O futuro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) também está em jogo nessas eleições. O banco, criado em 1952, é uma importante fonte de recursos para empresas. Durante os governos Lula, de 2003 a 2010, o órgão de fomento implementou a estratégia de “campeões nacionais”, que visava investir em grandes empresas e torná-las players mundiais.
A política de investimento se deu até o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, e nos anos recentes o BNDES passou por um enxugamento.
O que o resultado das eleições presidenciais pode indicar para uma das maiores instituições de investimentos do país?
Ao longo dos anos, esta estratégia adotada pelos governos petistas foi criticada porque as empresas que receberam investimento já tinham capital e um dos objetivos deveria ser alcançar as de pequeno e médio portes.
Gustavo Montezano, atual presidente do banco e aliado de Jair Bolsonaro (PL), tem se posicionado a favor de usar o dinheiro do BNDES para conceder crédito a pequenas e médias empresas, sob o conceito de ‘heróis nacionais’, em oposição ao que foi feito nos governos petistas.
No governo Bolsonaro, o banco público sofreu com pressões sobre a sua atividade. De acordo com o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ernani Torres, há um encolhimento do BNDES, que pode ser observado nos desembolsos de operações de créditos anuais.
“A redução entre 2015 e 2021 foi da ordem de 85% em termos reais. O lucro não foi impactado por causa das volumosas vendas de participações acionárias a preços bons, como Petrobras (PETR4), Eletrobras (ELET3) e outras”, afirma.
Para o professor, retomar a estratégia antiga dos governos do PT não seria uma boa opção. “O BNDES vai ter um papel de suportar investimentos, desde pequenas e médias empresas, passando por infraestrutura, coisas mais longas, taxas mais competitivas. Vai ser um erro você voltar ao que foi na época da Dilma, em particular”, afirma, ressaltando a estratégia dos ‘campeões nacionais’.
Lula já tem dito, porém, que em um eventual governo não pretende repetir a prática, mas, sim, focar em pequenas e médias empresas.
O economista afirma, por outro lado, que é necessário atuar junto com o mercado de capitais para financiar as grandes empresas. “Tem uma atuação do BNDES para pequenas empresas, mas é preciso assegurar o mercado de capitais com grandes empresas”.
Em sua avaliação, não se pode especializar um banco do tamanho do BNDES em pequenas e médias empresas. “Precisa estimular o investimento e a melhor oportunidade de fazer isso é pelo mercado de capitais. É necessário reposicionar o Brasil.”
Questionado sobre como o mercado pode ver a movimentação política em torno do BNDES, o professor afirma haver uma indiferença. “De uma maneira geral, o mercado não tem sentido muita falta do BNDES porque o nível de investimento na economia está muito baixo. Então, ficar do jeito que está parece que é a opção mais comum.”
O que os programas de governo falam sobre o BNDES?
Lula já afirmou que não pretende retomar a estratégia usada durante o seu governo.
Em seu programa de governo, o presidenciável diz que pretende fortalecer “os bancos públicos – como Banco do Brasil (BBAS3), Caixa Econômica Federal, BNDES, BNB, BASA e a FINEP – em sua missão de fomento ao desenvolvimento econômico, social e ambiental e na oferta de crédito a longo prazo e garantias em projetos estruturantes, compromissados com a sustentabilidade financeira dessas operações”.
No entanto, não há detalhes sobre a forma como será feito o fortalecimento.
Já Simone Tebet destaca que o governo terá concessões e privatizações, com participação do banco. “Restaurar a função do BNDES no fomento ao emprego e na coordenação do Programa Nacional de Desestatização e reforçar sua atuação na prestação serviços a estados e municípios em concessões de serviços públicos, com a extinção da atual Secretaria de Desestatização.”
O documento também afirma que, em um eventual governo da emedebista, haverá reforço no “apoio a pequenas e médias empresas, de tecnologia e toda a economia de baixo carbono”.
O plano de governo do pedetista Ciro Gomes não cita propostas para o BNDES, assim como o do presidente Jair Bolsonaro, do PL.
(Reportagem de Igor Soares)