BlackRock: Diretor vê diversificação global como proteção mais eficaz de carteira em um cenário turbulento

Com um cenário de tensão inflacionária, risco fiscal em Brasília e uma possível taxação de dividendos no radar, o diretor da BlackRock Brasil (companhia de investimentos que possui cerca de US$ 9,4 trilhões sob gestão), Cristiano Castro, defende – em entrevista exclusiva ao Suno Notícias – que uma carteira com diversificação global se mostra ainda mais essencial.

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O panorama de investimentos no exterior, além de mais rentável na maioria das vezes, é a melhor e mais eficaz proteção da carteira em tempos turbulentos. Para Castro, a diversidade de ativos em fundos como o Dynamic High Income, da BlackRock, pode servir como uma escolha sustentável de longo prazo em momentos de incerteza.

Com yield médio de 6,8% (média histórica), o fundo prevê rendimentos passivos atrelados a essa rentabilidade – o que pode ser incomum para alguns investidores que aportam em fundos de ações mais tradicionais.

“O jeito mais fácil é entender o termo income como ‘renda’, que é semelhante ao salário: “pinga” com um certo padrão. Aqui é a mesma coisa, nós pensamos no fluxo de caixa de vários ativos que vão pagar diferentes tipos de renda”, explica.

Castro diz que a exposição internacional proporcionada pode funcionar como uma proteção em relação ao cenário macroeconômico instável, mantendo uma parcela do risco desatrelado de quedas nos indicadores do mercado brasileiro.

Abaixo, você confere a entrevista completa com Castro. Ele revela também qual a visão ampla da BlackRock para o mercado global nos próximos meses e as outras atratividades de produtos vinculados à renda passiva.

Os investimentos que visam rendimento passivo, como income, tendem a ser mais populares com investidores que visam ampliar renda em detrimento de multiplicar patrimônio. Com esse esforço do mercado em “amadurecer” quem está entrando na bolsa nessa última leva de CPFs, o senhor vê esse tipo de ativo como mais promissor?

Vemos dois ângulos. O instrumento listado em bolsa, como o ETF, acaba tornando fácil para o investidor conseguir esse acesso. A grande dificuldade relacionado ao income é o que fica por trás da estratégia.

O cliente às vezes não entende o que é income e não vê o retorno do fundo. Como é um universo amplo, em vários ativos não necessariamente listados, a gestão ativa ainda tem um papel preponderante. Os instrumentos passivos são importantes, mas, do ponto de vista de escolha, as estratégias passivas acabam não sendo compreendidas pelo cliente, que busca o retorno total do ativo. 

Um se soma ao outro, e os instrumentos passivos vão ter uma função complementar interessante, especialmente na questão da melhora de educação financeira. Agora as pessoas estão mais interessadas nisso. No médio prazo, acho que esses instrumentos vão ser mais atrativos para o investidor médio.

Alguns investidores acabam não compreendendo como funciona exatamente o income, confundindo com outros conceitos como os dos dividendos. Como você explicaria a estratégia para um investidor novato na bolsa?

Income é renda, em suma. Pode ser dividendos ou juros pagos por um bond. O fato de não termos um mercado de renda fixa tão evoluído, como nos EUA, onde você tem um leque maior, com CLOs e afins, talvez prejudique o entendimento.

O jeito mais fácil é entender o termo income como “renda”, semelhante ao salário, que “pinga” com um certo padrão e regularidade. Com o income é a mesma coisa: nós pensamos no fluxo de caixa de vários ativos que vão pagar diferentes tipos de renda.

Temos, como exemplo, o Dynamic Income, que é multiativos e tem estratégias de renda fixa e variável. Consideramos dividendos, os FIIs globais. Tudo isso, de certa forma, é uma renda passiva.

Ao longo do ano, tem um pagamento relacionado ao ativo que não está atrelado necessariamente à cotação. No fundo, você tem esse pagamento de renda, que faz parte da composição do retorno do fundo. O que é bacana é que, independentemente do ciclo econômico, que afeta o retorno dos fundos, você terá a renda ali, sempre “pingando”.

Essa renda será sempre derivada do que o ativo subjacente paga, mas ocorre de alguma forma.

Qual o produto que melhor exemplifica isso dentro da BlackRock?

