Dança das cadeiras do Bradesco (BBDC4): mais executivos deixam o banco
Após a saída de Octavio de Lazari Junior da presidência do Bradesco (BBDC4) na última quinta-feira (23), sendo substituído por Marcelo Noronha, então vice-presidente de varejo, mais executivos do banco anunciaram a saída de seus cargos.
Na segunda-feira (27), foi a vez de Walkiria Marchetti, responsável por algumas áreas de tecnologia da informação do banco, deixar a função. No início deste ano, ela assumiu o comando das áreas de governança, infraestrutura e operações de TI, além da tecnologia da Bradesco Seguros.
Segundo apuração do Estadão/Broadcast, confirmada pelo banco, Marchetti antecipou a aposentadoria. Ela estava no Bradesco desde 1981 e era a única mulher na diretoria-executiva da instituição desde agosto, quando Glaucimar Peticov, que cuidava, entre outras coisas, de recursos humanos, pediu demissão.
O conselho de administração do Bradesco possui duas mulheres: Denise Aguiar e Denise Pavarina.
Na semana passada, logo após a troca no comando do Bradesco, Eurico Fabri, vice-presidente de atacado do banco, renunciou ao cargo alegando questões pessoais.
Bradesco (BBDC4): mudança no comando indica senso de urgência, dizem analistas
A dança das cadeiras do Bradesco indica um senso de urgência após resultados abaixo dos concorrentes, dizem os analistas. Para o BTG Pactual, a escolha de Marcelo Noronha para presidência – que substituiu Octavio de Lazari – , demonstra uma disposição do banco para aprimorar resultados.
“Mesmo com um altamente competente Noronha ao leme, a recuperação será longa e, em nossa visão, irregular”, afirma o BTG em relatório.
Segundo o BTG, a mudança, no mínimo, pode fazer com que alguns “short sellers” (investidores vendidos nas ações) fiquem mais preocupados em apostar contra os ações do Bradesco (BBDC4).
Além disso, dizem os analistas, pode atrair mais investidores a reavaliarem a tese de investimento no Bradesco.
A Genial investimentos aponta que nos últimos anos, o ROE do banco registrou uma queda significativa, passando de 20% em 2019 para 12% em 2023 (consenso), enquanto alguns de seus concorrentes conseguiram atravessar o ciclo adverso de crédito praticamente ilesos, mantendo ROE acima de 20%, como é o caso do Itaú (ITUB4) e do Banco do Brasil (BBAS3).
Para a equipe da Genial, a mudança na liderança do Bradesco sinaliza a procura por novas estratégias para enfrentar os desafios e revigorar o desempenho do banco. “O novo CEO terá um desafio significativo, mas com o pior do ciclo já encerrado ou próximo do pico, pode traçar uma agenda mais construtiva a partir de 2024, alinhando possivelmente os milhares de colaboradores para recuperar o market share perdido.”
Neste contexto, a Genial e o BTG mantêm recomendação neutra para os papéis do Bradesco, com preço-alvo de R$ 17 e R$ 17,30, respectivamente.
Bradesco: exceções na escolha de Noronha
Durante os 20 anos de Bradesco, segundo a Genial, Noronha liderou as áreas de atacado e cartões do banco. Em janeiro de 2023, assumiu a responsabilidade pelo varejo e pela alta renda Prime do Bradesco, incluindo as iniciativas digitais (Next, Digio e Bitz).
No entanto, iniciou sua carreira fora da instituição e nunca passou pela seguradora do Bradesco, uma dos segmentos mais importantes do banco.
“Se não fossem os resultados robustos da seguradora, o ROE do banco teria sido consideravelmente inferior. Tradicionalmente, todos os CEOs lideram a Bradesco Seguros antes de assumirem a posição de CEO. Esses indicadores de mudança podem sugerir uma alteração significativa de paradigma”, aponta a Casa.
O novo presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, sinalizou que a sua gestão será focada em resultados e que tem consciência da missão ao assumir a liderança do segundo maior banco privado do Brasil. O executivo foi alçado ao posto depois de liderar a arrumação no segmento de varejo, que sofreu com o aumento da inadimplência e pressionou os resultados do conglomerado.
“O mercado é muito competitivo e exige múltiplas capacidades de todos nós. Com os pés no chão, tenho consciência da minha missão. E não será diferente dessa vez”, disse o novo presidente do Bradesco, em nota distribuída pelo banco.
De acordo com Noronha, o Bradesco tem uma estrutura organizacional e cultura corporativa que oferecem os “pilares centrais de uma gestão focada em resultados”. Acrescentou: “Tenho visão plena das decisões relevantes que me aguardam, e o tamanho da carga das expectativas dos clientes, colaboradores e acionistas do Bradesco.”
Noronha tem 58 anos e iniciou sua carreira bancária, em 1985, no Recife. Transferiu-se para São Paulo em 1994 e, antes de ingressar no Bradesco, trabalhou na diretoria do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria Brasil até 2003. Foi, também, diretor-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) entre os anos de 2013 e 2017.
Principais pontos do declínio nos resultados do banco
De acordo com a Genial, três fatores contribuíram para a queda do desempenho do Bradesco em comparação com as concorrentes: custo de crédito, tesouraria e digitalização.
No caso do custo de crédito, foram as altas provisões, principalmente vindo do aumento da inadimplência no varejo de baixa renda. Já na Tesouraria, houve o impacto dos resultados negativos de NII mercado em 2022 e 2023.
Por fim, a estratégia de manter bancos digitais do Bradesco como entidades separadas não rendeu o sucesso desejado. “Além disso, os resultados pouco expressivos da sua adquirente, a Cielo, e a ausência de produtos e iniciativas integradas entre o banco e a adquirente também contribuíram para os desafios enfrentados”, explica a Genial.
*Com informações de Estadão Conteúdo