A dinâmica de projeções para a inflação e os juros fica no radar do mercado nesta segunda-feira (13), com a divulgação do boletim Focus pelo Banco Central (BC).
Até a divulgação da semana passada, na segunda-feira (6), as projeções do boletim Focus eram estáveis. Nesta semana, vemos o reflexo das discussões envolvendo a autonomia do Banco Central e a pressão do governo, que tem feito críticas mais duras sobre os juros elevados. É o que avalia Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, em entrevista ao Suno Notícias.
“Falta clareza. O ponto principal que tem afetado as expectativas dos agentes é a falta de clareza. Após esses 50 dias de governo, ainda não sabemos qual Brasil teremos em três ou quatro anos”, avalia Sung. “Quais serão as diretrizes tributárias, qual será a nova âncora fiscal? Essas questões se refletem no Boletim Focus, que traz projeções para a inflação em 5,79% ao final de 2023.”
As expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) são elevadas há nove semanas consecutivas no agregado do boletim Focus. “As projeções sobem marginalmente, mas seguem em alta. Isso mostra que o processo de desinflação será mais difícil do que o esperado. Aumento de gastos, choques, ruídos políticos, um câmbio mais elevado: tudo isso corrobora para uma dificuldade na ancoragem das expectativas”, comenta o especialista.
Assim como já é observado no boletim Focus, os juros devem demorar a cair. Se o processo inflacionário for persistente, como as expectativas já mostram, pode significar que as projeções não estão ancoradas às metas.
A perspectiva é de que o ano de 2023 se encerre com a taxa básica de juros (Selic) em 12,75% ao ano. Hoje, a Selic se encontra em 13,75%.
Isso pode significar juros mais altos por mais tempo. “O BC terá de tomar atitudes difíceis e ressaltar em seu discurso que não gosta disso”, diz Sung.
“Agora, espera-se que, com maiores sinais e planos apresentados pelo governo, a situação se defina com maior clareza, de maneira otimista ou pessimista”, aponta o economista-chefe em leitura do boletim Focus.
Boletim Focus: Mercado espera mais inflação neste e no próximo ano
O Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (13) mostra pela primeira vez no ano um aumento na expectativa com a taxa básica de juros, a Selic. A projeção do mercado financeiro é de que feche o ano de 2023 em 12,75%.
Anteriormente, na última edição do Boletim Focus, a projeção para a Selic era de 12,50%.
A nova projeção fica abaixo da taxa Selic atual, que está em 13,75% após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que optou pela manutenção dos juros em 1º de fevereiro.
Para 2024, a expectativa do mercado é de que os juros fiquem em 10%, sendo a segunda semana consecutiva em que as projeções para o ano em questão foram elevadas. Até então, o consenso era de que 2024 não teria mais juros de dois dígitos, já que as projeções anteriores eram de 9,5% e de 9,75%.
Além disso, pela nona vez consecutiva foram elevadas as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano, sendo agora de 5,79%.
No Produto Interno Bruto (PIB), as projeções foram cortadas para 2023 e mantidas para 2024.
Por fim, o Boletim Focus manteve as projeções do dólar para 2023 e 2024.