“Imprimir dinheiro” pode ser saída do BC para combater crise?
Desde que a crise do coronavírus (covid-19) atingiu a economia brasileira, a ideia de “imprimir dinheiro” ganhou força entre economistas e especialistas que discutem o que o País pode fazer para sair deste momento com os menores impactos possíveis.
A ideia de “imprimir dinheiro” foi citada, por exemplo, pelo ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. O atual secretário da Fazenda do estado de São Paulo chegou a afirmar que o governo deveria aplicar a medida como forma de sair mais rapidamente da crise do coronavírus.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, entretanto vem descartando a medida. Segundo o economista, aumentar a massa monetária pode ser perigoso, pois teria a capacidade de gerar uma pressão inflacionária nos preços.
“Eu acho que o argumento de imprimir dinheiro porque a inflação está relativamente baixa é perigoso. Eu acho que a saída não é por aí”, afirmou Campos Neto em uma live realizada pelo portal “UOL”.
Procurado pelo SUNO Notícias, o Banco Central afirmou que nenhuma medida acerca da flexibilização da base monetária ainda foi tomada.
Mas, afinal, é possível imprimir dinheiro? E quais seriam as consequências da ação à economia? O SUNO Notícias ouviu especialistas para comentar a medida.
Imprimir dinheiro não é criar notas físicas
Apesar de a ideia de imprimir dinheiro possa estar vinculada a alguma medida física, com máquinas produzindo cédulas, não é exatamente sobre isso que a medida trata.
Segundo Simão Silber, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Economics pela Yale University, a proposta é que o governo possa injetar liquidez na economia, comprando títulos de instituições como forma de deixar mais dinheiro para bancos e empresas emprestarem aos cidadãos.
“A grande maioria do dinheiro que é ‘criado’ é contabilmente. Então, não é rodar máquina para fazer dinheiro fisicamente. O que o BC pode fazer é comprar um título privado, por exemplo, e ele creditar na conta desse banco o dinheiro”, disse.
Portanto, é mais uma recomposição da base monetária. Assim, com mais dinheiro em caixa, as instituições poderiam emprestar ou empresas comprarem insumos de fornecedores, pagar salários, etc.
“Quando os bancos estão receosos, o BC pode comprar direto das empresas também. Ele compra um recebível de uma empresa e credita na conta do banco o dinheiro. O montante está criado, mas não vai existir fisicamente”, afirmou.
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Segundo Silber, a impressão física pode até existir, mas, como a maioria do montante atualmente é utilizada de forma eletrônica, a medida de impressão seria pequena.
“Dinheiro com papel e tinta pode até existir, mas é uma parcela bem pequena. A quantidade de dinheiro físico que existe na economia é 4% do Produto Interno Bruto (PIB), não é nada”, afirmou.
Pressão na inflação pode ser problema
Há dois problemas centrais na proposta de o BC imprimir dinheiro: o sistema financeiro, concentrado em poucos bancos e que pode dificultar que o crédito chegue às pessoas e, caso chegue, a pressão inflacionária que a medida pode gerar.
“Temos um setor financeira extremamente fechado. Eu não tenho uma base grande, com 300 bancos. Qualquer medida que o BC tome, vai ficar retido aos grandes bancos”, disse Guto Ferreira, analista da Solomon’s Brain.
Para Ferreira, a combinação de consumo, anabolizado após o governo “imprimir dinheiro” e o desemprego, causado pela crise, pode ser perigosa.
“Se eu coloco mais dinheiro agora, as pessoas querem consumir, e se elas consumires e o emprego não voltar ao patamar que estava, que já era ruim, você vai ter uma massa endividada e um problema muito maior”, disse Ferreira.
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Já para Silber, com a queda drástica na demanda, o problema da inflação não é minimamente preocupante no momento.
“O problema da inflação saiu do radar por hora. O problema é liquidez, sobrevivência, preservar o máximo de empresas e tem na PEC do Orçamento de Guerra que tem lá, sob certas condições, o BC pode comprar diretamente do Tesouro títulos emitidos pelo Tesouro”, afirmou sobre o BC imprimir dinheiro.