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Volatilidade abre apetite de empresas para recompra de ações

Ativa corta estimativa para Ibovespa ao fim de 2022 para 117 mil

Sede - Foto: Divulgação B3

A deterioração das condições de mercado e a expectativa de crescimento do lucros corporativos futuros aumentaram a preferência de companhias listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) pelos próprios papéis. Desde setembro, quando o Ibovespa experimentou uma derrocada vertiginosa, companhias encontraram em programas de recompra de ações um destino para o caixa.

A prática consiste na aquisição de ativos da emissão da própria empresa, que pode custodiá-los em tesouraria ou cancelá-los futuramente. A recompra de ações é realizada normalmente em situações de estresse de mercado, quando as cotações estão depreciadas. Isto pois com a absorção de parte dos papéis em circulação, o investidor passa a ter uma fatia superior da empresa em mãos, o que refletirá na participação nos lucros no futuro.

Recentemente a JBS (JBSS3) veio a mercado anunciar a abertura de mais um programa de recompra, caminho seguido pela Natura (NTCO3). Conforme levantamento no site da B3 (B3SA3), até sexta-feira (12), os programas de aquisição de ações em andamento totalizavam 64.

Em 15 de outubro último, a Hapvida (HAPV3) aprovou um programa de recompra de ações, para adquirir, dentro de um prazo de 18 meses, até 100 milhões de ações ordinárias de emissão da companhia. As informações constam em fato relevante divulgado na noite de sexta-feira (15).

O programa de recompra de ações da Hapvida deve se encerrar até o dia 15 de abril de 2023. A operação será realizada na B3 (B3SA3), pelo preço de mercado do papel.

A operação será intermediada pelo Bradesco (BBDC4), Itaú (ITUB4) e pela XP. A Hapvida informa que possui 1,316 bilhão de ações em circulação no mercado.

O programa de recompra de ações foi a forma que a empresa encontrou para tentar reverter parte das perdas acumuladas do ano. De janeiro até o pregão de sexta (15), as ações da Hapvida acumulam 14,59% de perdas

A BRF (BRFS3) anunciou em 30 de setembro um programa de recompra de até aproximadamente 3,69 milhões de ações ordinárias. A empresa possui atualmente 808,3 milhões em circulação.

A BRF deu 18 meses como prazo máximo para a compra, a partir de 1º de outubro. O período se estenderá até 1º de abril de 2023.

De acordo com o analista-chefe da Planner Corretora, Mario Mariante, o salto no número de empresas que abriram programas de recompra de ações se deveu à desvalorização dos papéis da Bolsa e à expectativa de resultados futuros.

“A bolsa em queda por fatores principalmente conjunturais não necessariamente vão penalizar os setores no médio prazo. Isso acaba pesando sobre papéis de empresas sólidas e com histórico de bons resultados e perenidade. Ou seja, quando passar o momento mais agudo da crise, os ganhos deverão ser significativos”, explicou Mariante.

Combo de payout estável e recompra de ações beneficia acionista

Em vista disso, Rodrigo Crespi, da Guide Investimentos, apontou que um programa de recompra atrativo demanda primeiramente uma posição de caixa confortável para a companhia e uma ação negociando abaixo do valor justo. O especialista de mercado afirmou que o buyback combinado a um payout (porcentagem do lucro distribuído em proventos) estável tende elevar o dividendo por ação.

Segundo Crespi, essa é uma tendência global, que deve avançar no Brasil conforme acontece o financial deepening. A possível aprovação da reforma do Imposto de Renda — hoje congelada no Senado — poderia acelerar a mudança, com a tributação de dividendos e extinção dos juros sobre capital próprio (JCP).

O Magazine Luiza (MGLU3) enxergou o momento de mercado e aproveitou para ir às compras. A varejista esgotou o programa de recompra de até 40 milhões de ações iniciado em agosto, informou o diretor financeiro e de relações com investidores da varejista, Roberto Bellissimo Rodrigues, à imprensa. O término do programa estava previsto para fevereiro de 2023.

O CEO do Magazine Luiza Frederico Trajano diz que a recompra de ações nada tem a ver com segurar as recentes desvalorizações amargadas pelo papel da companhia. Antes, o programa serve para funções específicas, embora a varejista tenha aproveitado o momento de baixa no mercado para abri-lo.

Incertezas favorecem abertura de programas de recompra

Na avaliação de Gustavo Akamine, analista da Constância Investimentos, a piora das perspectivas futuras, com projeções mais elevadas de inflação e da taxa básica de juros (Selic), deve alterar o modo como os gestores enxergam o emprego do capital.

“Considerando uma empresa que tinha projetos de crescimento que foram afetados pela nova conjuntura e pelo novo custo de capital e cuja ação caiu muito, uma alternativa é recomprar ações”, afirmou.

Na visão de Akamine, a expectativa é de que, com o cenário de mercado enfraquecido, a recompra de ações fará sentido especialmente caso os múltiplos — como o de preço sobre valor patrimonial (P/VP) — dos papéis esteja baixo.

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