Bolsa de Valores: os setores mais promissores em 2021
O ano de 2020 foi de extremos altos e baixos na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Após um início promissor, com a máxima histórica batida em janeiro, logo o mercado financeiro e todos os setores da economia foram contaminados pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
Meses depois, o movimento foi de demanda maior que a oferta, o que fez com que os mercados internacionais — encharcados pelos estímulos financeiros governamentais — subissem, também impulsionados pela expectativa da criação de vacinas que coloquem um fim na pandemia.
Nesse intervalo temporal, a Bolsa de Valores brasileira ainda teve tempo de demonstrar sua incerteza quanto à situação fiscal do Brasil, antes de conseguir zerar as perdas do ano, em meados de dezembro.
A economia brasileira sofreu um forte baque com o coronavírus, sobretudo no terceiro trimestre. Comércios foram fechados, ou simplesmente levados a zero, como o turismo, além do crescimento da taxa de desemprego, que foi a 14,4% no começo de setembro.
Entretanto, dados históricos mostram que o fator que move a Bolsa não é o Produto Interno Bruto (PIB) nacional, mas sim o lucro das empresas que compõem o mercado. Em 2016, por exemplo, o Ibovespa subiu 38,94% enquanto a economia foi contraída em 3,3%.
O inverso não necessariamente é verdadeiro, uma vez que quando o PIB sobe significa que o país criou riqueza, que é distribuída entre as empresas e pessoas.
A crise de 2020 e a Bolsa de Valores
Nem o mais pessimista investidor imaginava a turbulência que a Bolsa de Valores — e a economia brasileira — passou e ainda passa em 2020. Com previsões para o Ibovespa que beiravam os 135 mil pontos no fim do ano, o crescimento dos investidores na Bolsa de Valores demonstrava que seria mais um ano de grande avanço do mercado.
Entretanto, a chegada da pandemia impactou a economia global, e as Bolsas, como são termômetros da realidade, tombaram com o temor pela doença.
Para Rodrigo Weinberg, analista de renda variável da SUNO Research, “o mercado está colocando na conta se o governo respeitará o teto de gastos“. Os investidores estão de olho na situação fiscal do País, e a relação de sua dívida com o PIB.
“Nossa trajetória fiscal vai piorar, mas o Brasil não deve ir para extremos, não costuma ir para extremos. Aos poucos as coisas evoluem, como as mudanças no Banco Central (BC). Se a Câmara dos Deputados, de forma pragmática, for aprovando as reformas para destravar a economia, o risco fiscal vai ficando pelo caminho”, diz.
Para Henrique Esteter, da corretora Guide, a questão fiscal realmente será endereçada. Para ele, “os destaques do ano, que serão os vetores para o crescimento econômico, são a queda do desemprego e a situação fiscal, além da aprovação ou não das reformas, e se o governo vai conseguir se articular com o Congresso, sem um viés populista”.
Sem cravar nenhuma previsão sobre o desempenho da economia em 2021, nem fazer uma recomendação de investimento, o SUNO Notícias entrevistou profissionais do mercado e ouviu sobre quais podem ser os setores mais promissores na Bolsa de Valores no ano que vem. Confira!
Agronegócio
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica sido Aplicada (Ipea), o PIB do setor de agropecuária crescerá 3,2% no ano que vem. O setor pode ser puxado sobretudo por soja e milho, na parte de lavoura, além de um forte avanço da pecuária.
O segmento foi um dos menos impactados pela Covid-19, mantendo um alto nível de produção e exportação, sendo beneficiado a desvalorização do real frente ao dólar. Vale destacar o lançamento do Plano Safra, liberação de R$ 236,3 bilhões em crédito para o setor pelo Governo Federal, previsto para o ano que vem.
“O agro é o setor do Brasil que só cresce, em taxas compostas bem acima do PIB. Nesse período de crise, ainda mais com o câmbio depreciado por conta das exportações. Ainda existem oportunidades, em áreas nativas, como no Maranhão, que a produtividade por ser aumentada”, comentou Weinberg.
O analista lembra que com o passar do tempo, e o aumento populacional sobretudo nos países asiáticos, haverá maior demanda por proteínas. Os animais, por sua vez, são alimentados por soja.
Fatores como esses, dentre outros devem fazer o setor se sobressair. Ele destaca que empresas como SLC (SLCE3) e Schulz (SHUL4), que vende maquinário para o setor, estão bem posicionadas.
Para Victor Martins, da corretora Planner, “o setor agro é muito resiliente — ele vai bem em qualquer cenário”. Embora seja o terceiro fator de peso no PIB, atrás de serviços e indústria, quando a economia se destaca, o setor costuma ir melhor ainda, diz o analista.
“Neste ano tivemos um avanço em todo o setor, sobretudo um crescimento de 4,2% na área plantada, o que perfaz um aumento de 0,3% na produtividade. Em geral, todas as culturas melhoraram, como soja, milho e algodão, o que foi observado na balança comercial, em que o setor elevou sua participação”, pontua.
