Em novo relatório sobre as empresas do setor aéreo, a Genial Investimentos avalia que o ano começa com uma perspectiva melhor do que em 2023. Neste contexto, a casa está elevando a recomendação da Azul (AZUL4) de manter para compra, com preço-alvo de R$ 23,00. Um dos motivos é o valuation descontado para 2024 e a possibilidade de colher benefícios da situação delicada da Gol (GOLL4), que teve recomendação rebaixada (de manter para vender).
Para 2024, a Genial avalia que as expectativas para o setor aéreo são mais positivas, impulsionadas por alguns fatores. Em primeiro lugar, os volumes de passageiros seguem em um patamar muito próximo aos observados no período pré-pandemia, apoiado por uma demanda resiliente e com espaço para continuidade do movimento de recuperação.
Além disso, os preços das passagens parecem estruturalmente mais altos, o que favorece as companhias aéreas. “Desde a retomada do fluxo de viagens no pós-pandemia, o setor convive com longas filas de espera para novas aeronaves. Por último, falando especificamente do Brasil, as crises envolvendo Hubs e a 123Milhas geraram uma pressão extra nos preços das passagens, um efeito que deve se estender por parte de 2024”, destacam os analistas.
Quanto à Azul, a research destaca que o processo de renegociação de dívidas da companhia foi mais bem conduzido que o da Gol, culminando em uma redução de R$ 4,3 bilhões dos passivos de arrendamento.
Dentro do cenário atual, a Genial espera uma adição de capacidade de 8% para 2024, acima da média do setor. O cenário favorável para o yield e para o preço de combustível deve ajudar a manter as margens da Azul nos patamares favoráveis de 2023. E as discussões com o governo sobre a estruturação de um fundo para ajudar a redução do custo da dívida podem beneficiar a empresa.
“Estimamos uma receita líquida de R$ 20,2 bilhões e um Ebitda de R$ 5,9 bilhões em 2024”, projeta a equipe da casa. A Azul ainda negocia com desconto em relação à sua média histórica e também em comparação com a média pós-pandemia, com um múltiplo de EV/EBITDA de 4,8x para 2024, em comparação com uma média histórica de 8x.
“Portanto, do lado positivo, o 4T23 da Azul deve ser marcado por um desempenho operacional robusto, acompanhado de uma receita recorde e volumes expressivos. Os dados do IPCA de passagens no período indicam um aumento de preço equivalente a 47% a/a favorecendo um novo incremento no yield”, afirma a Genial.
Azul: momento da Gol favorece a empresa, apontam analistas
A Genial rebaixou a recomendação para as ações da Gol. Segundo a casa, a entrada da Gol no processo de Chapter 11 (Recuperação Judicial nos EUA) pode abrir um espaço no mercado brasileiro, oferecendo uma oportunidade para outras companhias aéreas expandirem sua presença e capturarem uma parcela maior do mercado.
“Mesmo que a Gol não reduza capacidade, o momento delicado pode reduzir a confiança dos clientes, levando a uma migração para os concorrentes”, comentam os analistas.
Neste contexto, a Azul surge como uma candidata para preencher parte de um possível vácuo deixado pela Gol, se beneficiando de um cenário favorável, tanto pela migração da demanda, quanto por novas altas nas tarifas.
No caso da Gol, vários desafios ameaçam a rápida recuperação da empresa, incluindo a perda de participação de mercado, dificuldades de refinanciamento, uma possível conversão de dívida em ações – gerando uma diluição grande dos investidores.
Diante deste cenário, é esperado uma redução de capacidade de 4,4% para 2024, com receitas caindo cerca de 9% na comparação anual, margens comprimindo devido à maiores custos com manutenção e menor diluição de custos fixos. A Genial estima uma receita líquida de R$16,9 bilhões e um Ebitda de R$ 3,9 bilhões em 2024.
“As feridas da pandemia da Covid-19 foram profundas, segundo a própria Gol. O período limou cerca de R$ 20 bilhões em receitas e pelo menos R$ 10 bilhões de geração de caixa. Apesar da recuperação dos volumes e melhora do Ebitda, o resultado operacional só começou a retornar aos níveis pré-pandemia em 2023, prejudicando substancialmente a geração fluxo de caixa excedente necessário para pagar passivos diferidos no período”, explicam os analistas.
A research recomenda vender as ações da Gol, com preço-alvo de R$ 2.
Gol pede recuperação judicial nos EUA
No fim de janeiro, A Gol (GOLL4) pediu oficialmente recuperação judicial nos Estados Unidos. No comunicado da Gol, arquivado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a companhia ainda acrescenta que “assegurou US$ 950 milhões em financiamento para apoiar os negócios”.
Conforme detalhado em comunicado, o processo de recuperação judicial da Gol iniciado nos EUA inicia com um compromisso de financiamento de US$ 950 milhões, na modalidade debtor in possession (“DIP”) por membros do Grupo Ad Hoc de Bondholders da Abra – holding que controla a Gol – e outros detentores de bonds da Abra.
“A Companhia buscará acesso a esse financiamento como parte da audiência do Primeiro Dia com o Tribunal dos EUA, prevista para os próximos dias. O financiamento está sujeito à aprovação judicial e, juntamente com o caixa gerado pelas operações em curso, fornecerá liquidez substancial para apoiar as operações, que seguem normalmente, durante o processo de reestruturação financeira”, diz a companhia.
Em seu comunicado, a companhia ainda ressalta que apesar do pedido de recuperação judicial, os voos de passageiros da Gol, os voos de carga da GOLLOG, o programa de fidelidade Smiles e outras operações da companhia continuam normalmente.
Desempenho anual da Azul
Nesta quinta-feira (29), as ações da Azul caem 1,95%, cotadas em R$ 12,04.
Cotação AZUL4