As recentes críticas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus aliados à Petrobras (PETR4) e as tentativas de responsabilizar a estatal pela alta nos preços dos combustíveis são estratégias para tirar o foco da responsabilidade do governo sobre a empresa, segundo o cientista político e professor da Universidade Mackenzie Roberto Gondo.
A tese do especialista se baseia no fato de que atualmente a União é figura como acionista majoritário da Petrobras e a diretoria é indicada pelo Executivo, assim como uma fatia relevante dos membros de Conselho de Administração.
“Bolsonaro e seus aliados criam narrativa para mostrar como são bonzinhos. Quem não quer baixar o preço são os outros. Colocam a estatal como vilã do processo. Isso pode tentar tirar a responsabilidade do governo sobre a empresa para ver se ele consegue reverter o voto através de um olhar populista”, disse Gondo.
As críticas se dão após a Petrobras anunciar que o preço da gasolina será reajustado em 5,2%, passando a custar R$ 4,06 para as refinarias – o que também encarecerá o combustível para os consumidores. Já o litro do diesel subirá 14,2%, para R$ 5,61.
Há meses, Bolsonaro tem criticado o que chama de “lucros exacerbados da Petrobras”. Com o reajuste mais recente, em suas redes sociais, o presidente voltou a criticar as decisões da gestão da estatal.
“O Governo Federal como acionista é contra qualquer reajuste nos combustíveis, não só pelo exagerado lucro da Petrobrás em plena crise mundial, bem como pelo interesse público previsto na Lei das Estatais”, disse em sua conta no Twitter.
“Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos. Seus presidente, diretores e conselheiros bem sabem do que aconteceu com a greve dos caminhoneiros em 2018, e as consequências nefastas para a economia do Brasil e a vida do nosso povo”, seguiu.
Vale lembrar que o entorno de Bolsonaro teme os impactos do salto dos combustíveis nos planos de reeleição do presidente.
“Imbróglio na Petrobras foi iniciado por corrupção do PT”
Segundo Gondo, da Mackenzie, além de ser um desafio para Bolsonaro, o foco na estatal durante as eleições poderá trazer preocupações ao ex-presidente Lula (PT).
“Bolsonaro se coloca a favor do povo e contra a Petrobras. Mas tudo isso pode ter começado pela corrupção estabelecida pelo PT. Na profundidade econômica não tem lógica, mas é o debate que vai acabar preponderando”, explicou.
“De um lado, olha como ele Bolsonaro cuida do povo, e do outro Lula é teto de vidro”, continuou Gondo, em referência às denúncias de corrupção contra o PT e as intervenções na estatal durante as gestões petistas.
Questionado sobre a eficácia do discurso do presidente para atrair eleitores para além da sua base, Gondo reforçou que, a princípio, a narrativa alimenta os 30% de eleitores fiéis.
“Mas, se ele fizesse uma política populista que baixasse efetivamente os preços, ele iria inflamar a ponta. Aquelas pessoas que enxergam no bolso que o preço do combustível foi reduzido e que poderiam associar a queda ao Bolsonaro”, ponderou, sobre o imbróglio da Petrobras.
Com informações do Estadão Conteúdo