Primeiros balanços do 4T21 nos EUA decepcionam. O que esperar da temporada?
Com índices americanos marcando o topo histórico nas últimas semanas, os analistas divergem com relação ao futuro das bolsas dos Estados Unidos. O grande driver previsto para as próximas semanas são os balanços do 4T21 – cuja temporada já teve um pontapé inicial, vistos negativamente.
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“Após a segunda semana de balanços, 29 empresas do S&P 500 que representam 8% dos ganhos do índice publicaram seus resultados. Metade das vendas vieram em linha com as taxas ‘usuais’ da primeira semana de balanços (47%). Apesar disso, ficaram bem abaixo da média pós-Covid de 67%”, destacam os analistas do Bank of America (BofA).
A analista Savita Subramanian, do BofA, lembra que a semana foi impulsionada pelos balanços de finanças e energia e que, agora, as projeções são de que o lucro por ação do 4T21 tenha uma alta de 3% em relação ao mesmo período do ano passado.
Contudo, Subramanian atenta para os riscos negativos para as estimativas para todo o ano de 2022: “Orientações negativas e cortes nas estimativas provavelmente estão por vir”.
Nos balanços dos bancos, tradicionalmente os primeiros da fila na divulgação, os lucros ficaram cerca de 5% acima do consenso.
“As reações das ações dos bancos sugerem que os investidores estavam esperando um aumento maior do que o esperado nas despesas, impulsionada principalmente pelas liberações de reservas”, afirma Subramanian.
Sobre a semana que acabou na sexta (21), a analista destaca que são balanços “leves”, com apenas 9% da composição do S&P a ser divulgada – ainda com concentração no setor financeiro.
Nesse sentido, até esta segunda, 65% dos lucros das companhias financeiras devem ser divulgados.
“Apesar do cronograma leve, os ganhos se estendem aos cíclicos (Industriais, Materiais, Energia), e esperamos ouvir mais sobre os principais tópicos: impacto da Omicron, poder de preços, mercados de trabalho, questões da cadeia de suprimentos, demanda e China”, finaliza Savita.
Mão de obra no radar dos balanços do 4T21
A escassez de mão de obra é cada vez mais evidente nos lucros das companhias, segundo o BofA. A Delta Airlines (DAL) – a única empresa não financeira de S&P a integrar a divulgação dos balanços do 4T21 na semana passada – cortou cerca 25% dos voos regionais no primeiro semestre de 2022 devido à falta de pilotos.
“Para o S&P 500, a pressão salarial é um risco maior para as margens do que qualquer outro custo de entrada. Nosso Indicador de Miséria Corporativa, que usa os ganhos médios por hora como principal insumo de custo, foi fortemente correlacionado ao ciclo de alta e ainda está em território positivo, mas caiu das altas de 2021″, consta no documento do banco.
Segundo os dados oficiais, a mão de obra representa algo em torno de 40% dos custos totais do setor corporativo dos EUA. Ou seja, uma escassez contínua de mão de obra representa pressão de margem para as companhias, e consequentemente menos lucro.
Os dados agregados de cartão de crédito e débito do BofA também indicam um avanço contínuo da Ômicron nos gastos com serviços, principalmente para companhias aéreas e serviços de entretenimento.
“O consumidor também está sentindo o impacto, o que é revelado pelo índice de Sentimento do Consumidor (junto com Vendas no Varejo e Produção Industrial) decepcionando em janeiro”, frisa o banco americano.
Goldman Sachs figura como ‘decepção’
Na terça (18) o Goldman Sachs (GSGI34) divulgou seu balanço com resultados que decepcionaram e ocasionaram uma retração imediata de cerca de 7% nas ações. Desde 14 de janeiro até o pregão desta sexta, dia 21, os papéis da companhia desvalorizam 9,7% na NYSE.
O banco americano teve queda de 13% no lucro do 4T21, de US$ 3,94 bilhões, comparado ao ganho de US$ 4,50 bilhões em igual período do ano anterior.
O resultado equivale a um lucro por papel da empresa de US$ 10,81 no período. O ganho líquido atribuível ao acionista foi de US$ 3,81 bilhões.
O balanço do Goldman Sachs foi afetado por volumes de negociações fracos nos mercados de capitais, uma vez que o Fed (Federal Reserve, Banco Central dos Estados Unidos) iniciou o processo de tapering (redução no ritmo de compras de ativos), após 18 meses injetando liquidez nos mercados para combater os efeitos adversos da pandemia.
A receita total da companhia, por sua vez, subiu de 11,74 bilhões nos últimos três meses de 2020 para US$ 12,64 bilhões no trimestre final de 2021. Essa métrica superou o consenso do mercado, que era de US$ 12,04 bilhões.
Netflix confirma ‘maré ruim’
Mais recentemente, nesta quinta (20), a Netflix (NFLX34) divulgou resultados que também não animaram na Nasdaq, bolsa de valores onde é listada.
Segundo o resultado do balanço do 4T21 da companhia, o número de novos assinantes chegou a 8,28 milhões, valor acima das projeções do mercado, que esperava algo em torno de 8,19 milhões, de acordo com levantamento da StreetAccount. Mas os números do balanço não animaram o mercado.
A empresa quase dobrou o número de assinantes entre este trimestre e o anterior. No terceiro trimestre, o número de novos assinantes foi de 4,4 milhões. Com isso, a Netflix possui agora 222 milhões de assinantes ao redor do globo.
Além disso, a companhia estima conseguir 2,5 milhões de novos assinantes no primeiro trimestre deste ano, sendo que no mesmo período em 2021 reuniu 3,98 milhões.
Mesmo com esses números, as ações da Netflix despencaram 11% no after market. Comparado ao mesmo período em 2020, o resultado foi menor.
Nesta sexta-feira (21), com o mercado digerindo os números dos balanços do 4T21, os papéis da companhia de streaming caíam 21,1%. Hoje, caem 3,41%