Após reportar seu resultado trimestral referente ao quarto trimestre de 2022 (4T22), o Bradesco (BBDC4) figura dentre as maiores quedas da bolsa de valores, com retração de 7,6% por volta das 11h50.
É a segunda vez consecutiva que os resultados do Bradesco impactam intensa e negativamente as ações – no trimestre anterior, a inadimplência fez os papéis derreterem mais de 15% com uma inadimplência acima do esperado no balanço.
O lucro do Bradesco foi de R$ 1,59 bilhão. O consenso Bloomberg projetava R$ 4,46 bilhões, quase três vezes mais.
Em análises sobre os números do banco privado, especialistas de mercado descrevem o resultado como “manchados em tinta vermelha” e “ruim até para pessimistas”. Na primeira descrição, há uma clara associação com o aumento do provisionamento, que muito provavelmente está associado à Americanas (AMER3).
“Vemos os resultados do 4T22 do Bradesco como fracos em grande parte devido à considerável provisão relacionada a um evento subsequente (provavelmente o caso da Americanas), que arrastou seu lucro líquido para R$ 1,6 bilhão (62% abaixo de nossa projeção) , implicando um ROAE de 3,9% no quarto trimestre. Além disso, sua inadimplência continuou crescendo e pressionando seus resultados trimestrais“, dizem os analistas da XP Investimentos, os que citaram a “mancha vermelha”.
O único fator positivo, segundo a casa, é de que isso já está 100% provisionado e ‘limpa’ o balanço do banco para o ano de 2023, poupando mais impactos no resultado trimestral referente ao início deste ano.
“Adicionalmente, sua margem de lucro de mercado apresentou alguma melhora na base trimestral e os resultados de seu segmento de seguros melhoraram consideravelmente”, acrescenta a XP.
Analistas do BB Investimentos foram categóricos, citando um “agravamento das tendências negativas” do banco.
Mas foram além, citando que o impacto da varejista que pediu recuperação judicial recentemente não é o único ‘culpado’ pelo trimestre ruim.
“O resultado do 4T22 não apenas acentuou algumas tendências negativas mais claramente vistas ao longo do segundo semestre do ano passado, em especial da qualidade de crédito, mas também conteve um evento de impacto considerável – o da Americanas – ao qual o Bradesco possui exposição relevante”, diz a casa.
“Mesmo isolando o provisionamento massivo de Americanas – já que, ao contrário de Itaú e ABC, o Bradesco optou por transitar por completo na DRE –, vimos escalada significativa nas despesas com provisões, resultante de índices de inadimplência que evidenciam piora em praticamente todos os segmentos, mas com mais ímpeto em Pequenas e Médias Empresas, que se juntam ao já pressionado segmento de Pessoas Físicas, formando um quadro que mostra deterioração preocupantemente acima de demais representantes do setor bancário”, acrescenta.
O BB também destaca que os índices de atrasos antecedentes de 15 e 90 dias que estavam estáveis nos resultados anteriores passaram a piorar agora.
Futuro do Bradesco
Junto com o resultado, o Bradesco divulgou seu guidance para 2023, com números vistos como “tímidos” por analistas da XP.
As projeções do banco para 2023 são:
- Crescimento da carteira de crédito total entre 6,5%-9,5%
- NII de clientes com crescimento entre 7,0%-11%
- Crescimento das Receitas de Seguros entre 6,0%-10,0%
- Custo do crédito entre R$ 36,5-39,5 bilhões
Analistas do UBS-BB projetam, a priori, que o lucro do banco, neste ano de 2023, deve girar em torno R$ 20 bilhões, podendo variar para R$ 16 bilhões em um cenário negativo e R$ 24 bilhões em um cenário positivo.
Além disso, destacam que o Bradesco pode sofrer com impactos fiscais negativos por causa da lucratividade menor.