O número de instituições financeiras que preveem recessão econômica para o Brasil em 2022 está crescendo. Depois do Itaú, também o Credit Suisse alterou suas projeções e agora projeta que no ano que vem o Produto Interno Bruto (PIB) nacional vá cair 0,50%. No caso do banco suíço, a projeção anterior, de crescimento de 0,60%, deu lugar a uma aposta de recessão logo após a divulgação de que o volume de serviços prestados em setembro caiu 0,50% ante agosto, frustrando a expectativa mediana do mercado, que era de avanço de 0,60%.
Assim, setembro fechou com todos os principais dados de atividade econômica aferidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no negativo. Nos dias anteriores, o IBGE divulgou uma queda de 0,40% na produção industrial e um recuo de 1,30% nas vendas do varejo – neste último caso, com o agravante de revisão para baixo no resultado de agosto, que passou de -3,10% para -4,30%.
Na terça-feira (16), a depender de como vier o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de setembro – e, claro, do terceiro trimestre de 2021 -, os investidores podem esperar uma nova onda de revisões para baixo tanto nas expectativas para o PIB de 2021 quanto para o ano que vem. Um dos efeitos desta possível desaceleração econômica mais forte do que o esperado anteriormente é que isso afeta o ritmo da atividade nos trimestres seguintes, diminuindo o chamado carrego estatístico para o ano eleitoral.
“O carregamento estatístico para o ano que vem está diminuindo. Tem uma grande chance do IBC-Br que vai ser divulgado ser negativo”, disse ao SUNO Notícias o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. “No mês de setembro, projetamos uma queda de 0,80%. No terceiro trimestre, deve ficar em torno de 0,10% negativo, e o PIB pode repetir também este desempenho”, completa o economista, que destaca o papel da inflação para a desaceleração da economia brasileira. No acumulado de 12 meses até outubro, o IPCA anota alta de 10,67%, muito acima dos 3,75% que constituem o centro da meta da inflação para este ano.
Inflação joga contra o PIB
Uma das principais fontes de pressão inflacionária nas leituras mais recentes do IPCA, o custo da energia elétrica deve continuar a subir em 2021. Na sexta-feira (12), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) afirmou que as contas de luz devem ter reajuste de 21,04% em 2022. As atenções dos investidores e dos consumidores também continuam voltadas para os combustíveis, especialmente com especialistas projetando que os preços dos barris de petróleo podem chegar ao patamar de US$ 100 nos próximos meses.
O preço em dólar também preocupa, uma vez que a moeda brasileira continua bastante desvalorizada, precificando o risco fiscal do país, alimentado, por sua vez, por ruídos políticos e esforços do governo para flexibilizar o teto de gastos só seis anos após sua implementação. Diante das incertezas, os investidores cobram prêmios cada vez maiores para financiar a dívida brasileira, tornando o processo de endividamento mais caro. A perspectiva é de piora na relação dívida/PIB, tanto pelo aumento da dívida quanto pelo crescimento menor (ou até negativo) do PIB, cria um ciclo que empurra para baixo a atividade econômica.
O relatório de mercado Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda-feira (8), já havia mostrado que o mercado acredita em deterioração da situação econômica do Brasil. A mediana para o IPCA em 2021 alcançou os 9,33%, 31ª revisão altista seguida, enquanto o valor intermediário para a inflação de 2022 já chegou aos 4,60%, só 0,40 ponto percentual abaixo do teto da meta, de 5,0%. A mediana para o PIB de 2021 não está no campo negativo, mas encolheu pela quinta semana seguida e agora chegou a avanço de só 1,0%. É provável que essas projeções piorem novamente na edição do relatório que será publicado no dia 16 de novembro.
No texto em que anunciou a projeção de PIB caindo 0,50% em 2022, os economistas do Credit Suisse Solange Srour e Lucas Vilela destacaram o papel da inflação para o enfraquecimento da atividade econômica. No documento, eles ratificam: “o atual nível de inflação deve permanecer elevado devido à alta inércia no país”. Se acertarem na previsão, é provável que o Banco Central se veja obrigado a elevar juros para além dos dois dígitos já no primeiro trimestre de 2022, o que deve impor um freio importante ao crescimento brasileiro.
A inflação também é fonte de preocupação no exterior, inclusive nos Estados Unidos, cuja alta de preços ao consumidor já soma 6,20% nos 12 meses até outubro, taxa não vista desde os anos 1990. O temor dos investidores é que a dinâmica inflacionária na maior economia do planeta faça o Federal Reserve abandonar a postura de leniência com a inflação, aumentanto os juros básicos, hoje entre 0% e 0,25%. Uma alta nos juros dos EUA tem poder para empurrar para cima os juros ao redor do planeta, principalmente em países com economias mais frágeis e arriscadas, como é o caso do Brasil.
“A incerteza quanto ao cenário político deve permanecer elevada até as eleições presidenciais do próximo ano e as perspectivas para os mercados emergentes tornaram-se mais desafiadoras com a política monetária mais restritiva nos países desenvolvidos”, sintetizaram os economistas do Credit Suisse.