Ele espera que o peso do setor do agronegócio passe de cerca de 21% no PIB do ano passado, para até 25% na economia deste ano.
E-commerce
Com certeza, um dos grandes beneficiados da pandemia é o e-commerce. Segundo uma pesquisa divulgada pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) em parceria com o Movimento Compre&Confie, o faturamento do comércio eletrônico brasileiro alcançou a marca de R$ 41,92 bilhões no acumulado de janeiro a agosto.
Conforme reportado pelo Movimento Compre&Confie, o crescimento do comércio eletrônico brasileiro cresceu 56,8% no período na comparação anualizada. O número de transações cresceu 65,7% no período, embora o ticket médio tenha caído de R$ 420,78 para R$ 398,03.
Segundo Mario Mariante, analista-chefe da Planner, “o e-commerce virou a palavra de ordem dentro das empresas”. Para ele, empresa que precisa vender, e colocar o produto na mão do cliente na ponta, precisa ter um bom comércio eletrônico — e foi isso que salvou o ano de muitas companhias.
“A importância do e-commerce pôde ser observada nos últimos dois trimestres do comércio e do varejo. O setor deve continuar crescendo mesmo com a economia em baixa e o desemprego em alta”, prevê Mariante. O analista diz que o fim do coronavoucher pode trazer certo impacto para os números das empresas, mas as operações de Black Friday e Natal podem fazer com que as varejistas iniciem 2021 com o pé direito.
Esteter, da Guide, pontua que, do ponto de vista da Bolsa de Valores brasileira, vale ressaltar a operação de Magazine Luiza (MGLU3), B2W (BTOW3) e Via Varejo (VVAR3). Essas empresas são as mais bem preparadas para surfar o crescimento do e-commerce e que estão bem capitalizadas.
O analista comenta que também é importante salientar o investimento sendo realizado em logística e marketplace, o que faz com que a economia como um todo seja movimentada. “A partir do momento que existem vendas ocorrendo no site dessas companhias, não só ela se beneficia como os sellers também, atingindo comerciantes menores”.
Infraestrutura
Os analistas consultados também comentaram sobre o setor de infraestrutura no Brasil, ainda pouco desenvolvido, mas que tem grande chance de avanço em 2021.
Neste ano, mesmo com a pandemia, cerca de um terço dos empresários do setor disseram que suas companhias devem aumentar o faturamento entre 10% e 25% em comparação a 2019. Outra parte acredita que o patamar da receitas deve se manter o mesmo.
Os dados, levantados pela consultoria KPMG em agosto, também demonstram que o otimismo do empresariado do setor se mantém para 2021.
Para metade dos 91 entrevistados, haverá um aumento de 10% a 25% nas receitas, enquanto outros 16% esperam alta ainda maior.
“Os impactos da pandemia atingiram praticamente todos os setores da economia, mas a pesquisa mostra que o setor de infraestrutura conseguiu sobreviver bem à crise e que as expectativas para o ano seguinte tendem a ser otimistas”, disse Eduardo Vargas Rêdes, sócio-líder do setor na consultoria.
Weinberg, da SUNO, diz que “o planejamento estratégico do Brasil é que a gente tenha um modelo ferroviário muito mais relevante no longo prazo, beneficiando empresas como a Rumo (RAIL3), que pode vencer mais concessões”.
Sobre empresas do setor de rodovias, o analista diz sobre a importância de se olhar para companhias como CCR (CCRO3) e EcoRodovias (ECOR3), que fazem parte da expansão da malha rodoviária.
Por conta do menor investimento governamental em projetos dessa natureza, as companhias privadas tendem a ganhar notoriedade.
“Existe uma série de obras no Brasil à fora que podem beneficiar os players do setor, embora eles não estejam na Bolsa de forma muito representativa. É um setor que eu acredito que vá se destacar em 2021″, disse Mariante, da Planner.
O que esperar para a Bolsa de Valores em 2021
Para Martins, “o mercado reflete as expectativas dos investidores para a economia. É como uma bússola para a atividade econômica, e ela sempre tenta antecipar os fatos. Dito isso, nós conseguimos ver um espaço para a continuidade de melhora”.
O analista disse que, a depender do comércio mundial, principalmente como devem se desenrolar as tensões entre Estados Unidos e China com Joe Biden na presidência norte-americana, consegue enxergar o Ibovespa na casa dos 130 mil pontos no fim de 2021, embora seja difícil ser assertivo nessa previsão.
Esteter, por sua vez, diz que vislumbra mais de 50% do Ibovespa com boas perspectivas já para o início de 2021. Segundo ele, empresas muito representativas no índice, como Vale (VALE3) e frigoríficos, devem continuar apresentado resultados robustos, o que sustenta o argumento de valorização dos papéis.
“No entanto, os investidores da Bolsa de valores devem ficar em alerta sobre algumas questões, sobretudo políticas. Quanto às vacinas, pelos dados disponibilizados pelas farmacêuticas, imagino que ao longo do ano que vem já estaremos vacinados contra o coronavírus, e a atividade econômica volte a funcionar”, disse o analista da Guide.