Bolsa de Valores: confira 5 das small caps mais baratas do mercado
O ano do Ibovespa tem sido de fortes altos e baixos. Em função da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o mercado brasileiro teve uma das quedas mais rápidas de sua história. De 23 de janeiro a 23 de março, o maior índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) caiu 46%, atingindo o mesmo patamar de agosto de 2017. As small caps, ativos mais voláteis do mercado, sofreram igualmente — se não, mais.
O SMLL, índice que representa as maiores small caps brasileiras, no mesmo período no início do ano caiu 51%. Desde então, a Bolsa de Valores brasileira chegou a subir 66% em uma rápida recuperação, embalada pela alta liquidez financeira dos mercados internacionais. No entanto, desde 29 de julho, o mercado já caiu cerca de 10%, com o temor dos investidores sobre a situação fiscal do Brasil.
Entretanto, em meio à essa gangorra, uma coisa não mudou: ainda existem ativos considerados “baratos”, ou seja, com alto potencial de crescimento, em que as perspectivas de longo prazo não sofreram irreversíveis mudanças pelo coronavírus.
As small caps, ações de pouca capitalização da Bolsa de Valores, podem proporcionar altos ganhos para os investidores diligentes. Isso acontece pois normalmente são mal precificadas pelos agentes da Bolsa. No entanto, da mesma forma como em momentos de alta, em épocas de queda os papéis podem despencar mais do que a média do mercado.
Assim, algumas small caps ainda não se recuperaram da brusca queda do início do ano, e ainda operam em patamares baixos em relação ao seu histórico. Basedo nisso, o SUNO Notícias compilou cinco das small caps mais “em conta” do mercado, sob o prisma de diferentes forma de precificação, com comentários do especialista em renda variável da SUNO Research, Evandro Medeiros. Confira quais são!
Banrisul
O Banrisul (BRSR6) foi fundado em 1928 com o um banco público de crédito rural e hipotecário. Desde então, e sempre como instituição estatal, a companhia iniciou um processo de expansão com a abertura de agências em diversos municípios do estado, até se tornar banco múltiplo em 1990.
Hoje, o banco possui um portfólio amplo de serviços como depósitos à vista e a prazo, concessão de crédito, seguridade, meios de pagamento, operações de câmbio, corretagem de valores mobiliários e administração de fundos de investimento. O Banrisul é líder de mercado no Rio Grande do Sul, com 48,1% do market share, estando presente em 90% dos municípios daquele estado.
O fato de ser uma instituição estatal levanta o sinal de alerta do mercado pois conflitos com controladores desta natureza são comuns. O governo do Rio Grande do Sul, por exemplo, já utilizou o Banrisul para aumentar sua arrecadação. Em 2016, o estado decidiu cobrar do banco uma outorga de R$ 1,25 bilhão — que já havia sido paga — para arcar com os custos com pessoal. Este contrato vale até 2026.
Além disso, a situação econômica do Rio Grande do Sul, embora não seja comparável a de outros estados, não é da mais confortáveis. Segundo a Lei Orçamentária anual de 2021, enviada pelo governador Eduardo Leite, o estado deve registrar um déficit público de R$ 8,09 bilhões no ano que vem.
Entretanto, para Medeiros, o maior fator que faz com que as ações do Banrisul estejam “emperradas” na Bolsa de Valores é a precificação de um cenário catastrófico para os bancos tradicionais no Brasil.
“É inegável que existam desafios para os bancos tradicionais, as fintechs têm entregue bastante crescimento e isso deve afetar as receitas de serviços do banco. No lado do crédito, a inadimplência pode crescer ao longo dos próximos trimestres, mas não foi observado até agora. As limitações impostas ao setor pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) na distribuição de proventos e recompra também têm pressionado as cotações”, disse o especialista.
“O Banrisul tem uma capilaridade enorme no interior do Rio Grande do Sul, onde em algumas cidades os bancos digitais devem tardar mais a chegar. Os planos de demissão voluntária começarão a surtir efeito e o há muito espaço para reduzir agências e cortar custos”, comenta.
Medeiros diz que o banco negocia muito abaixo do seu Preço/Valor Patrimonial histórico, atualmente em cerca de 0,61 vez, transformando-o em um dos ativos mais baratos da Bolsa de Valores.
Light
A Light (LIGT3) é uma companhia do setor de energia elétrica que opera com foco no Rio de Janeiro. A empresa atua nas três vertentes do segmento: geração, distribuição e comercialização de energia. A companhia é uma das centenárias do Brasil, tendo iniciado suas atividades em julho de 1899, quando um grupo de canadenses criou a The São Paulo Tramway.
