Apesar de negar uma “relação mecânica entre a convergência de inflação e a apresentação do arcabouço fiscal”, a Ata do Copom publicada nesta terça-feira (28) cita que, a depender da solidez das medidas que o Governo Federal apresentar, pode haver um um processo de desinflação.
“A incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública e uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos” foram citados pela Ata do Copom como pontos de risco relevantes que foram considerados na última reunião.
“O Comitê avalia que o compromisso com a execução do pacote fiscal demonstrado pelo Ministério da Fazenda, e já identificado nas estatísticas fiscais e na reoneração dos combustíveis, atenua os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação no curto prazo”, seguiu.
Segundo André Fernandes, Head de Renda Variável e sócio da A7 Capital, o tom seguiu duro na Ata do Copom.
“Na minha visão, caso o arcabouço agrade o mercado quando for divulgado, tomando como histórico do nosso presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que no passado aguardou a votação da reforma da previdência para começar a cortar a SELIC em 2019, podemos aguardar um movimento parecido para a próxima reunião do COPOM caso o arcabouço seja divulgado a tempo. Esperamos SELIC para o fim do ano entre 12,50% e 12,75%”, comenta,
Além disso, o Banco Central destacou o cenário de crédito desfavorável no exterior, que envolveu a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e a venda do Credit Suisse.
“Ao avaliar os fatores que poderiam levar à materialização de cenário alternativo caracterizado por uma taxa de juros neutra mais elevada, enfatizou-se a possível adoção de políticas parafiscais expansionistas, que têm o potencial de elevar a taxa neutra e diminuir a potência da política monetária, como já observado em comunicações anteriores do Comitê”, consta na Ata.
Por fim, as expectativas de inflação ainda foram consideradas ‘elevadas’ pela autoridade monetária, e o BC destacou que os núcleos da inflação que reagem aos juros mais altos seguiram inertes.
“As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se e encontram-se em torno de 6,0% e 4,1%, respectivamente”, comenta a Ata do Copom.
Veja a última decisão do Copom
O Copom anunciou na última semana a quinta manutenção consecutiva da Selic em 13,75% ao ano. Contudo, a decisão não pegou o mercado de surpresa.
Conforme a prévia do Suno Notícias, todas as instituições financeiras e especialistas consultados projetaram manutenção da taxa Selic. Sem o arcabouço fiscal, em meio à pressão inflacionária no Brasil e no mundo, junto à crise bancária global, as expectativas eram de que o Banco Central escolhesse seguir o mesmo plano de voo.
É importante lembrar que a taxa Selic permanece no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano. Desde agosto do ano passado, o Banco Central não alterou a taxa básica de juros do País. Anteriormente, o comitê elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis.
O economista-chefe da Blue3 Investimentos, Roberto Simioni, destaca que o arcabouço prometido para antes do Copom, e que prometia atender às exigências da responsabilidade fiscal, levou parte do mercado a acreditar que o BC sinalizaria o interesse de início de um ciclo de cortes da Selic.
“Entretanto, essa expectativa foi frustrada, com a alteração de datas previstas na apresentação e a natural incerteza quanto ao teor do arcabouço, levou o mercado a ajustar para cima as projeções sobre juros. De outro lado, o anúncio de manter a Selic no patamar de 13,75% mostra que o Banco Central segue empenhado no controle da inflação”, pontua Simioni.
No comunicado – o do dia da reunião, antes da Ata do Copom – destacou que a recente reoneração dos combustíveis reduziu a incerteza dos resultados fiscais no curto prazo. Contudo, o comitê enfatizou que está mais atento à conjuntura marcada pela alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas em relação às metas em horizontes mais longos.