A inflação calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar este ano em 10,2%, considerando a taxa de juros (Selic) em 9,25% ao ano e o câmbio partindo de R$ 5,65. A informação está no Relatório de Inflação, publicação trimestral do Banco Central (BC), divulgado hoje (16). No relatório de setembro, a projeção para inflação no ano era 8,5%.
Nesse cenário, a inflação ficará acima da meta que deve ser perseguida pelo BC. A meta, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3,75%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,25% e o superior, 5,25%.
Para 2022, a projeção de inflação é de 4,7% e, para 2023, de 3,2%. Nesse caso, supõe uma trajetória de juros que se eleva para 11,75% ao ano durante 2022, terminando em 11,25% ao ano, e reduz-se para 8% ao ano em 2023.
A inflação ao consumidor continua persistente e elevada, segundo o BC. “Há preocupação com a magnitude e a persistência dos choques, com seus possíveis efeitos secundários e com a elevação das expectativas de inflação, inclusive para além do ano-calendário de 2022”, diz o relatório.
A meta definida pelo CMN para de 2022 é 3,5% e para 2023, é 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para os dois anos. Ou seja, por esse cenário, a inflação ficará próxima do limite superior em 2022 e do centro da meta em 2023.
Quando se consideram os grupos de preços livres e administrados, o BC destaca a elevada projeção para a inflação de preços administrados em 2021, de 16,7%. Caso a previsão se concretize, será a inflação mais alta desde 2015, quando atingiu 18,07%.
“Destacam-se os aumentos já verificados de preços de gasolina, gás de bujão e energia elétrica. Para 2022, a projeção de administrados se reduz significativamente, refletindo principalmente a dissipação dos choques correntes, a bandeira de energia elétrica utilizada e a queda recente no preço do petróleo”, diz o relatório.
Por outro lado, segundo o BC, a inflação de preços livres vai se reduzindo ao longo do tempo na medida em que os efeitos da alta do índice vão se dissipando e a trajetória da taxa de juros real utilizada está acima da taxa neutra (aquela que não gera mudanças na inflação). A projeção do BC para o IPCA Livres em 2021 é de 8%.
Condições financeiras tiveram grande aperto desde setembro, diz diretor do BC
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, destacou nesta quinta-feira, 16, que as condições financeiras tiveram grande aperto de setembro para cá, o que influenciou na revisão da projeção do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022. A autoridade monetária reduziu sua estimativa para o crescimento do próximo ano de 2,1% para 1,00%.
“Em economias desenvolvidas, condições financeiras mais apertadas significam inflação menor. Já no Brasil e nos emergentes, apertos de condições financeiras estão normalmente ligadas à piora risco fiscal. A parte mais longa (da curva) sobe, o CDS sobe, o real deprecia e assim por diante. Isso implica em menor crescimento e tipicamente até em maior inflação. Nesse sentido, é semelhante a um choque de oferta, e as implicações para a política monetária são bem mais ambíguas”, afirmou o diretor, em coletiva sobre o Relatório Trimestral de Inflação (RTI). “Faz mais sentido pensar que aumento de risco fiscal tem implicações negativas para inflação”, completou.
Desapontamento
Kanczuk reconheceu que há desapontamento com atividade de curto prazo, com leve tendência de queda, gerando revisões nas projeções do BC para o PIB. A autoridade monetária reduziu sua estimativa para o crescimento do de 2022, de 2,1% para 1,00%. “A revisão de 2021 é pequena e uma reação à decepção de dados recentes”, explicou.
Já para 2022, a revisão considera que a contribuição da agropecuária será melhor após a queda deste ano. A autoridade monetária reduziu sua estimativa para o crescimento do PIB de 2022, de 2,1% para 1,00%. “Em 2022, há perspectiva de safras melhores, o que ajuda PIB e pode explicar diferença em relação Focus. Ainda assim, a redução de projeção de PIB de 2022 deve-se à piora de condições financeiras, que pega no consumo das famílias e nos investimentos”, completou.
Para Kanczuk, os serviços estão voltando no Brasil e devem ajudar atividade no ano que vem “Porém, o consumo de duráveis no Brasil não é tão exuberante quanto EUA. No Brasil, parece ter tanto mais demanda de duráveis quanto menos oferta. A indústria brasileira tem tido dificuldades em conseguir alguns insumos e os preços de industriais tiveram uma alta imensa”, afirmou.
Commodities em dólar
O diretor de Política Econômica do Banco Central disse ainda que tem havido um aumento de volatilidade e um pouco de queda nos preços de commodities em dólar, mas considerou que ainda é muito cedo para dizer o que vai acontecer com os preços desses produtos.
“Essa queda se torna mais expressiva se separarmos as commodities de agropecuária, que continuam em alta, as metálicas, com um pouco de queda, e as energéticas, com uma queda impressionante. Essa baixa de commodities energéticas antes do Copom influencia projeções de balança comercial e inflação de curto prazo. Mas está tudo muito volátil e tudo pode mudar, não dá para dar muito peso para queda de commodities”, afirmou Kanczuk, na entrevista coletiva sobre o Relatório Trimestral de Inflação.
Inflação registrada
Em novembro, o IPCA foi de 0,95%, fechando no maior nível para o mês desde 2015 (1,01%) e acumulando alta de 10,74% em 12 meses. No ano, até novembro, a inflação é de 9,26%.
O índice é pressionado, especialmente, pelo aumento dos preços de combustíveis. Segundo o BC, itens mais associados à inflação subjacente também contribuem. “A pressão sobre os preços de bens industriais ainda não arrefeceu, enquanto a inflação de serviços já se mostra mais elevada, refletindo a gradual normalização da atividade no setor [muito impactado pela pandemia de covid-19]”, diz o relatório.
Com a alta da inflação, na semana passada o BC elevou a Selic pela sétima vez consecutiva, de 7,75% para 9,25% ao ano, e deve promover nova alta na próxima reunião do Copom, em fevereiro. A taxa básica de juros é o principal instrumento usado pelo Banco Central para alcançar a meta de inflação. A elevação da Selic, que serve de referência para as demais taxas de juros no país, ajuda a controlar a inflação porque causa reflexos nos preços, já que juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, evitando a demanda aquecida.