A partir de então, a companhia — então Rio Light S.A. — foi vendida à Eletrobras (ELET3), em 1979. O processo inverso aconteceu quando a empresa foi (re) privatizada no fim da década de 1990, quando o controle da empresa passou a ser compartilhado pela CSN (CSNA3), a francesa EDP e as norte-americanas AES Corp. e Reliant Energy.
A oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da empresa aconteceu em 2005. Os resultados da companhia, desde então, têm apresentado alta volatilidade. As decisões questionáveis de controladores fizeram com que a empresa entrasse em um turnaround para recuperar sua trajetória de crescimento. Enquanto isso, a concessão da distribuição no Rio de Janeiro acabará em 2026, fazendo com que a nova gestão esteja focada em equalizar esse risco.
A atribuição da Light como small cap se dá justamente pelos problemas que passou nos últimos anos. Se olharmos no top line da empresa, ou seja, seu faturamento, ela não se encaixaria como uma das menores companhias da Bolsa, mas seu valor de mercado é de somente R$ 4,4 bilhões. “Suas perdas técnicas e não técnicas são bastante altas, embora o management novo tenha conseguido reduzi-las em certa medida”, comentou Medeiros.
Para ele, a Light é um caso de maior risco, com sua alavancagem financeira, dada pela relação entre dívida líquida/Ebitda, de 5 vezes. Além disso, a principal atividade da empresa, a distribuição de energia, “é o elo mais fraco da cadeia do setor elétrico”. O fato da empresa operar majoritariamente no Rio de Janeiro, que é um estado com uma situação fiscal bastante delicada, também mostra-se ser um risco.
Em função desses fatores, a Light negocia a 0,69 vezes seu valor patrimonial e a uma relação Preço/Lucro de 3,6, influenciado por ganho não recorrente de créditos fiscais que inflou seus resultados. Seu EV/EBITDA dos últimos 12 meses é de 5,8, também abaixo de seus competidores.
“Caso ela consiga implementar seu turnaround, sua precificação será muito mais elevada”, justificou o especialista, ao dizer que “considera a gestão atual muito competente”, embora haja muito trabalho a ser feito.
Sanepar
A Companhia de Saneamento do Paraná, também conhecida como Sanepar (SAPR4), é uma empresa de capital misto, controlada pelo estado do Paraná. Fundada em 1960, atualmente a companhia emprega mais de 7 mil funcionários e possui mais de 86 mil quilômetros de tubulações, entre distribuição de água potável e rede de esgoto.
Além de suas atividades com saneamento, a companhia, em 2014, criou a CS Bioenergia S.A. e acessou um novo tipo de mercado. Junto à empresa Cattalini, a companhia produzirá energia a partir dos resíduos gerados pela Estação de Tratamento de Esgoto Belém, em Curitiba.
A Senepar pode ser considerada uma das poucas impactadas pelo momento mais crítico da pandemia, uma vez que no segundo trimestre deste ano, período mais abrangente das medidas de contenção à doença, elevou em 22,3% seu lucro líquido, atingindo R$ 284,4 milhões. A receita líquida cresceu 4,6%, para R$ 1,15 bilhão, enquanto os custos e despesas operacionais recuaram 1,7%, para R$ 767,4 milhões.
Além disso, recentemente a companhia aderiu ao programa “Restaurar as populações da flora ameaçadas de extinção do bioma mata atlântica no Estado de Santa Catarina”, fazendo com que uma multa ambiental (AIA) no valor total de R$ 47,4 milhões fosse 60% abatida, “salvando” R$ 28,4 milhões.
Para Medeiros, “a Sanepar faz parte de um setor altamente previsível e estável”. No entanto, não é uma empresa livre de riscos — um deles é a certa falta de flexibilidade. No mês passado, a Agência Reguladora do Paraná (Agepar) decidiu reverter o ajuste tarifário de 9,6% da empresa. O especialista destaca que, mesmo em meio à ingerências do estado paranaense em suas operações, o Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) da empresa permanece acima de 13% nos últimos anos, o que é um patamar relevante.
“É uma forte geradora de caixa e pagadora de dividendos“, relembra Medeiros. Ademais, ações preferenciais da empresa são descontadas frente às Units e ordinárias. Atualmente, os papéis da companhia negociam a cerca de 1,25 vezes seu book value, e a um Preço/Lucro de 6,93.
O especialista comenta que a Bolsa de Valores — não só a brasileira — tem priorizado empresas de alto crescimento e esquecido de players com negócios menos chamativos, como que é o caso da Sanepar. “Nesses preços, é uma excelente empresa a se analisar, mesmo considerando seus riscos”, disse.
