Bolsa da Argentina dispara mais de 120% em um ano; ainda vale a pena investir?
O S&P MERVAL, principal índice acionário da bolsa da Argentina, acumula uma variação positiva de mais de 124% nos últimos doze meses. Apesar do bom momento, a volatilidade do mercado e as preocupações com o cenário econômico argentino ainda assustam muitos investidores, que se questionam se realmente vale a pena investir no país.
Em outubro deste ano, a inflação da Argentina ficou em 2,7%, resultado mensal mais baixo desde 2021. No acumulado de 12 meses, o aumento dos preços chegou a 193%.
A desaceleração da alta dos preços não é o único dado expressivo no país latino-americano neste ano. Em junho, a Argentina registrou, pela primeira vez desde 2008, um semestre com superávit financeiro, em meio aos severos ajustes fiscais realizados pelo presidente argentino Javier Milei.
Em contrapartida, o número de argentinos que vivem abaixo da linha da pobreza disparou no primeiro semestre deste ano e chegou a 15,7 milhões de pessoas, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos argentino (Indec). Isso significa que mais da metade da população do país (52,9%) está em situação de pobreza. No segundo semestre do ano passado, o número era de 41,7%.
Em meio ao aumento da pobreza, a economia do país também sofreu impactos. O Produto Interno Bruto (PIB) afundou 3,4% durante o primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2023, em meio a uma série de políticas de corte de gastos e ajustes de contas públicas.
Vale a pena investir na Argentina?
Apesar do contexto conturbado, o Global X MSCI Argentina ETF (ARGT), fundo de índice que acompanha ações argentinas, registrou uma captação recorde em novembro deste ano. O cenário reflete as perspectivas positivas de parte dos investidores em relação à bolsa argentina.
“Até agora, a Argentina assemelhava-se a uma criança que dizia ‘estou muito ocupado fazendo as coisas que não preciso de fazer, para evitar fazer tudo o que devia fazer’, esquivando-se assim das suas responsabilidades essenciais. No entanto, o país começou finalmente a concentrar-se no que é necessário, abandonando as atividades supérfluas. Esta transformação foi claramente percebida pelos mercados de capitais, que deixaram de ver a Argentina como aquela criança mal educada”, explica Alex Fuste, economista-chefe do Andbank.
De acordo com o economista, investir em ativos argentinos pode ser uma oportunidade atrativa no momento, mesmo após a forte valorização dos papéis neste ano. Isso porque as políticas de cortes de gastos e ajustes fiscais são bem recebidas pelo mercado, o que reflete na confiança dos investidores e na entrada de capital no país.
“O compromisso do presidente Milei de não utilizar a política monetária e orçamental para fins eleitorais envia um sinal forte aos mercados de capitais. Essa linguagem gera confiança nos investidores, que recompensam essa coerência com maiores entradas de capital, custos de financiamento mais baixos, uma moeda local mais forte e, por consequência, um controle inflacionário ainda mais robusto”, destaca ele.
Ainda segundo ele, alguns setores podem se destacar em meio a este contexto, como gás e petróleo, agronegócio e consumo.
“A meu ver, o setor de gás e petróleo é um dos mais favorecidos pelo novo Regime de Incentivos aos Grandes Investimentos (ou RIGI), bem como o setor agrícola, como dois dos mais beneficiados pela desregulamentação, pela redução dos direitos de exportação e pela eliminação das taxas de câmbio paralelas com que tinham de liquidar os dólares recebidos no estrangeiro. Os setores importadores (comércio e consumo) serão também os mais favorecidos pela eliminação do imposto de importação”, finaliza Fuste sobre investimentos na bolsa argentina.