Analistas e investidores se perguntam sobre qual será o destino do Banco do Brasil (BBAS3) no próximo governo, que será definido nas eleições no próximo domingo (2) ou apenas em 30 de outubro, data marcada para a votação do segundo turno.
Apesar de no governo atual, de Jair Bolsonaro (PL), o banco ter sofrido trocas de comando, os especialistas concordam que as ações do Banco do Brasil estão descontadas e a governança se tornou bem mais eficiente do que ela já foi.
O temor do mercado é de que o Banco do Brasil sofra intervenções políticas no próximo mandato. “Hoje, o time que esta à frente do banco agrada o mercado e, na nossa análise, tem sido muito assertivo nessa gestão”, diz o analista da Warren Investimentos, Gustavo Pazos.
Gustavo ressalta que os ativos do Banco do Brasil negociam com um desconto grande por serem de uma estatal, vulnerável a riscos políticos. A gestão ruim e baixa eficiência do banco já foram recorrentes, mas o cenário de hoje não é o mesmo, diz ele.
O banco tem mostrado uma “excelente gestão, com ótimos resultados”. A Warren acredita que o desconto atual é exagerado. Pazo está otimista com a tese de investimentos, tanto no curto prazo quanto no longo prazo, mas reforça que o risco político não deve ser desconsiderado, mesmo com melhoras recentes.
“Independente de qual governo for eleito, o que a gente pensa é que a magnitude desse impacto do novo ou um atual ocupante do Palácio do Planalto deve ser inferior ao que a gente já viu”, disse.
Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos, observa que nenhum dos candidatos tem a intenção de interferir na governança, ao menos com base nas propostas apresentadas até então.
“Apesar de o governo ser controlador da instituição, com 50% das ações da companhia, o conselho de administração tem quatro indicados pelo Executivo e quatro membros independentes”, disse Gabriel. “A interferência em si pode ser pequena. Ainda mais agora que o Banco do Brasil está consolidado, com quase 16% de market share, com retorno expressivo do banco em relação aos pares no setor.”
O que dizem os candidatos sobre a estatal
O analista da Warren afirma que os dois principais candidatos concorrendo à presidência, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não disponibilizaram suas opiniões sobre o Banco do Brasil. “Muito pouco se falou em propostas, porque esses dois candidatos, ao longo da campanha eleitoral, passaram mais tempo fazendo ataques a imagem um do outro”, disse.
Lula, por outro lado, mencionou durante um evento para micro e pequenos empresários alinhados à sua candidatura que o BB age como um banco privado. “É preciso que a gente enquadre o Banco do Brasil. Não queremos que bancos públicos tenham prejuízo, mas não podem ter os mesmos lucros dos bancos privados”, afirmou.
Líder nas pesquisas, o candidato disse que irá orientar a instituição em seu governo: “O Banco do Brasil parece bonzinho se tiver orientação governamental. Se não tiver, a burocracia do banco pensa como banco privado”.
Já a senadora e candidata Simone Tebet (MDB-MS) disse na última quinta-feira (22), em entrevista a uma rádio mineira, que, se eleita, não irá privatizar Petrobras (PETR4), Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil – embora defenda a ideia da privatizar outras empresas do governo e o aumentar concessões e parcerias público-privadas (PPP).
O candidato pelo PDT, Ciro Gomes, afirmou no início de setembro que o juro no Brasil “é exorbitantemente alto” em razão de um cartel formado, segundo ele, pelos cinco maiores bancos do país.
“O juro brasileiro é exorbitantemente alto por duas razões: uma é o cartel. Nós estamos em uma padaria. Se todos os donos de padaria se sentarem e combinarem o preço, aí não tem mais concorrência. É assim que funciona hoje o mercado de dinheiro no Brasil. São 5 bancos que controlam 85% de todas as transações financeiras”, afirmou, durante entrevista coletiva realizada em uma padaria na zona Sul de São Paulo.
Já Bolsonaro, com a intenção de ir atrás da política de preços da Petrobras, quer mudar a Lei das Estatais, instaurada no governo de Michel Temer, para dificultar a interferência política nas companhias estatizadas. Nessa caso, a bomba também poderia cair no colo do Banco do Brasil.
Gabriel Meira acredita que será difícil um próximo governo mexer com a Lei das Estatais, “principalmente por ser uma tramitação que mexe não só com o banco, mas com todas as grandes empresas do Brasil, e a maior parte são empresas mistas”, afirmou. “Não vi nada em relação a isso que possa acontecer num curto ou médio prazo, a não ser que alguém queira muito mexer com ela.”
Banco do Brasil está ‘blindado’ das eleições
Na visão do especialista da Valor Investimentos, o novo plano diretor que o CEO do Banco do Brasil discorreu a respeito durante o Dia dos Investidores da companhia, terá que ser seguido, independente do próximo governo. “Isso traz uma uma confiança muito maior em relação a instituição”, disse.
A Genial Investimentos, em relatório recente, destacou que no plano para os próximos cinco anos o Banco do Brasil conta com as seguintes blindagens:
- Plano Diretor: planejamento estratégico de longo prazo (5 anos) que tem de ser seguido independente da nova presidência do banco, evitando qualquer medida mais drástica no rumo traçado.
- Conselho e Comitês: conselho de administração composto por 50% de membros independentes, além de dois serem minoritários. A questão de minoritários é de importância para blindagem do banco, visto que esses tendem a não tomar medidas que possam afetar o próprio retorno. Decisões importantes são todas feitas de forma colegiada, nunca de forma individual. Existência de vários comitês decisórios internos que impedem medidas maléficas ao banco.
- Elegibilidade da Estrutura Organizacional: abaixo da posição de diretores estatutários só podem ocupar os cargos funcionários de carreira do banco (técnicos).
Apesar do temor de uma eventual interferência nas estatais, à revelia das normativas aprovadas antes do governo Bolsonaro, a Genial diz que as ações do Banco do Brasil seguem com uma saúde financeira positiva.
“Por muitos anos, o banco rodou com uma rentabilidade bem abaixo de seus rivais incumbentes de quase 10 pp de diferença. Hoje, o banco está mais capitalizado, com menor inadimplência e mais provisionado (alto índice de cobertura) que a média de seus rivais”, dizem os analistas.
“ROE de 20% veio para ficar”, concluem.
A XP, da mesma forma, mantém recomendação de compra para os papéis, citando o risco eleitoral, mas destacando os múltiplos atrativos e projetando alta de dividendos.
“O primeiro semestre de 2022 foi bastante positivo para os bancos, culminando com uma série de revisões para cima dos guidances. Para 2023, mantemos visão positiva, apesar de vermos aumento das preocupações com os níveis de inadimplência. Seguimos monitorando eventuais intervenções regulatórias, assim como a possibilidade de acirramento da competição no setor. Entretanto, não esperamos que estes aspectos afetem a dinâmica positiva de curto prazo em curso no mercado de crédito”, diz a XP sobre o Banco do Brasil.
Os analistas da Genial, por sua vez, recomendam a compra dos papéis mais fortemente em um cenário da vitória de Bolsonaro nas eleições.
“O Banco do Brasil vem consistentemente melhorando sua rentabilidade nos últimos anos. Isso significa um Retorno sobre Patrimônio (ROE) no patamar de 20% e crescimento de lucro acima de 10% na comparação anual. Depois de muitos anos rodando com um ROE e capital bem abaixo de seus pares, a melhora operacional finalmente o colocou na mesma liga dos bancos privados em níveis de rentabilidade”, dizem os analistas.