Jereissati
O Grupo Jereissati (JPSA3) é uma companhia que teve sua origem no comércio têxtil, no Ceará, até comprar a Companhia Imobiliária Jereissati, em 1946. Desde então, a empresa já atuou em vários ramos da economia, como o metalúrgico e de telecomunicações.
Atualmente, a companhia possui uma expressiva participação no setor de shopping centers, segmento para onde volta seus esforços. Essa vertente em seus negócios remonta a 1996, quando a Jereissati Participações traçou planos de crescimento com a exploração de atividades comerciais e planejamento de shopping centers, e o objetivo seria conduzido por uma controlada direta, a Iguatemi (IGTA3).
A Iguatemi é uma das principais empresas full-service de shopping centers do Brasil, sobretudo em termos de Área Bruta Locada (ABL). A companhia detém participação em 17 shoppings — 15 estão sob sua administração –, dois outlets e três prédios comerciais.
E essa é a tese de investimento na Jereissati, “que é uma maneira mais barata de se expor aos ativos da Iguatemi”, conforme aponta Medeiros. No entanto, o setor está sob o questionamento de diversos investidores e consumidores. Muitos alegam que o “novo normal” pode impactar fortemente as atividades comerciais dessa natureza.
Segundo um estudo da EY-Parthenon realizado ao longo do mês de maio, período ainda muito influenciado pela pandemia, mas já com o início das reaberturas, 31,04% iriam para o shopping majoritariamente para realizar compras, enquanto 32,89% iam para alimentação. A pesquisa foi realizada junto a mais de mil pessoas de diferentes classes socias e em diversas localidades do País.
Ambas as duas categorias, as de maior percepção no estudo, possuem outras alternativas, como o e-commerce e aplicativos de delivery de alimentos.
Entretanto, como aponta o especialista, os shopping centers do Iguatemi “são excelentes, em localizações premium e devem ter um papel importante no crescimento do e-commerce. Estes ativos podem servir como centros de distribuição last-mile, num País com sérias deficiências logísticas”.
Alguns reticentes com o setor dizem que, a exemplo dos Estados Unidos, os shopping centers “deixarão de existir” no longo prazo. Para Medeiros, a comparação é equivocada. “Aqui no Brasil, os shoppings são oásis de segurança em meio ao caos e violência urbana. O mix de lojas e serviços está se adaptando às novas demandas. As lojas que perderem espaço para o e-commerce serão substituídas por serviços essencialmente presenciais, como academias, que se tornam cada vez mais populares em shoppings.”
A Jereissati detém 50,78% do capital social da Iguatemi, o que a torna controladora, com uma participação equivalente a R$ 2,91 bilhões. O valor de mercado da Jereissati na Bolsa de Valores, no entanto, é de R$ 1,93 bilhão, perfazendo um desconto de aproximadamente 34,4% frente ao valor de seus ativos.
BR Properties
No mesmo sentido, uma empresa para se manter no radar é a BR Properties (BRPR3). A companhia é uma das principais do Brasil no investimento em imóveis comerciais de renda. O foco da empresa é voltado à aquisição, locação, administração, incorporação e venda de imóveis, sobretudo imóveis qualificados como escritórios.
O mercado está cético quanto à demanda por lajes corporativas, dada a força que home office ganhou durante a pandemia. Entretanto, “o segmento corporativo de alto padrão, especialmente em São Paulo, carece de oferta de novos imóveis. O plano diretor de São Paulo tornou-se ainda mais rígido nos últimos anos, o que dificulta a construção em certas áreas da cidade, restringindo a oferta de imóveis”, salienta Medeiros.
Em função dessa percepção coletiva, a companhia negocia a um preço consideravelmente abaixo de seu valor patrimonial. No balanço, as propriedades para investimento estão registradas a R$ 7,06 bilhões, enquanto o enterprise value, ou seja, seu valor de mercado somado à sua dívida líquida, é de R$ 5,03 bilhões, montante quase 30% menor.
A BR Properties possui uma posição de caixa robusta, tendo encerrado o segundo trimestre em R$ 1,14 bilhão, mais R$ 105,88 milhões em aplicações financeiras. A dívida líquida de curto prazo é de apenas R$ 106 milhões. “Se trata de uma estrutura de capital confortável para perdurar a crise”, comenta o especialista.
“O retorno aos escritórios gradual deve revigorar a demanda, fazendo com que vejamos preços por m² superiores ao que os agentes do mercado precificam no valuation de BR Properties e outras empresas do segmento.” Vale ressaltar que a empresa recomprou 1,6 milhão de ações em agosto.
A análise realizada nesta matéria não representa uma recomendação de investimento. Para escolher as melhores ações da Bolsa de Valores, o investidor tem de ser diligente e ter o longo prazo como aliado — e a SUNO Research pode ajudar.