Bradesco (BBDC4): lucro cai 75,9% no 4T22, para R$ 1,59 bi; banco sofre impacto da Americanas (AMER3)
O Bradesco (BBDC4) reportou na noite desta quinta-feira (9) seus resultados do quarto trimestre de 2022. Entre os principais destaques, o banco obteve um lucro líquido recorrente de R$ 1,59 bilhões, queda de 75% frente ao mesmo período do ano anterior. No acumulado do ano, foram R$ 20,7 bilhões, recuo de 21,1%.
O lucro líquido do 4T22 do Bradesco veio 61% abaixo do estimado pelos analistas ouvidos pelo Broadcast, do Grupo Estado.
O resultado abaixo da expectativa do Bradesco já repercute mal no mercado: no after hours em Nova York: às 21h de Brasília as ADRs do banco caíam 7,17%, cotadas a US$ 2,65.
O Bradesco, assim como seu concorrente Itaú (ITUB4), provisionou em 100% sua exposição à Americanas (AMER3), um total de R$ 4,9 bilhões, impactando fortemente seu resultado.
O lucro líquido contábil do Bradesco no 4T22 foi de R$ 1,43 bi, uma queda de 54,7% no comparativo com o último trimestre de 2021. Houve recuo também na margem financeira total do banco, em 1,7% no comparativo com o 4T21, com R$ 16,677 bilhões.
Por outro lado, a margem com clientes do Bradesco subiu 18,3% no 4T22, para R$ 17,480 bilhões. Segundo o banco, houve o aumento da carteira de crédito e também de um mix de produtos mais rentável, embora com maior risco.
Na margem com mercado, que reflete o resultado da tesouraria, o Bradesco teve perda de R$ 803 milhões. O resultado foi provocado pela variação das posições de ativos e passivos da instituição. O spread foi de 9,8%, alta de 0,7 ponto porcentual em um ano, e queda de 0,3 p.p. em um trimestre.
“Houve aumento rápido e relevante da inflação, com aumento das taxas de juros maior que o inicialmente antecipado, impactos no ciclo de crédito e um ambiente global de grande instabilidade política e econômica”, diz a mensagem da administração, que acompanha o resultado.
Carteira e rentabilidade
Em dezembro, a carteira de crédito do Bradesco estava em R$ 891,933 bilhões, um aumento de 9,8% em relação ao terceiro trimestre do ano passado, e alta de 1,5% na comparação com o período de três meses encerrado em setembro.
No final do quarto trimestre de 2022, os ativos do conglomerado somavam R$ 1,830 trilhão, um aumento de 8% em base anual, e contração de 3,2% em termos trimestrais.
O patrimônio líquido do Bradesco era de R$ 154,263 bilhões em dezembro, variação positiva de 4,9% em 12 meses, mas queda de 1,7% em três. Com isso, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) do banco fechou o período em 3,9%, baixa de 13,6 pontos porcentuais em um ano, e de 9,1 pontos em três meses.
“Estamos trabalhando intensamente em nosso objetivo de alcançar retorno recorrente de pelo menos 18%”, disse o presidente do Bradesco.
Potencial
“Ao final do exercício, chegamos a um lucro líquido de R$ 20,7 bilhões, apesar da provisão integral para um cliente específico”, disse em nota o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, que disse que o banco tem muitos potenciais de negócios a explorar.
Ainda de acordo com ele, neste ano, as provisões devem acompanhar o crescimento da carteira, e no atacado, devem passar por uma normalização.
“O Bradesco possui historicamente uma importante exposição aos segmentos de baixa renda e pequenas empresas. Nós consideramos esse posicionamento de mercado estrategicamente correto, mesmo que neste ciclo estejamos sofrendo com a inadimplência”, ressaltou.
Segundo o executivo, a inadimplência teve um crescimento mais rápido que o esperado no ano passado, agravada pela inflação em alimentos e em combustíveis.
Provisão à Americanas (AMER3)
“Não fosse o provisionamento de Americanas (AMER3), o Bradesco teria reportado um lucro líquido acima da expectativa do mercado. Mas, olhando as outras linhas, o resultado foi ruim. A inadimplência continua alta, e o ROE que figurava entre os melhores junto com Itaú, acabou decepcionando”, destaca André Fernandes, Head de Renda Variável e sócio A7 Capital.
“O banco acabou divulgando um lucro líquido de R$ 1,6 bilhão no 4° trimestre de 2022, e o consenso do mercado era de R$ 4,35 bilhão. Foi o maior impacto no resultado dentre os três grandes bancos privados”, frisa.
No balanço divulgado, o banco afirma que foi fortemente afetado por um cliente de atacado, que não teve o nome citado, e que teve todo o crédito provisionado — pelo movimento, é possível inferir que trata-se da Americanas.
A Americanas entrou em recuperação judicial em janeiro, com dívidas de R$ 48 bilhões. O Bradesco é o banco com a maior exposição absoluta à companhia. O Itaú, que tinha R$ 2,8 bilhões a receber, também optou por provisionar todo o crédito. Por sigilo bancário, as instituições não podem citar a companhia nominalmente.
Este fator fez com que as provisões do Bradesco contra a inadimplência tivessem um salto para R$ 14,881 bilhões no trimestre, mais de quatro vezes o volume registrado no mesmo período do ano anterior.
Sem este efeito, teriam sido de R$ 10,030 bilhões, refletindo o aumento da inadimplência. O resultado operacional do Bradesco no trimestre ficou negativo em R$ 99 milhões. No ano anterior ficou positivo em R$ 10,283 bilhões.
Com informações do Estadão Conteúdo