Hoje a estratégia mais bem sucedida é o Dynamic High Income, que tem ativos tradicionais (ações, renda fixa) e ativos complementares (ativos de energia, infraestrutura, FIIs, covered call). Na renda fixa você tem títulos hipotecários e afins. Esse é o carro-chefe.

O Dynamic tem mais de mil ativos, e um dos pontos principais é a diversificação de ativos e opções. É importantíssimo na hora de investir. Esse fundo dá a chave para o investidor acessar ativos que estão lá fora e que não são acessíveis, seja por ticket ou porque não há nas corretoras, por causa da regulação. É o que o investidor precisa considerar na hora de comprar.

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O maior exemplo são os securitizados, que não têm um mercado avançado aqui no Brasil, com papéis públicos. Isso porque a maior parte de ativos nesse segmento são papéis privados. Aqui no Brasil os FIIs se desenvolveram muito, mas lá fora esse universo é muito maior.

O covered call, que é uma estratégia de financiamento de opções, funciona da mesma forma. É algo que é pouquíssimo explorado pelos gestores locais, porque se tem uma dificuldade do custo de short, da diversidade de setores para fazer isso. Investir em income também é diversificar, com os tipos de instrumentos que se tem na carteira, já que lá fora há uma série deles que ainda não estão disponível no Brasil e que também não aparecerão tão cedo.

Temos uma também uma outra estratégia só que com menos risco, que é o Global Bond Income, um fundo focado 100% em renda fixa. Esse fundo busca ativos com high yield, dívida soberana, mas somente com renda fixa e com um objetivo de retorno menor.

Do ponto de vista ativo, são esses. Mas, fora isso, temos outras estratégias dentro da BlackRock, e futuramente devemos ter mais na parte passiva. Estamos guardando algumas requisições da B3 (B3SA3), para que, até o fim de 2021, consigamos listar nossos ETFs de renda fixa do mercado global.

Esse tópico de dividendos e rendimentos passivos ficou mais efervescente no Brasil porque ganhou notoriedade com a discussão da reforma tributária, que pode vir a taxar dividendos. Com isso foi gerada a discussão se, com essa mudança, ainda seria rentável manter uma carteira focada em dividendos. Nesse caso, esse tipo de produto de income com ativos internacionais pode funcionar como uma estratégia de proteção da carteira?

O ativo pode ser complementar, pois estamos em um cenário de juros baixos. Hoje os juros alemães de dez anos pagam taxas negativas – ou seja, você paga para deixar seu dinheiro parado. No Japão é 0, e os juros de dez anos dos EUA se aproximam de 1%.

No mercado corporativo (investment grade), na Europa, é perto de 0,3% e globalmente é 0,7%; nos EUA, próximo de 2%; só a Ásia que extrapola essa barreira virtual de 2%.

Quando eu falo de high yield, o europeu paga 2,5%; ou seja, menos do que o investment grade asiático, e quando olhamos o high yield.

Existe uma dificuldade de gerar renda consistente de longo prazo, especialmente com ativos de baixo risco, dada a previsão de inflação global, que fica entre 2,5% e 3%. Se você alocar em títulos soberanos da Alemanha, EUA e afins, você terá juros reais negativos.

Aqui no Brasil temos um ciclo de juros altos, com pressões inflacionárias altas. Essas questões de dividendos e afins, só que estamos em um cenário de volatilidade em renda fixa (que segue) com questão fiscal e inflacionária.

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Não sabemos para que lado isso vai, e isso afeta o retorno de juros mais altos. Hoje, se você concentra toda a sua geração de renda investindo no mesmo país em que você gera a sua renda, você concentra todo o seu seu risco. Se você perde o emprego, por exemplo, a renda que vem dos investimentos provavelmente vai chacoalhar também.

O Dynamic dá, de yield médio, um income de 5,8%. Historicamente, desde o lançamento, há cerca de 5 anos, o yield médio é de 6,8%. Fizemos uma alternativa para não sofrer os solavancos. Se a renda fixa local pagar melhor, não afeta o fundo. Você tem a proteção cambial, já que, quando faz o hedge cambial, utiliza um instrumento interessante que é o hedge de juros local.

