Nos últimos meses, os balanços dos grandes bancos têm refletido o cenário macroeconômico do Brasil, sendo determinantes para que o investidor tome ou não a decisão de apostar no setor. Nesse contexto, duas grandes instituições têm se destacado com seus resultados: Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú Unibanco (ITUB4).
Entre os meses de janeiro a março, o lucro líquido ajustado do Banco do Brasil aumentou 28,9%, chegando a R$ 8,5 bilhões, impulsionado pelo desempenho positivo de sua carteira de crédito. O aumento dos ganhos, inclusive, tem chamado a atenção de algumas gestoras.
“Os três pilares para a renda variável, quando somados, aumentam o potencial de rentabilidade. São eles: o crescimento de lucro, o real rating do múltiplo atribuído à ação e se a empresa paga dividendos. Neste caso, o Banco do Brasil é uma das maiores posições do nosso fundo”, destacou Alessandro Arlant, Managing Partner da Dahlia Capital, durante o evento Super Clássicos da Bolsa, promovido pela XP (confira a programação completa).
Já o Itaú, cujo lucro líquido gerencial chegou a R$ 8,435 bilhões no primeiro trimestre, alta de 14,6% na base anual, despertou os olhares da Norte Asset Management, que leva em consideração outros três fatores: valuation, tese e ‘trigger’ – este último, se refere a um evento que desencadeia o movimento de uma ação.
“O Itaú tem um balanço sólido em termos de dinâmica de provisão, além de ser uma das melhores empresas do Brasil em termos de gestão. As parcerias que o banco têm feito abrem a política para empresas que podem acrescentar valor ao seu portfólio. Hoje, os bancos não têm precificação de crescimento e no Itaú, isso tem mudado nos últimos meses”, disse Marcelo Mizrahi, Equity Analyst da gestora.
Incompreensão do mercado: papéis do Banco do Brasil baratos
Arlant trata o baixo valor atribuído pelo mercado aos papéis do Banco do Brasil como “injustiça”, pontuando que, apesar dos riscos existentes, há uma incompreensão sobre o que aconteceu nos últimos dez anos.
“Acho que houve uma evolução brutal nesse tempo, e ela foi baseada em dois pilares: o primeiro foi de erros do passado e o segundo foi de mudança na regulação bancária no Brasil. A implementação do arcabouço deu chance para o Banco do Brasil, e isso ainda não provocou uma percepção apurada do mercado”, afirmou.
O analista da Dahlia Capital também pontua que, atualmente, a gestão interna de capital e de risco dentro da instituição é feita de uma forma muito proativa. Segundo ele, a atuação do conselho, com diretores independentes e formalizando um plano estratégico para os próximos 5 anos, também foi uma mudança bastante expressiva dentro da estatal.
“Há um alinhamento da gestão sendo remunerado com ações, e isso caminha para uma execução excelente. Provavelmente, em 2023, o lucro do Banco do Brasil vai superar o do Itaú”, apontou Arlant.
“O Banco do Brasil é visto como uma cultura única, com conhecimento das linhas de negócio e entendimento sobre o que precisa fazer para crescer sem grandes problemas”, acrescentou Mizrahi, da Norte Asset.
Cotação BBAS3
Taxas de juros e inadimplência
Entre os gestores, o movimento de queda na taxa Selic – que hoje está em 13,75% – tende a melhorar as condições macroeconômicas, reduzindo os riscos do país e permitindo que os bancos possam oferecer mais crédito aos seus clientes.
“Acho que o Itaú sai na frente no crescimento de carteira. O core do negócio de um banco é crédito, não é tesouraria. O balanço do Itaú está limpo e vai refletir mais quando houver essas mudanças”, disse Marcelo Mizrahi, da Norte Asset.
Enquanto a inadimplência entre o cliente pessoa física vive um momento de certo conforto, no caso da pessoa jurídica, a preocupação do mercado é a deterioração contínua das grandes empresas, dado o momento econômico. “Tivemos um primeiro semestre de PIB forte por causa do setor agro. Daqui em diante, se o setor não ajudar, toda a parte de indústria e serviço deve vir um pouco mais fraca”, apontou Mizrahi.
Segundo ele, é esperada uma estabilização ou queda na inadimplência da pessoa física do Itaú no próximo trimestre. “É daí que a gente vê que o nível de provisionamento do banco parece estar adequado a essa piora de inadimplência. O problema é maior na pessoa jurídica, muito mais por um desconhecimento de uma preocupação do que de fato estar acontecendo alguma coisa”, acrescentou.
No caso do Banco do Brasil, a questão da atividade econômica tem sido acompanhado de perto pela instituição e, neste sentido, o potencial de crescimento mais baixo da carteira preocupa mais do que a inadimplência em si. Arlant, da Dahlia Capital, lembra que a instituição é líder absoluta no agronegócio, setor que ocupa 33% de sua carteira. O consignado também é forte, chegando a quase 12%.
“Vai depender muito do cenário a necessidade de um provisionamento maior, além do endividamento das famílias. Mas, olhando para a carteira consolidada do Banco do Brasil, é uma inadimplência de 3%, o que eu acho bem razoável. Se o macro ajudar, temos uma propensão de ter crescimento de lucro para os próximos trimestres”, destacou.
Para ele, quando o assunto é consignado, o destaque fica para o Nubank (NUBR33). “O jeito deles entrarem nesse mercado, sem muita fricção, realmente acho que vai colocar os grandes bancos para pensar”, acrescentou.
Competitividade
Segundo Marcelo Mizrahi, da Norte Asset, a entrada de Milton Maluhy Filho no cargo de CEO do Itaú no início de 2021 provocou uma mudança de cultura no sentido da associação, o que fez a instituição se destacar frente aos seus concorrentes.
“Se você não tem o produto, ou você compra alguém que tem ou você simplesmente oferece o produto vencedor dentro do seu ecossistema para melhorar a percepção do seu cliente. O Itaú já está com 70% de seus sistemas na nuvem, e isso acelera o tempo de resposta para desenvolvimento e colocação de sistemas novos no ar”, explicou.
Já no Banco do Brasil, a carteira agro, na qual o banco desponta, há uma competição relevante – com destaque para as cooperativas. “Entre os grandes bancos, o Santander (SANB11) está fazendo um trabalho forte no setor, mas quando você olha os desembolsos, a atuação do Banco do Brasil é muito maior”, disse Alessandro Arlant.