Expandir o super app para além do Brasil e, quem sabe, desenvolver uma adquirente própria para, no futuro, quem sabe, destravar valor para que a companhia seja listada a parte em Bolsa, assim como Cielo. É esse o racional por trás da compra do Banco Inter (BIDI11) de uma participação na empresa de adquirência Granito.
De acordo com Ray Chalub, diretor de Conta Digital e Meios de Pagamento do Banco Inter, com a tecnologia da Granito, o banco poderá atender clientes que desejem comprar no super app do banco mesmo estando fora do Brasil.
“Quando a gente fala sobre situação internacional utilizando o Granito, temos um fluxo de dinheiro através das bandeiras de cartão de crédito [em compras realizadas via cartões, por exemplo]. Então, [a compra] pode propiciar esse fluxo financeiro através de mensageria de débito e crédito e gerar situações interessantes para o Inter no mercado internacional”, disse.
Além disso, para Chalub, no médio prazo, a Granito poderá seguir o caminho da XP, que viu o Itaú Unibanco (ITUB4) prometer destravar o valor para a holding, e da Getnet, da qual o Santander (SANB11) já estuda uma cisão para listagem de ações.
“Acreditamos que, sim, nós vemos que movimentos de capital para a Granito são factíveis no médio prazo”, afirmou o executivo.
O Inter vai fazer um aporte primário de R$ 90 milhões na Granito em troca da participação. O Banco BMG (BMGB4) e os executivos da Granito deterão 45% e 10% da empresa, respectivamente.
Fundada em 2015, a Granito atua no setor de captura de pagamento (adquirência). Atualmente, trabalha com mais de 20 bandeiras, possui mais de 20 parceiros e escritórios comerciais próprios. A empresa possui mais de 27 mil clientes, com um volume total em compras (TPV) de cerca de R$ 1 bilhão nos primeiros nove meses de 2020.
Confira a entrevista do SUNO Notícias com Ray Chalub, diretor de Conta Digital e Meios de Pagamento:
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-Qual o racional por trás da aquisição da Granito?
É uma aquisição de ponta a ponta para atender o mercado e adquirentes de meio de pagamento. Então, com essa tecnologia desenvolvida de forma proprietária, a gente vai conseguir atenderas nossas necessidades do ecossistema de forma personalizada e com um custo muito baixo.
No nosso shopping, conseguiremos colocar um gateway de pagamento para clientes utilizarem cartões de outros bancos que não sejam do Inter. Hoje temos mais de 600 mil empresas e o modelo de recebíveis de cartão e o PIX são modelos fundamentais para elas.
O modelo que o Inter monta para suas contas PJs para atender de forma muito bacana esse público, acreditamos que com a proposta full acquirer [no qual uma única credenciadora captura, processa e liquida a compra], poderemos atender ainda mais essa necessidade e criar novas oportunidades aos clientes.
-Quais são as particularidades da Granito?
Quando a gente fala sobre situação internacional utilizando o Granito, temos um fluxo de dinheiro através das bandeiras de cartão de crédito. Então, isso pode propiciar esse fluxo financeiro através de mensageria de débito e crédito e gerar situações interessantes para o Inter no mercado internacional.
Por exemplo, a gente consegue enviar dinheiro de um cartão para outro. Além de toda vantagem competitiva que entendemos termos capturado em termos tecnológicos para atender o público brasileiro, a gente acredita que a empresa também ajudará na parte de expansão.
-Mas existe essa demanda?
Entendemos que com certeza absoluta por plataformas que resolvem a vida do cliente, como WeChat, PayPal, o próprio Mercado Livre, então entendemos que tem muita demanda e espaço para ecossistemas que são capazes de resolver os problemas dos clientes. E esses ecossistemas têm, cada vez menos, fronteiras.
-Quando falamos em internacional, primeiramente é a América Latina?
A América Latina é uma das possibilidades. A gente tem conduzido diversos estudo e a região é uma possibilidade, mas longe de ser a única.
-Na segunda-feira, o Santander anunciou um estudo para a cisão da Getnet. Você acha que isso é tendência? Pode acontecer com vocês no futuro com a Granito?
Com certeza. A Granito continuará sendo uma empresa independente, com os executivos independentes. O co-fundador se mantém CEO, outros dois co-fundadores se mantêm COO e CTO, então a Granito se mantém com uma gestão independente e um business plan próprio.
É claro que o Inter passa a fazer parte do Conselho da Granito, nós vamos capturar todas as sinergias para o Inter, mas a empresa também, por si só, tem um business plan de sucesso. Nós vamos agregar, com balcão de distribuição, mas ela continua e nós vemos muito valor nela.
Por isso, acreditamos que, sim, nós vemos que movimentos de capital para a Granito são factíveis no médio prazo.
-Já há algo no papel?
Temos um business plan muito ousado e muito responsável e acreditamos que o poder de distribuição de balcão do Inter vai potencializar o business plan e conseguiremos contribuir com bastante capital intelectual, além do capital via investimento, e também na questão de capacidade de gestão.
-Como a compra pode auxiliar o marketplace do Inter?
A estratégia do Inter hoje é ter um ecossistema capaz de atender as pessoas. Então, para isso, estamos abrindo o nosso super app para não correntistas no Brasil.
A tendência em atender esses clientes não-correntistas passa por onde eles possam comprar no shopping, adquirir um seguro, cadastrando cartão de outros bancos.
-Vocês estão com dinheiro em caixa captado no mercado. Como estão olhando novas expansões?
De fato hoje, a posição de caixa do Inter resulta em um [índice de] Basileia muito elevado e isso é fonte de discussão recorrente na nossa empresa sobre como ocupar esse Basileia de forma responsável.
Então, uma coisa que o Inter não fará para ocupar o Basileia é dar crédito pessoal a taxas elevadas para cobrir provisões. Isso nós não vamos fazer.
Outra coisa é comprar market share. Essa não é nossa estratégia, nós temos sim outras aquisições, que são temos recorrentes, e o que queremos comprar é capacidade, tecnologia e pessoas para o Banco Inter.