O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), afirmou em entrevista coletiva à Imprensa em Osaka, no Japão, que o acordo fechado entre a União Europeia (UE) e o Mercosul na última sexta-feira (28) deve gerar um “efeito dominó” para que novos acordos sejam feitos.
De acordo com Bolsonaro, que participa da 14ª cúpula do G20, a aliança entre o Mercosul e a UE deve inspirar novos países a fecharem acordos com o Brasil. “O acordo foi muito bom para o Brasil, pelas informações que recebi”, afirmou o presidente ao “Valor Econômico”.
O mandatário brasileiro apontou duas pautas que no período final das negociações foram desafios superados:
- o vinho;
- e os laticínios.
No caso dos vinhos, Bolsonaro apontou que a UE almejava maior acesso para seus vinhos no Mercosul. A fim de resolver o impasse, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, iniciou os trabalhos e fez reuniões em Brasília com os produtores do Rio Grande do Sul.
Bolsonaro também enalteceu o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e a ministra da Agricultura, Teresa Cristina. “Os ministros Ernesto Araújo e Teresa Cristina foram essenciais no acordo“, disse ele.
Saiba mais – Mercosul e União Europeia firmam acordo de livre-comércio
Bolsonaro e Trump no G20
Na véspera, Bolsonaro encontrou-se com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e ambos fizeram elogio ao outro para a Imprensa. A informação é da “Folha de S. Paulo”.
“Ele [Bolsonaro] é um homem especial que está indo muito bem e é muito amado pelas pessoas do Brasil”, afirmou Trump. “Espero que nos visite antes das eleições, se for possível. [Será] motivo de orgulho e satisfação. E [a visita] vai mostrar para o mundo que a política do Brasil mudou de verdade. Nos interessa e temos o prazer de nos aproximarmos dos Estados Unidos“, completou.
Por sua vez, Bolsonaro afirmou que sempre o admirou “desde antes das eleições, temos muita coisa em comum. Somos dois grandes países que juntos podem fazer muito pelos seus povos“.
Saiba mais – Guerra comercial tem nova trégua após encontro entre Trump e Xi
Mais tarde no evento, quando perguntado sobre a possibilidade de o Mercosul ter negociações com os EUA, devido à proximidade com o governo Trump, Bolsonaro não descartou a hipótese. E mencionou também o Japão, que almeja um acordo com a região do Cone Sul (Argentina, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai).
Bolsonaro preocupa-se com eleições na Argentina
Na visão do presidente brasileiro, o retorno de de Cristina Kirchner ao poder, mesmo como vice-presidente, pode representar o risco de uma “Venezuela” no Cone Sul. A eleição presidencial da Argentina está marcada para ocorrer em 27 de outubro de 2019.
Trump teria mencionado a possibilidade de visitar a Argentina no mês de julho. Bolsonaro propôs ao mandatário norte-americano para reunir-se também com o Brasil, Chile, Paraguai, Colombia, Peru. “Estamos afinados com Trump”, afirmou.
“A América do Sul está deixando um pouco a esquerda e indo para o centro, em alguns casos para a centro-direita”, opinou.
Saiba mais – Bolsonaro afirma permanecer no Acordo de Paris após reunião com Macron
Bolsonaro cancela reunião bilateral com presidente da China
Jair Bolsonaro cancelou a reunião bilateral com o presidente da China, Xi Jinping. O encontro estava agendado para às 14h30 deste sábado (29), e seria o último compromisso do líder brasileiro na cúpula do G20.
“Temos uma incompatibilidade de agendas em função de atraso das bilaterais. Nós esperamos até o presente momento, mas nós temos um horário para a decolagem e ainda temos que retornar ao hotel para fazer o fechamento”, informou o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros.
Mercosul e União Europeia fecham acordo
O acordo do Mercosul com a União Europeia, feito em Bruxelas, formará uma das maiores áreas de livre comércio do mundo. Os dois blocos econômicos juntos representam cerca de 25% da economia mundial, e um mercado de 780 milhões de pessoas.
Conforme a “Agência Brasil”, em relação à quantidade de países vinculados ao acordo e a extensão territorial, o acordo entre o Mercosul e a UE só fica atrás do Tratado Continental Africano de Livre Comércio, que envolve 44 países da África e foi assinado em março deste ano.
Projeções do ministério da Economia indicam que o acordo deve representar uma alta do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em cerca de US$ 87,5 bilhões em 15 anos.
O montante pode subir para US$ 125 bilhões no mesmo período se forem considerados:
- a redução das barreiras não tarifárias;
- e o incremento esperado na produtividade.
Além disso, o investimento estrangeiro no Brasil, também no mesmo período, é estimado em US$ 113 bilhões. Com relação à exportação brasileira para a União Europeia, os ganhos devem chegar a quase US$ 100 bilhões até 2035.
Saiba mais – Acordo do Mercosul com UE pode aumentar PIB do Brasil em US$ 125 bi
Acordo entre Mercosul e UE precisa ser ratificado
Apesar dos 20 anos transcorridos de negociação, o acordo ainda tem um longo caminho até entrar em vigor. Pois o mesmo precisa ser ratificado e internalizado por cada um dos Estados integrantes de ambos os blocos econômicos.
São 31 países envolvidos, nos quais o acordo deve ser aprovado por parlamentares e governos nacionais. A tramitação destas ramificações pelos países pode levar anos e enfrentar resistências.
No Brasil, o acordo será analisado pelos ministérios envolvidos e então enviado ao Congresso Nacional. O texto deverá ser aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado.