Bancos perderão 3,8 trilhões em 5 anos por causa do covid-19, mostra estudo
O novo coronavírus (covid-19) não devastou somente o pequeno comércio, os serviços e a indústria de diversões. A pandemia provocou danos enormes também os resultados dos bancos do mundo inteiro.
Segundo um estudo da consultoria McKinsey, no médio prazo, o covid-19 pode causar uma queda das receitas dos bancos, levando ao “desaparecimento” de cerca de US$ 3,8 trilhões (cerca de R$ 20 trilhões) no espaço de cinco anos em todo o mundo.
E, segundo o documento, o “longo inverno” dos resultados financeiros dos bancos teria apenas começado. E estaria destinado a durar no tempo, gerando em primeiro lugar uma avalanche de provisões para devedores duvidosos (PDDs), graças à esperada deterioração da qualidade do crédito devido os efeitos do covid-19 na economia real.
Obviamente, isso gerará um declínio adicional na lucratividade das instituições financeiras, com um retorno aos níveis pré-crise apenas a partir de 2024 para a maioria dos bancos.
Isso, é claro, em nível global. Porque é claro que entre as diferentes áreas geográficas haverá vencedores e perdedores, bem como dentro de cada país.
Tanto que alguns grupos bancários, pelo menos entre os mais sólidos, poderão aproveitar a fase de fragilidade para repensar o modelo de negócio e construir o sucesso de longo prazo, ou até iniciar um processo de fusões e aquisições.
Em seu décimo relatório sobre o setor bancário global, a McKinsey analisou os balanços de mais de 1.640 bancos em todo o mundo, desenhando um quadro negativo, afetado pela longa onda da covid-19.
Primeira fase: prejuízos sobre os créditos
Para conter a propagação do vírus, os países bloquearam suas economias. Centenas de milhares de empresas reduziram ou interromperam a produção, milhões de pessoas ficaram sem trabalho.
Hoje, subsídios ao desemprego e moratórias de pagamento congelaram os efeitos mais nefastos da covid-19.
Mas quando o suporte público terminar – pois ele não poderá ser eterno – a inadimplência vai dar um salto.
em antecipação a tudo isso, e pelo menos até o terceiro trimestre de 2020, os bancos globais reservaram quase US$ um trilhão em PDDs. Muito mais do que em todo o ano de 2019. América do Norte e Europa lideraram essa tendência, com PDDs muito maiores do que as médias de provisões acumuladas entre 2015-19.
Mas verdadeiros efeitos da pandemia nos orçamentos devem ser sentidos a partir deste ano, à medida que o apoio do governo diminuirá.
No cenário mais otimista desenhado pela McKinsey , e com uma recuperação macro mais pronunciada, as provisões devem aumentar para níveis semelhantes ao momento de auge da crise dos subprimes.
No caso mais pessimista e, portanto, com uma recuperação mais lenta, as provisões subiriam para 2% do total de empréstimos em 2021, uma taxa quase 50% superior ao pico de 2007-2009.
No cenário intermediário, ou seja, recuperação moderada, “a indústria estaria suficientemente capitalizada para suportar o choque”.
Nesse caso, o índice Cet1 médio global cairia de 12,5% em 2019 para 12,1% em 2024, com um mínimo de 10,9% esperado em 2021.
“O cenário de base será preocupante para bancos que já estavam frágeis”, salientou a McKinsey. Cerca de 3% dos 750 maiores bancos globais podem sofrer perdas de capital para colocar o Cet1 abaixo do mínimo regulamentar.
Consequentemente, em um contexto de taxas de juros baixas, os lucros também cairiam e, portanto, o retorno sobre o capital (ROE) que continuaria em queda: de 8,9% em média em 2019 cairia para 5,4% em 2020 para ficar negativo em 2021 por causa das perdas esperadas.
Nesse caso também com grandes diferenças regionais que vão reforçar as mudanças dos últimos 20 anos.
Em 2000, na lista dos 30 bancos mais valiosos do mundo havia oito bancos americanos, 14 europeus e apenas 4 asiáticos. Em novembro de 2020, apenas 4 bancos europeus permaneciam na lista, que agora inclui 15 bancos asiáticos e 10 norte-americanos.
Segunda fase: o congelamento de receitas
No médio a longo prazo, de acordo com a McKinsey, o impacto da covid-19 mudará dos balanços para as demonstrações de resultados. E afetará particularmente as receitas.
A espera é na verdade por uma redução na oferta de crédito. Os bancos inevitavelmente se tornarão “mais seletivos no apetite ao risco” e, portanto, nos desembolsos, como já está acontecendo em parte.
Em parte, haverá efeitos positivos compensatórios, como a necessidade de refinanciar dívidas existentes. E os programas de apoio do governo ou os impulsos do banco central ajudarão a reequilibrar a situação.
No geral, entretanto, as perspectivas são desafiadoras. Globalmente, no cenário intermediário, as receitas poderiam diminuir cerca de 14% em relação à trajetória pré-crise até 2024.
Traduzido em números absolutos, isso significa que a indústria poderia ter que sustentar uma queda entre US$ 1,2 trilhões e US$ 3,8 trilhões da receita agregada entre 2020 e 2024 (US$ 3 trilhões no cenário intermediário). Isso significa um prejuízo de receita para o setor bancário global de um semestre inteiro.
As possíveis saídas da crise da covid-19
As previsões do McKinsey, é claro, estão sujeitas a mudanças significativas, positivas ou negativas. Certamente, nesse contexto, quem conseguir conter a queda nas receitas, porém, desafiando outra tendência de mudança radical do setor bancário, como a das fintechs, conseguirá boter vantagem. Assim como quem conseguir administrar seus custos.
A redução das margens, por exemplo, pode levar os bancos a revisar as abordagens operacionais e os modelos de negócios tradicionais. Em perspectiva, os bancos poderiam incorporar em sua cultura corporativa os aspectos positivos da nova forma de trabalhar imposta pela pandemia acelerando e realizando algumas mudanças estruturais já em curso, como o home office definitivo e processos de tomada de decisão mais enxutos e ágeis.
A emergência da da covid-19 mostrou a possibilidade de organizar o trabalho de uma forma muito mais flexível. Será necessária uma mudança de ritmo nos modelos de serviço e distribuição, que devem ser mais flexíveis e multicanais, com a combinação certa entre gestão física e remota. A nova fronteira, já perseguida noutros sectores, é por um lado aumentar significativamente o nível de automatização e, ao mesmo tempo, personalizar a interação com o cliente. Em suma, a mudança radical do setor bancário está apenas no início.