Bitcoin consome mais energia de um país inteiro: descubra por que
Em meados de maio a Tesla (TSLA34) anunciou que não aceitaria mais Bitcoin como forma de pagamento de seus carros elétrico por causa do “grande custo para o meio ambiente”.
“As criptomoedas são uma boa ideia em muitos aspectos e acreditamos que elas têm um futuro promissor, mas isso não pode ser perseguido às custas do meio ambiente”, disse Elon Musk para justificar a sua decisão de proibir o uso de Bitcoin em sua empresa.
Obviamente, ninguém acreditou nessa repentina virada ambientalista. O problema do pagamento de seus produtos com Bitcoin era evidente desde o primeiro momento.
Talvez Musk tenha percebido que seu apoio a criptomoeda não condizia com a imagem de sustentabilidade criada em torno da Tesla, com a aposta na mobilidade sustentável e nas fontes renováveis.
Após essa decisão, a cotação da criptomoeda caiu pela metade, passando do pico de US$ 65 mil (cerca de R$ 350 mil) para cerca de US$ 30 mil. Gerando fortes protestos por parte dos fãs do Bitcoin do mundo inteiro.
Entretanto, polêmicas à parte, não há dúvidas de que as criptomoedas são um setor altamente intensivo em energia, e que o consumo é de elevada densidade no caso das fontes fósseis.
Tanto que surgiu o primeiro alarme: os Bitcoins sozinhos poderiam colocar em risco o respeito dos Acordos de Paris sobre o Clima em termos de contenção de emissões de Co2.
Bitcoin consomem mais energia do que a Argentina
É difícil fazer cálculos precisos. Mas estima-se que o consumo de energia do Bitcoin sozinho é mais ou menos igual ao de um país europeu médio, como a Suécia, que consome anualmente pouco menos de 132 terawatts-hora (TWh), ou da inteira Argentina, que consome 125 TWh por ano de energia..
O Índice de consumo de eletricidade Bitcoin, elaborado pela Universidade de Cambridge, calcula que a criptomoeda precisa de mais de 133 TWh de eletricidade por ano.
Também é complicado avaliar a composição real das fontes de energia utilizadas para minerar Bitcoin.
Mas algumas pistas levam a calcular a pesada pegada ambiental da criptomoeda.
Embora seja uma tendência em diminuição, estima-se que dois terços dos Bitcoins em circulação tenham sido “minerados” por servidores chineses.
Esses são altamente dependentes da energia produzida a baixo custo a partir do carvão, que representa cerca de 60% do total da matriz energética da China.
E o consumo aumenta proporcionalmente com as cotações da criptomoeda.
O cenário mais pessimista delineado por Cambridge leva a estimar um consumo de 500 TWh por ano nos períodos mais quentes.
Para ter uma ideia, a Grã-Bretanha inteira consome cerca de 300 TWh por ano.
Por quê tanto consumo de energia?
O grande consumo de energia vem do complexo sistema de certificação de transações das principais criptomoedas.
Bitcoin é uma moeda baseada na tecnologia blockchain, que permite transações que evitam qualquer tipo de intermediário bancário.
Para verificar a veracidade da transação, é realizada uma competição para resolver uma questão criptográfica complexa que exige tentativas de adivinhar a composição correta de números e letras que fornecem a solução.
O primeiro que consegue encontrá-lo certifica a conexão do bloco ao blockchain com a consequente compensação em Bitcoin.
Uma operação que ocorre a cada dez minutos e que é recompensada com um pecúlio de 6,25 Bitcoins.
É claro que quanto mais a criptomoeda valer, mais os “mineradores” estarão dispostos a investir em capacidade de computação para resolver o problema.
Sem se preocupar muito de onde vem a energia utilizada.
Renováveis podem mudar o jogo?
Como toda infraestrutura que utiliza servidores e capacidade de computação, a solução mais imediata seria o uso de fontes renováveis, como já é o caso no mundo da computação em nuvem, também em forte expansão.
Até para criptomoedas há quem proponha que a energia para mineração seja certificada, criado dessa forma um sistema duplo, um tipo de “blockchain duplo”, que dependeria da energia utilizada.
Atualmente, estão sendo criados grandes centros de mineração concentrados em locais que tendem a ser mais frios, para facilitar o resfriamento natural das máquinas, e próximos a fontes renováveis, principalmente hidrelétricas.
Por outro lado, a competição de custos impele a utilização das fontes mais convenientes, nem sempre renováveis.
Em suma, mesmo se Musk utilizou a desculpa da poluição excessiva para voltar pra trás e impedir o uso de Bitcoin na compra de Tesla, a crescente preocupação ambiental com a criptomoeda poderia ser o seu maior risco sistêmico no futuro.