ 1 bilhão, segundo a petroquímica.
“Esse fato não pode ter mais nenhum impacto, já foi estabelecido o valor. O que pode acontecer é, se requisitada, que a Braskem repare mais danos. E aí ela terá que despender mais ainda para conseguir reparar tudo isso”, destaca Mateus Haag, analista da Guide Investimentos.
A Guide tem recomendação ‘neutra’ para as ações da Braskem, com preço-alvo a R$ 21 por ação.
Braskem é retirada de índice de sustentabilidade da B3 (B3SA3)
Nesta terça-feira (5), a B3 (B3SA3) anunciou que a Braskem será excluída do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) a partir da próxima sexta-feira (8). Segundo a operadora, a participação das ações da Braskem será distribuída proporcionalmente aos demais ativos da carteira do ISE.
A decisão ocorre devido ao agravamento da situação na mina de sal-gema em Maceió.
Ainda de acordo com a B3, a exclusão da Braskem levou em conta quatro pilares do plano: o impacto ESG da crise, gestão da crise pela companhia, impacto de imagem da crise na companhia e resposta da companhia à crise.
“A decisão não deve ser tomada como pré-julgamento das responsabilidades da companhia, mas decorre da aplicação do disposto na metodologia do ISE B3, item 5.3, que estabelece a exclusão de ativos que ‘durante a vigência da carteira se envolvam em incidentes que as tornem incompatíveis com os objetivos do ISE B3, conforme critérios estabelecidos na política de gestão de riscos do índice’, informou a bolsa brasileira.
Maceió confirma aceleração do afundamento do solo de mina da Braskem
A Defesa Civil de Maceió informou nesta terça-feira (5) que o afundamento do solo acima da mina 18 da Braskem mantém uma leve aceleração. Ontem (4), o boletim apontava que o deslocamento vertical era de 0,26 centímetros por hora (cm/h).
No novo informe, divulgado na manhã de hoje, a velocidade passou para 0,27 cm/h. Com isso, o deslocamento vertical acumulado da mina é de 1,86 metros (m), apresentando um movimento de 6,5 cm nas últimas 24h.
A mina 18 está localizada na região do antigo campo do Centro Sportivo Alagoano (CSA), no Mutange. A Defesa Civil informou que segue em alerta máximo devido ao risco iminente de colapso da mina.
“Por precaução, a recomendação é clara: a população não deve transitar na área desocupada até uma nova atualização da Defesa Civil, enquanto medidas de controle e monitoramento são aplicadas para reduzir o perigo”, diz o boletim.
A equipe de análise do órgão ressalta que essas informações são baseadas em dados contínuos, incluindo análises sísmicas.
Fitch Ratings: evento em Maceió pode impactar fluxo de caixa da Braskem
Em relatório divulgado na última sexta-feira (1), a Fitch Ratings avalia que o iminente colapso da mina em Maceió pode ter impacto significativo no fluxo de caixa da Braskem e pressionar seus ratings. “As consequências de um potencial incidente ainda são incertas”, diz.
Ainda de acordo com a agência de classificação de risco, um novo evento geológico na área da Braskem pode levar a novas ações judiciais contra a companhia e afetar sua capacidade de acessar recursos no mercado, já que os investidores estão mais restritivos e preocupados com questões ambientais, sociais e governamentais (ESG).
A Braskem tem nota de grau de investimento (BBB-), com perspectiva negativa.
Cratera em Maceió: mercado já avalia possíveis impactos nas ações da Braskem
Segundo o BTG Pactual (BPAC11), o mercado atribuiu a queda nas ações da Braskem desde o início da repercussão sobre o colapso em Maceió provavelmente à possibilidade de que uma parcela significativa desse valor se torne novas provisões.
Assim, para o banco, isso impactaria ainda mais a capacidade de geração de caixa da Braskem no curto prazo, em meio a um ciclo de spreads petroquímicos muito baixos.
“Atualizamos recentemente as nossas estimativas e reiteramos a nossa classificação neutra, pois acreditamos que a maior parte das vantagens das ações dependem atualmente da potencial venda da participação da Novonor na empresa. Continuamos a abordar as fusões e aquisições com cautela, pois não está claro para nós se os acionistas minoritários irão capturar os direitos de tag along se a venda prosseguir”, diz o BTG em relatório.
Desastre ambiental em Maceió pode afetar a venda da Braskem?
Para Richetti, da GT Capital, é inegável que a Braskem perde valor com o problema ambiental em Maceió. Segundo ele, mesmo que a empresa esteja trabalhando para minimizar os danos, ela pode ter que lidar com outros processos, o que impactaria diretamente na negociação da Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc) em virtude da desvalorização das ações.
“No momento em que a Adnoc compra a Braskem, ela assume esse passivo também. Então sem dúvida nenhuma, isso também é pauta da negociação da compra da companhia”, aponta.
Vale lembrar que no início do mês passado, a Adnoc entregou uma oferta não vinculante para aquisição da participação da Novonor na Braskem, no valor de R$ 10,5 bilhões. A Novonor possui 38,3% do capital total da Braskem e, pela proposta, ficaria com 3% do total das ações, o que implica em um valor de R$ 37,29 por ação.
A oferta da Adnoc, apresentada para a Novonor e para os bancos credores, prevê o pagamento de 50% dos recursos à vista. Já o restante deve ser pago por meio da emissão de uma note de sete anos, em dólares, com juros anuais de 7,25%, incorporados ao valor do principal até o fim do terceiro ano e em dinheiro, a partir do quarto ano.
Caso Braskem pode afetar o setor petroquímico como um todo?
Dierson Richetti, da GT Capital, avalia que para o setor petroquímico, o episódio da cratera em Maceió será importante para o mercado pensar em como aperfeiçoar o processo de extração de sal-gema e evitar que problemas como este ocorram novamente, mas que o segmento como um todo não deve ser prejudicado.
“A petroquímica como um todo está num ciclo de baixa, até pela desaceleração mundial. O consumo de plástico vem diminuindo bastante no mundo todo, e isso impacta diretamente nas companhias do segmento. Mas para o setor em si, não tem nenhuma interferência no sentido de mercado. É muito mais de conhecimento técnico, de melhorias de processos do que de piora ou melhora do mercado petroquímico”, ressaltou.
“Acho que nenhuma empresa vai deixar de fazer alguma coisa por conta desse evento da Braskem”, concorda Mateus Haag, analista da Guide Investimentos.
CPI sobre a Braskem sai ainda este ano?
Há algumas semanas, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) apresentou um pedido para a realização de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com o intuito de investigar o afundamento do solo em Maceió. Para Richetti, da GT Capital, é improvável que alguma discussão sobre o tema da cratera da Braskem e seja realizada ainda este ano.
“Esse ano não acontecerá nada em virtude de que a Câmara e o Senado vão entrar em recesso daqui há alguns dias. Ela [CPI] pode ser até ser aprovada, mas de certa forma, isso só irá se desenvolver a partir do ano que vem”, destaca. “Todo o segmento político de Alagoas está envolvido ou participando dessa questão da Braskem, de vários lados, tanto na esfera federal, estadual e municipal”, acrescenta.
Com Agência Brasil