Com o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro, ETFs expandiram-se em tamanho e amplitude. A chegada de alternativas suscitou uma transformação, em curso no País: de investimentos em índices temáticos, cujos focos trazem um ângulo diferente, desde millennials a tecnologias da próxima geração.
ETFs temáticos são diferentes de simplesmente setoriais. Em relatório de maio, a Morningstar definiu esses “temas” como pertencentes à macroeconomia ou a tendências estruturais que transcendem o ciclo de negócios tradicional. A título de exemplo, o IMAB11, o qual segue o índice teórico calculado pela Anbima IMA-B, não entraria nesse grupo.
Por outro lado, o universo delimitado pela empresa americana de investimentos incluiria o MILL11, que busca capturar valor de tendências socioculturais da geração millennial, de quem nasceu entre o início dos anos de 1980 e meados da década de 1990.
Quanto a ETFs de tecnologia, os fundos precisariam focar especificamente em um certo recorte. Seria o caso do BXTC39, um BDR de ETF exposto a tecnologias exponenciais, que substituem as mais antigas e criam novos mercados.
No Brasil, o mercado de fundos de índice tem se expandido e as temáticas, se diversificado. O fato de o MILL11 e o BXTC39 não existirem na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) antes de abril é uma indicação da tendência. Há cerca de um ano, eram 23 os ETFs listados no Brasil. Hoje, são 43 — sete de renda fixa e 36 de renda variável.
O crescimento foi visto como natural por Carlos Heitor Campani, professor de Finanças do Coppead-UFRJ, diante do aumento CPFs na B3 — de 2.648.975, em junho de 2020, para 3.738.203, de acordo com dados mais recentes. “Não me surpreende em nada,” expôs o especialista.
Com a Bolsa em crescimento, Campani disse ver uma “estrada de oportunidade” para ETFs temáticos. E neste oceano, “Itaú (ITUB4) e BlackRock (BLAK34) estão nadando de braçada”.
Ao puxar a lista de fundos de índice ou de BDRs de ETFs listados na B3, o investidor se deparará com duas marcas recorrentes: It Now e iShares, das gestoras Itaú Asset e BlackRock, respectivamente.
A empresas estão ampliando o cardápio de ETFs no Brasil e elevando a oferta de produtos diversos, com o objetivo de fisgar clientes nesta miríade de ativos. Novamente, o MILL11 (Itaú) e o BXTC39 (BlackRock) são exemplos recentes.
“Todo mercado no qual há uma profusão de produtos é necessário se diferenciar de algum modo,” apontou Campani. Como não há mais para onde descer em relação às taxas de administração, o jeito virou se diferenciar no tema.
“É igual roupa,” explicou o professor. “Você vai para a praia, sair e vai querer usar uma roupa maneira.” Em outras palavras, com ETFs temáticos, Itaú, BlackRock e demais gestoras procuram fugir do “cringe” e lançar algo descolado para fazer o cliente chegar junto.
Mercado de ETFs temáticos
Segundo relatório produzido pela Morningstar, fundos temáticos — não só ETFs, mas fundos em geral — foram um dos grandes vencedores a emergir da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), com muitos registrando retornos atraentes ao longo do período.
O interesse também aumentou. Ao longo de três anos, até março de 2021, conforme documento, o consolidado de ativos sob gestão mais do que triplicaram para US$ 595 bilhões (cerca de R$ 2,93 trilhões) mundialmente.
Apesar disso, o crescimento tem sido desigual entre as geografias. A participação de fundos temáticos é dividida quase que entre Estados Unidos e Europa — os maiores mercados. O resto do mundo vem depois.
“O Brasil já está atrasado em relação ao mercado financeiro estrangeiro. Se olharmos para o mercado estrangeiro como os Estados Unidos, é possível ver maior número de ETFs [temáticos],” apontou Tasso Lago, fundador da Financial Move.
“A perspectiva é de que o Brasil caminhe neste aspecto também. As gestoras já perceberam que ETFs são o futuro. Este é um mercado bem interessante para a profissionalização do mercado financeiro brasileiro.”
Ainda de acordo com dados da Morningstar, mais de dois terços dos fundos temáticos, em geral, sobreviveram e superaram os mercados de ações mundialmente no acumulado de 12 meses encerrado em 31 de março. A taxa de sucesso, no entanto, recua para 22% quando em um período de 15 anos.
Não obstante, Fernando Carvalho, CEO da QR Capital — gestora especializada em criptoativos cujo ETF de bitcoin estreou recentemente na B3 —, disse enxergar uma ligação entre foco e retorno no que diz respeito a fundos de índice temáticos.
“Conseguem ser mais cirúrgicos do que ETFs não-temáticos na captura de retornos correlacionados a segmentos menores do mercado. O retorno dos fundos de índice temáticos tendem a ser mais marcantes, pois ao convergir a cesta de investimento para uma quantidade menor de ativos acabam ficando menos diversificados.”
‘O céu é o limite’
Na análise de Carvalho, as perspectivas para o mercado são positivas dada a migração de investidores para a classe de ativos. “A perspectiva é de que surjam novos ETFs temáticos em velocidade acelerada para atender a esta crescente demanda dos investidores.”
A projeção foi corroborada pelo professor de Finanças do Coppead-UFRJ Carlos Heitor Campani, quem acredita na expansão do ainda jovem mercado de fundos de índice temáticos no Brasil.
“A popularização dos ETFs representa democratização dos investimentos,” afirmou. “O céu é o limite.