Existem diferentes formas de operar na bolsa de valores. Com diferentes estratégias, como Value Investing, Buy and Hold, Day Trade e Long & Short, o mercado de capitais angaria cada vez mais pessoas em todo o mundo, se consolidando como um notável meio de transferências patrimoniais.
Entretanto, a bolsa de valores carrega consigo um risco inerente às suas operações, uma vez que os ativos negociados refletem, em maior ou menor grau, os acontecimentos da economia real e seus agentes. Com isso, uns menos e outros mais, como os especuladores, precisam saber lidar com o risco.
Especuladores são agentes do mercado que, através de operações de curto e médio prazo, visam o maior lucro possível. Segundo Benjamin Graham, mentor do megainvestidor Warren Buffett, em seu livro “O Investidor Inteligente”, pode ser considerado investimento “aquele que, após análise profunda, promete a segurança do principal e um retorno adequado”.
É essa a principal diferença entre um investidor e um especulador, o qual, devido ao risco que se expõe, não necessariamente têm tanto apreço pelo capital inicial.
No entanto, notáveis figuras tiveram sucesso como especuladores ao longo da história, deixando sua marca, alguns positivamente, outros de forma negativa. Confira quatro dos mais relevantes especuladores que já operaram na bolsa de valores.
Jesse Livermore
Jesse Lauriston Livermore, nascido em 1877, em Massachusetts, nos Estados Unidos, virou um ícone ao sair de casa aos 14 anos e, após quebrar quatro vezes nos seis anos seguintes, conseguir levantar uma das maiores fortunas da época na bolsa de valores.
Durante a crise de 1929, Livermore chegou a ganhar US$ 100 milhões em apenas um dia. Em valores corrigidos, o montante é equivalente a mais de US$ 8,75 bilhões (R$ 50,83 bilhões na cotação atual).
O trader tinha a estratégia de analisar os pontos de reversão e, quando o mercado atingia determinado ponto de sua análise, operava de forma contrária. Livermore fazia isso independentemente do mercado estar em um bom ou mau momento, sempre se direcionando para o lado de menor resistência.
O especulador, que chegou a ser chamado de O Urso de Wall Street, foi atribuído de ter dito a frase: “O mercado sempre está certo, a opinião das pessoas que está errada”.
No entanto, por ter um alto padrão de vida, Livermore precisou operar cada vez mais para se manter. Devido às condições do mercado na época, o day trader quebrou novamente e não conseguiu se reerguer.
Livermore cometeu suicídio no dia 28 de novembro de 1940, por motivações desconhecidas. Ele deixou dois filhos, o qual um deles publicou um livro com sua história e suas estratégias, intitulado de How to Trade in Stocks (Como Negociar Ações).
John Paulson
John Paulson, nascido em 4 de dezembro de 1955, em Nova York, nos Estados Unidos, foi um profissional do mercado financeiro, segmento o qual adentrou na década de 1980.
No entanto, foi com a criação de seu fundo de hedge Paulson & CO. que sua carreira começou a deslanchar. Após iniciar em US$ 2 milhões sob gestão, em 2004 Paulson já geria cerca de US$ 300 milhões. Mas, para ele, era pouco.
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O otimismo dos especialistas da época acerca do mercado imobiliário passou a incomodar o gestor, que decidiu apostar contra (operação short) as hipotecas subprime. Mesmo sendo por vezes criticado por analistas, instituições financeiras e até seus companheiros, Paulson foi consistente, aumentou a posição e até criou um fundo contra crédito hipotecário.
No auge da crise financeira de 2008, o primeiro fundo de Paulson havia rendido 590% em um ano, enquanto o fundo mais recente 350%. Com essas operações, Paulson ganhou mais de US$ 4 bilhões. Essa história é retratada no filme The Big Short (A Grande Aposta), lançado em 2015. Para alguns, é considerado o melhor trade da história.