Se você olhar o patamar de juros lá fora e aqui, lá retorna 5% e, com as diferenças mais o “carrego”, pode retornar 10%.

Ações boas pagadoras de dividendos tendem a ser de companhias que já acumulam um certo caixa e resultados trimestrais com maior “folga” — geralmente são empresas mais defensivas. Há uma tese de que, em momentos de incertezas, de pressão inflacionária ou de alta volatilidade no mercado de um modo geral, esse tipo de ativo mantém o investidor mais seguro. Você acredita que esse tipo de estratégia é, de fato, a melhor para cruzar um cenário de turbulência? A estratégia de income se enquadra nisso?

Naturalmente as empresas que pagam bons dividendos têm um beta (variável que mensura o quão semelhante é a volatilidade de uma ação em relação ao mercado como um todo) menor, e por outro lado as empresas que têm um setor destoante, ou de crescimento, como saúde e tecnologia, possuem um beta maior. Em um momento de chacoalho, ter esse tipo de ativo, de fato, penaliza mais.

A maneira que se tem de proteger a carteira sem desalocar é aportar em dividendos, já que essas empresas são mais robustas e têm mais caixa. Em momentos de correção elas aproveitam as oportunidades para realizar fusões e aquisições, por exemplo.

A outra coisa é que, na parte de renda fixa, nas estratégias de income em geral, apesar do componente de risco (de duration), há por trás um pagamento de renda também.

Quando se tem um impacto de duration, o impacto é geral. Quem tem proteção de duration, ou geração de income; quem tem beta menor nas ações, protege a carteira sem desalocar.

É uma forma de você reduzir o risco da carteira como um todo, mantendo um portfólio balanceado com multiativos, como o Dynamic, fazendo um ajuste de risco/retorno. O beta do fundo, historicamente, é abaixo de 0,7 e, atualmente, próximo de 0,8, e o gestor trabalha com duration de 1 a 3 anos. Tanto em dividendos quanto em renda fixa, é uma alternativa aos tradicionais com o componente Beta mais presente.

Na BlackRock, com o panorama atual de inflação, commodities em alta, há algum segmento ou fatia do mercado que vocês olham com bons olhos para os próximos meses?

Falando da visão da casa [BlackRock] de um modo geral, a companhia tem o BlackRock Investment Institute, um research macro que fornece todas as ferramentas para os gestores, que por sua vez tomam suas próprias decisões, mas também abrimos as nossas calls para os clientes finais.

Temos três grandes temas que olhamos. Primeiro, o “novo nominal”, já que os bancos centrais globais são mais permissivos com inflação, com estímulos monetários e juros baixos, recompra e até estímulos fiscais, para que se tenha mais liberdade com menos preocupação inflacionária.

Sempre que o Banco Central mira uma meta de inflação, isso desaponta o mercado. Às vezes moravam 2%, e a inflação real era de 1,5%. Aqui deixamos a coisa mais “frouxa” pra um ciclo mais longo, já que a inflação pode desancorar um pouco. Devemos navegar isso protegendo a carteira com ativos que resistem a cenários de volatilidade.

O segundo tema é China, não só do lado de ações. Agora, com as mudanças regulatórias, os ativos de renda fixa, que eram pouco transparentes, são acessíveis em maior escala.  Agora a China tem foco em crescer com qualidade, achamos que é importante ter ativos do país no portfólio.

O último, com um ângulo diferente, é ESG. Mas sendo pragmático, sob a ótica de retorno. Isso porque agora a conversa mudou, já que a demanda é grande e o retorno, massivo. Os ativos tendem a ser valorizar mais do que os ativos tradicionais. A própria China falando do seu crescimento com neutralização de carbono, o pacote do Joe Biden e afins.

Estamos falando de uma nova era, em que olhamos para expectativa de retorno futuro. Quem ainda mantém a outra visão, de que esses ativos não dão retorno, fica preso no passado.

O que é a BlackRock?

A BlackRock é uma empresa americana de investimentos fundada por Larry Fink em 1988, atualmente presente em 38 países e com US$ 9,496 trilhões sob gestão. A companhia é listada na NYSE, mas também possui o seu BDR listado no Brasil, sob o ticker BLAK34. A empresa também é conhecida por gerir o BOVA11, ETF do Ibovespa.

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Eduardo Vargas

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