BNP Paribas: “É muito difícil imaginar um cenário positivo de crescimento no Brasil”
O BNP Paribas projeta um ambiente desafiador para a economia brasileira nos próximos anos. Nesta quarta (23), o banco afirmou que “é muito difícil imaginar” um cenário positivo de crescimento, por causa do ambiente global e da política local, com discussões sobre o risco fiscal desde a transição até o próximo governo, sob o comando de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Com o cenário global, fica muito difícil imaginar um quadro positivo de crescimento, com números muito robustos para Brasil. Esses últimos trimestres foram relativamente positivos, mas, quando olho para a frente, é um número que ou é zero ou é negativo. É o resultado da combinação de fatores globais com a nossa própria política monetária“, destaca Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para a América Latina do BNP Paribas, durante apresentação à imprensa em que a Suno Notícias esteve presente.
O especialista diz que o BNP Paribas enxerga que o mundo estará com uma “sensação de recessão” no próximo ano.
No Brasil, a expectativa é de que a inflação ficará próxima da meta somente a partir de 2024, com projeção de 5,5%. No ano seguinte, o número previsto é de 4%. “É uma desaceleração um pouco mais gradual”, analisa.
No PIB (Produto Interno Bruto), a projeção é de que o resultado seja negativo em 2023, e que a recuperação apareça em 2024.
“Quando a gente olha para a frente, antevemos uma desaceleração. No Brasil, temos 0,5% para o ano que vem. Um dos componentes é a nossa percepção doméstica, de que o fiscal pode ser robusto no curto prazo. Por outro lado, no mundo, é muito diferente e traz esse crescimento para baixo. Se olho só eventos globais, esse 0,5% deveria ser mais próximo de zero ou até negativo, mas alguns eventos domésticos de curtíssimo prazo podem acabar ajudando a evitar esse número negativo”, ressalta.
BNP Paribas tem preocupação com tema fiscal
“Quando pensamos no tema fiscal, é importante lembrar que temos uma dinâmica técnica e política por trás do processo. Executivo é muito forte, o risco é esse balanço de forças que vamos ver a partir do ano que vem”, alerta Arruda.
Nas últimas semanas, as propostas relacionadas ao teto de gastos provocaram temor nos agentes econômicos. Questionado pela reportagem, o economista afirma que o ponto principal da questão é o que não está sendo discutido: o lado da receita.
“Uma das coisas que tiramos do processo eleitoral, dos dois lados da disputa que ficou para trás, é que existia uma perspectiva de aumento de gastos. O Lula e a coalizão que o elegeu não escondiam que existia um encaminhamento para o aumento de impostos. O mais óbvio, que os dois lados falavam, era reduzir os dividendos das estatais, uma discussão que vai voltar com força no começo do ano que vem”, detalha.
Mas meu ponto é anterior. A gente não discutiu esse assunto. Discutimos gastos como se as receitas estivessem equacionadas, e o movimento de mercado foi muito uma resposta. Se a gente não discute o aumento de receitas, começamos a ter uma preocupação muito maior.
“A PEC de Transição discute sobre um ano. Procura enquadrar a transição no que ela é. Aí, quando começar, senta-se na mesa e discute como é essa âncora fiscal. Se você não gosta do teto, propõe outra coisa, mas tem que ter equilíbrio. Isso explica todo esse movimento de reação do mercado”, complementa.