Seus fundos voltaram a ter sucesso em 2010, quando, apostando na valorização do ouro, lucraram mais de US$ 5 bilhões. Hoje, como filantropo, Paulson doa recursos para centros médicos e de pesquisa.
Segundo a Forbes, em dezembro de 2017, John Paulson, possuía uma fortuna avaliada em US$ 7,8 bilhões.
George Soros
George Soros, húngaro, nascido em 12 de agosto de 1930, é famoso por suas contribuições e ativismo no mundo político. No entanto, muitos esquecem que ele deixou uma grande marca no mercado financeiro global.
Em 1969 fundou o Quantum Fund, fundo de hedge que teve uma ótima performance e rendimento anual de 30% durante 30 anos. Foi em 1992, no entanto, que Soros fez sua história como operador influente do mercado financeiro.
Após o fim da 2ª Guerra Mundial, os países europeus, ainda sem o euro — que viria ser a moeda única na União Europeia (UE) — permaneceram com suas moedas locais, apenas lastreadas umas às outras com taxas de câmbio fixas. Esse programa era chamado de Mecanismo de Taxas de Câmbio (ERM, na sigla em inglês).
À época, a Grã-Bretanha estava em recessão e, mesmo procurando baixar sua taxa de juros e controlar a inflação, combinada ao crescimento econômico, procurou entrar no ERM.
O problema era que a libra esterlina já estava demasiadamente fraca, com o Banco da Inglaterra precisando realizar muitas operações de compra e venda, regulando a oferta no mercado, para que não desvalorizasse mais. Caso acontecesse, seria necessário o aumento das taxas de juros para controlar a inflação, o que tiraria o país do ERM.
Em agosto de 1992, então, George Soros utilizou grande parte de seus recursos apostando contra a libra esterlina. Forçando uma maior desvalorização da moeda inglesa, o Banco da Inglaterra teve que subir as taxas de juros em 50%, comprar de volta 27 bilhões de libras e sair do ERM.
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O Banco da Inglaterra quebrou, enquanto Soros lucrou cerca de US$ 1,1 bilhão em apenas um dia. O dia de 16 de setembro de 1992 ficou conhecido como a Quarta-feira Negra.
Atualmente, Soros possui uma fortuna de US$ 8,3 bilhões, sendo o 162º homem mais rico do mundo, segundo a Forbes.
Naji Nahas
Naji Nahas, é, talvez, uma das figuras mais conhecidas do mercado brasileiro. O libanês, nascido em 3 de novembro de 1947, chegou a ter, sozinho, 7% das ações da Petrobras (PETR3; PETR4) e 12% da Vale (VALE3).
O operador da então bolsa de valores do Rio de Janeiro (BVRJ) ficou famoso por adotar estratégias de altíssimo risco com o patrimônio de US$ 50 milhões que herdou de sua família. Logo, o império de fábricas, fazendas, seguradoras se tornou um conglomerado multimilionário em seu nome.
No final da década de 1980, Nahas passou a ser manchete constante da mídia brasileira, por obter exagerados lucros com sua estratégia de idoneidade questionável.
A estratégia de Nahas era relativamente fácil, porém complexa de ser executada. O especulador adquiria empréstimos junto a bancos e os usava na bolsa de valores. Depois, manipulava os preços comprando mais ações.
Ele fazia isso através de novos empréstimos, os quais já pagavam os iniciais, ou por meio de operadores laranjas. Ou seja, os preços sempre iam para onde Nahas queria. Ele ficou conhecido como Dono do Mercado Futuro, quando detinha 70% dos ativos.
À época, as autoridades reguladoras do mercado começaram a perceber os golpes de Nahas e confiscaram sua carteira de ações com um patrimônio avaliado em US$ 500 milhões. Tais operações do libanês quebraram a bolsa do Rio de Janeiro, que nunca mais se recuperou e foi extinta em 2002.
Nahas chegou a ficar preso por um ano, mas foi inocentado por suas operações na bolsa de valores. O especulador chegaria a ser detido novamente em 2008, em um dos desdobramentos do Mensalão.
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