O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) da primeira quinzena de agosto registrou queda de 0,73%. Em julho, o avanço da inflação foi de 0,13%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na visão do economista da Rio Bravo Investimentos Luca Mercadante, as vantagens da deflação continuam vindo de efeitos específicos. “Vemos os setores de Habitação e Transporte recuando bastante, com a queda nos preços da energia e dos combustíveis, respectivamente. Isso decorre da medida fiscal que o governo impôs, especialmente com a limitação do ICMS. Vindo de um IPCA em um patamar muito alto, há um alívio na economia”, observa.
A taxa em 12 meses ficou em 9,60%. Com o resultado anunciado na quarta-feira (24), o IPCA-15 acumulou um aumento de 5,02% no ano. Segundo o IBGE, a deflação de agosto foi influenciada principalmente pelo recuo de 5,24% no grupo dos Transportes, que contribuiu com -1,15 ponto percentual no índice do mês.
A maior variação positiva veio de Alimentação e Bebidas, em 1,12%, influenciada principalmente pelo aumento nos preços do leite longa vida, que subiram 14,21%, no maior impacto individual positivo no índice do mês, de 0,14 p.p. “O setor de alimentação, com a oferta global enfrentando dificuldades da cadeia de suprimentos e safras, ficou mais pressionado. Tende a melhorar, mas de forma mais gradual do que o esperado”, diz.
O setor de Saúde também permaneceu pressionado, em variação de 0,81%. “É uma inflação subjacente, mais difícil de ser controlada, que exige uma desaceleração da economia, um esforço maior por parte do Banco Central. A autoridade monetária terá um grande trabalho pela frente.”
Cenário da inflação para 2023 ainda não é de vitória
Se, de fato, a lei que limita a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo acabar em 31 de dezembro de 2022, como previsto, a volta da inflação não será tão grande para os preços de primeira, mas gerará pressão, explica o economista.
“Caso isso se estenda, poderá provocar um prejuízo fiscal maior, ainda que traga um alívio à inflação no curto prazo”, observa Mercadante. O texto limita a cobrança do ICMS sobre produtos e serviços considerados essenciais à alíquota mínima de cada estado, que varia entre 17% e 18%.
Pela inflação subjacente pressionada, o economista enxerga que em 2023 a desaceleração será gradual. No entanto, com a ‘PEC Kamikaze‘, que instituiu benefícios sociais a diferentes esferas da sociedade, a pressão inflacionária poderá ser maior. “A combinação da diminuição artificial dos preços com políticas de auxílios que estimulam a economia provocará mudanças a partir do próximo ano.”
Com a volatilidade da economia brasileira, as eleições à presidência da República e o contexto internacional – com risco de recessão global e guerra no leste europeu –, 2023 ainda é um ambiente muito incerto para a economia brasileira. “Essa dinâmica inflacionária ainda é muito complexa, pela série de variáveis que influenciam a situação. Além disso, a dinâmica de preços de commodities no exterior arrefece, mas há um debate grande sobre o caminho daqui para frente. Ainda não há o que comemorar sobre a inflação”, conclui.