Bancos preveem início do ciclo de alta da Selic e projeções apontam para 0,5 p.p.
A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está cada vez mais perto e os investidores já circulam o dia 17 de março em sua agenda, na espera de uma das quartas-feiras mais importantes para o mercado. De praxe, os analistas se reuniram antes para projetar a decisão envolvendo a taxa básica de juros (Selic). E desta vez a expectativa é de que se inicie o ciclo de alta, com as estimativas concentradas em uma previsão, a de um aumento de 0,5 ponto percentual.
Para aqueles que acompanham ativamente as projeções não mercado não é, de fato, novidade uma confluência em torno da expectativa de alta da taxa Selic.
De acordo com o último Boletim Focus, relatório econômico que reúne sentimento de diversos especialistas, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial do Brasil, está previsto para bater 3,98% em 2021. A projeção dos economistas para a inflação já está acima do centro da meta de 2021, de 3,75%, sendo que a margem de tolerância é de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%).
Soma-se a isso um persistente risco fiscal associado ao Brasil, alimentado por ruídos políticos e pela expectativa de uma recuperação econômica mais lenta, em decorrência do agravamento da situação sanitário no País. O cenário tem contribuído para uma maior volatilidade do real ante ao dólar, pressionando o Banco Central (BC) a intervir mais e mais no mercado de câmbio.
Em relatório recente, o Itaú Unibanco (ITUB4) relembrou que a autoridade monetária já vem alertando que a trajetória fiscal cria uma assimetria altista no balanço de riscos para a inflação. “O cenário global também tem se mostrado potencialmente mais desafiador à medida que os mercados se ajustam à perspectiva de recuperação cíclica forte e possibilidade de retirada antecipada de estímulos por parte do banco central americano”, destacou o banco.
Início do ciclo de alta da Selic
O Itaú estimou uma elevação de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, para 2,50% ao ano, na próxima reunião de política monetária do Copom.
“Tal ritmo de alta se justifica diante do aumento recente das incertezas globais e fiscais, em um contexto de inflação ainda bastante pressionada no curto prazo, especialmente em razão do aumento de preços de commodities sem correspondente apreciação cambial e da aceleração da inflação de bens em um cenário de maior utilização da capacidade da indústria, que contribui para maior repasse da alta de preços de insumos”, salientou o banco.
“Também atuam nessa direção as evidências de que o impacto da 2ª onda do vírus sobre a atividade econômica como um todo tem sido, até o momento, menos intenso do que na 1ª onda”, acrescentou.
A análise e a projeção são corroboradas pela equipe de analistas do banco UBS, que espera agora o início do ciclo de altas já na próxima semana ao invés de em maio.
“No entanto, ainda vemos quarto aumentos de 0,5 ponto percentual, o que significa 4% no terceiro trimestre de 2021. Acreditamos que o BCB diminuirá o tamanho do estímulo monetário, mas acreditamos que a situação ainda exige uma política monetária estimulante, uma vez que a evolução da pandemia não aponta para um fechamento rápido do hiato do produto, queda do desemprego ou uma reaceleração iminente da inflação de serviços”, ponderaram os analistas.
Mudança na atitude de outros BCs
Outro ponto, enfatizado pelo Goldman Sachs, é a “mudança clara” de atitude por parte de outros bancos centrais de mercados emergentes.
De acordo com o grupo financeiro norte-americano, “o aumento nos rendimentos do dólar e nos preços das commodities, a expectativa de um crescimento global robusto e perfil de negócios (alimentando a ansiedade da reflação do mercado) e gerando pressões inflacionárias (na maioria dos lugares impulsionados pelos preços de alimentos e combustíveis não essenciais) estão levando vários bancos centrais para reavaliar a adequação da atual orientação monetária altamente acomodatícia”.
O Goldman também prevê uma taxa Selic 0,5 ponto percentual mais alta depois de quarta-feira.