Boleto agora é ‘cringe’: novos hábitos desafiam o setor financeiro

O termo “cringe” — cujo significado traduz um sentimento de aversão e vergonha alheia — ganhou espaço nas redes sociais em meio a um confronto geracional. Na lista de itens considerados cafonas, além de calça jeans skinny e café expresso, jovens rechaçam o pagamento em boleto, sinalizando os desafios que tem enfrentado o setor financeiro.

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As buscas no Google por “cringe” dispararam nas últimas horas, enquanto a Geração Z —  pessoas nascidas entre a segunda metade dos anos 1990 e o início do ano 2010 — taxavam os hábitos de millennials — nascidos do início dos anos 1980 até meados da década de 1990.

Os comentários são o reflexo de uma geração criada no olho do furacão de uma revolução tecnológica. Boletos, agências e casas lotéricas deixam de fazer sentido. O apontamento veio direto da fonte.

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Enquanto a regra nas redes foi a desqualificação desse público, Andreia Fernanda, economista e educadora financeira, explicou que a nova geração tem uma visão diferente, com valores distintos das anteriores. “Tem acesso a um mercado, um linguajar e uma forma de olhar para a vida diferente do que tínhamos. Nasceu conectada, olha a praticidade e sustentabilidade,” ponderou.

Neste embate, novas nomenclaturas começam a ganhar espaço. Não se paga boleto, mas se fala em fatura do cartão e cashback. E por que não uma transferência via Pix ou deixar no débito automático?

Crescimento do PIX mostra novo cenário

A título de exemplo, a utilização do serviço de pagamentos instantâneos do Banco Central (BC) superou a de meios “cringes”, incluindo DOC, TED e boleto bancário, de acordo com relatório da autoridade monetária. Entre novembro de 2020 e março de 2021, foram efetuadas 1 bilhão de transações por Pix, em um total de R$ 787,2 bilhões.

A chegada de pagamentos instantâneos, tendo com pivô o Pix, levou a uma desmaterialização do pagamento, explicou Rafael Durer, consultor de varejo financeiro. O especialista deu razão ao público jovem: boleto é mesmo “cringe”.

“Acredito que, daqui a 10 anos, o dinheiro, que representa hoje cerca de 30% das formas de pagamento, cairá pela metade. O Pix irá para em torno de 20%. E outros, incluindo boleto e cheque, chegará entre 1% e 2%. Não faz mais sentido,” disse Durer.

Boleto agora é 'cringe': Novos hábitos desafiam o setor financeiro
Fonte: Abecs, Banco Central, IBGE

A próprio lançamento do sistema de pagamentos instantâneos pelo BC serviu para estimular a competição e, concomitantemente, a inovação. Levá-las além de grandes bancos, como os tradicionais Itaú Unibanco (ITUB4), Caixa Econômica Federal, Bradesco (BBDC3), Banco do Brasil (BBAS3) e Santander (SANB11).

A corrida pelo ouro

Em relatório de abril, os analistas da XP Investimentos Marcel Campos e Matheus Odaguil se debruçaram sobre a investida de players disruptivos para levar um pedaço do setor financeiro no Brasil, desde segmentos tradicionais e regulados, como o crédito consignado, até o já transformado mercado de adquirência.

No setor bancário, os holofotes refletem a coroa do Nubank, que superou a marca de 40 milhões de clientes, dos quais muitos são jovens. Não à toa, a fintech trouxe para dentro uma figura como Anitta, cuja influência é forte entre jovens.

Mas a empresa do cartão roxinho não compete sozinha. Ao lado, aparece a do cartão laranja: o Inter (BIDI11). Os bancos afastam a ideia de um serviço em agência. Apostam antes no aplicativo, o qual oferece ao cliente a praticidade de encontrar desde seguros até investimentos, além do pagamento de faturas.

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Diante do barulho, os incumbentes mostraram não pretender ficar parados. O Itaú, líder do mercado de emissão de cartões, lançou ontem uma campanha com a proposta de indicar que nem todo pedaço de plástico é igual. Para reforçar a posição de liderança, o banco apostou em uma estratégia de mídia apoiada no uso de inteligência artificial e machine learning.

Do outro lado da rua, o Bradesco briga com sua própria fintech: o Next. Enquanto se prepara para a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), o banco digital oferece R$ 10 ao cliente por cada indivíduo indicado que abrir conta.

Segundo a economista e educadora financeira Andreia Fernanda o mercado financeiro certamente será impactado pelos novos hábitos geracionais. “Precisa estar em movimento.” Deixar para trás o “cringe“.

(Colaborou Natalia Gómez)

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Arthur Guimarães

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