Queda no lucro do Bradesco (BBDC4) no 3T22: números podem piorar, dizem analistas; ações derretem
No terceiro trimestre, o Bradesco (BBDC4) reportou lucro líquido recorrente de R$ 5,2 bilhões, o que representa uma queda de 22,8% em relação ao mesmo período do ano passado. O valor ainda ficou 23,7% abaixo das estimativas da Genial Investimentos, de R$ 6,8 bilhões.
Os analistas da Genial informam que o balanço trimestral do Bradesco ficou abaixo do esperado. A casa interpreta que o resultado adverso foi afetado, especialmente, por três fatores:
- perdas na margem com mercado (tesouraria),
- aumento substancial na provisão de devedores duvidosos (PDD),
- diminuição no resultado financeiro da seguradora do Bradesco devido à deflação observada no trimestre.
Dos três itens citados pelos analistas, o entendimento é de que as margens devem melhorar, de forma gradual, nos próximos trimestres.
Apesar disso, na visão da Genial, a grande surpresa negativa do terceiro trimestre relativa ao Bradesco foi a piora da qualidade de crédito — e, consequentemente, a elevação das provisões.
Os analistas lembram que o banco foi forçado a revisar seu guidance com uma alta considerável na expectativa de provisão de crédito, de R$ 17 bilhões a R$ 21 bilhões para R$ 25,5 bilhões a R$ 27,5 bilhões.
“Isso significa que as despesas com provisões devem aumentar de R$ 7,3 bi no 3T22 para algo entre R$ 8,1 bi a R$ 10,1 bi no 4T22, ou seja, os resultados com baixa rentabilidade devem continuar. O ROE do trimestre ficou em apenas 13,0% contra 18,1% no 2T22”, comenta a Genial Investimentos.
Ações do Bradesco derretem na Bolsa
Com o resultado ruim no 3T22, as ações do Bradesco tombaram mais de 17,38% nesta quarta (9).
Segundo a XP, os principais motivos para a forte queda das ações BBDC4 na bolsa são:
- Deterioração macroeconômica aumentando o risco de inadimplência: “Temos visto um cenário macroeconômico mais desafiador ao longo do ano, devido principalmente à pressão inflacionária, ciclo de alta de juros; baixo crescimento econômico no curto prazo.”
A XP diz que, embora o Brasil tenha antecipado seu ciclo de aperto monetário, mirando controlar a alta persistente da inflação, o que deve permitir a interrupção do ciclo de alta de juros, o cenário é de baixo crescimento no curto prazo e com o endividamento das famílias em nível elevado, o que eleva o risco de maior inadimplência.
“Ao longo ano, os bancos já vêm reportando índices de inadimplência crescente e se aproximando dos níveis pré-pandemia. Isso tem levado a um maior nível de provisionamento para inadimplência nos resultados dos bancos, incluindo o Bradesco”, diz a XP
“Adicionalmente, o banco reportou uma alta relevante no volume de provisionamento no terceiro trimestre. O maior volume com despesas de provisões juntamente com a margem financeira bruta ainda pressionada no curto prazo levou a uma queda no lucro do banco (-26% versus o 2T22), bem como na sua rentabilidade (ROAE de 13%, queda de 5.1pp T/T)”, acrescenta.
A XP destaca ainda o guidance do ano, revisado juntamente à publicação do resultado do 3T22, que indica um 4T22 ainda pressionado: “Juntamente com o resultado do terceiro trimestre reportado, o banco divulgou uma revisão do seu guidance para 2022, revisando para cima a expectativa do banco para PDD em 2022. Em sua última revisão os executivos do banco apontaram para uma faixa de R$ 25,5-27,5 bi de PDD em 2022 (previamente de R$17-21 bi). Com isso, o novo guidance implica em mais uma alta relevante no volume de provisionamento no 4T22 (de R$ 8.1-10.1bi), pressionando o seu resultado.”
Adicionalmente, a diretoria mencionou durante a teleconferência de resultados do terceiro trimestre que essa pressão da PDD pode permanecer no 4T22 e 1T23.
Mais: juros ainda elevados no curto prazo tendem a continuar pressionando a Margem Financeira Bruta do banco, lembra a XP. “Uma das principais variáveis que influenciam a sua Margem Financeira Bruta com o mercado é a curva de juros. Diante da alta recente dos juros e expectativa da sua manutenção em níveis elevados no curto prazo, a linha gestão de ativos e passivos (ALM) deve continuar pressionada, também penalizando o resultado banco”, lembram os analistas.
Com a queda de hoje é hora de comprar ações do Bradesco?
“Apesar da queda expressiva de hoje, não acreditamos que seja o momento de comprar o papel. Acreditamos que esse impacto seja temporário nos seus resultados. Diante da perspectiva ainda bastante desafiadora pela frente, impactando os resultados do banco no curto prazo e da falta de catalizadores positivos relevante para a ação, mantemos uma visão mais cautelosa para o papel”, argumenta a XP.
“Além disso, vemos a dinâmica da inadimplência mantendo a trajetória de crescimento gradual e que pode continuar pressionando os resultados do setor por um período mais longo. Portanto, mantemos recomendação Neutra para as ações do Bradesco (BBDC4).”
No setor de bancos, os analistas da XP continuam preferindo bancos com maior índice de cobertura e/ou com carteiras mais defensivas – caso do Itaú Unibanco (ITUB4) .
Devedores seguirão ‘assombrando’ o banco pelos próximos trimestres
Os analistas acreditam que, possivelmente, o PDD seguirá “assombrando” o banco pelos próximos trimestres. A razão disso é “a maior exposição a empréstimos relacionados a pessoa física baixa renda e pequenas empresas, mais sensíveis ao ciclo de crédito, juros e inflação”.
A casa afirma que as despesas com PDD continuam pressionando o bottom line (lucro) da instituição, registrando uma elevação de 95,5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
A Genial argumenta que “o crescimento da provisão foi principalmente pela grande exposição de empréstimos em segmentos que possuem maior probabilidade de inadimplência: pessoas físicas (54,2%) e as micro/pequenas e médias empresas (24,8%)”.
Recomendação para as ações do Bradesco, segundo a Genial
Mesmo considerando os resultado do Bradesco como “fraco”, a Genial considera que as ações do Bradesco estão descontadas. Por esse motivo, a casa observa potenciais quedas da ação como uma oportunidade para montar posição.
A Genial Investimentos reitera sua recomendação de compra para as ações do Bradesco, com preço-alvo de R$ 24,00 para o final de 2023.
Cotação do Bradesco nesta quarta-feira
Nesta quarta-feira (9), dia posterior à publicação do balanço do terceiro trimestre, as ações do Bradesco tiveram forte queda na bolsa de valores brasileira.
Por volta das 18h, os ativos do Bradesco fecharam em queda de baixa de 17,38%, a R$ 15,35. No acumulado deste mês, a desvalorização supera os 20%.