A Ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, ou Ata do Copom, destacou que o arcabouço fiscal e as novas regras apresentadas reduzem as expectativas de inflação, e somam ao fato de que medidas tributárias perdem efeito ainda nos próximos meses. O documento faz jus à reunião realizada entre 2 e 3 de maio, em que a taxa básica de juros, a Selic, foi mantida em 13,75%.
“No segundo semestre de 2023, como os efeitos das medidas tributárias que reduziram o nível de preços no terceiro trimestre de 2022 não estão mais incluídos na inflação acumulada em doze meses e ainda se terá a inclusão dos efeitos das medidas tributárias deste ano, se observará elevação do mesmo indicador”, consta na Ata do Copom.
Apesar disso, o Comitê de Política Monetária destacou que o panorama “não reflete a dinâmica inflacionária subjacente”.
O BC destacou que a dinâmica deve seguir uma lógica de dois estágios.
“No primeiro estágio, já encerrado, a velocidade de desinflação foi maior, com maior efeito sobre preços administrados e efeito indireto nos preços livres através de menor inércia”, diz o colegiado.
“No segundo estágio, que se observa atualmente, a velocidade de desinflação é menor e os núcleos de inflação, que respondem mais à demanda agregada e à política de juros, se reduzem em menor velocidade, respondendo ao hiato do produto e às expectativas de inflação futura”, completa.
BC sobre o arcabouço fiscal
Sobre o arcabouço fiscal, o comitê aponta que as novas regras podem descomprimir o cenário atual, reduzindo projeções futuras de juros e inflação.
“A materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia, o prêmio de risco associado aos ativos domésticos e, consequentemente, as projeções do Comitê”, diz a Ata.
Sobre o exterior, o Copom destaca que a ociosidade em baixo nível no mercado trabalho em diversas economias e uma inflação ainda elevada no segmento de serviços pode ser um sinal de que as pressões inflacionárias ainda devem demorar para se dissipar.
“Nesse contexto, a redução das pressões inflacionárias continua a requerer o compromisso e a determinação dos bancos centrais com o controle da inflação, através da manutenção de um aperto de condições financeiras mais prolongado”.
Ata do Copom sobre crise dos bancos
Ainda sobre o exterior, o documento cita – sem mencionar nomes – os eventos recentes que afetaram bancos e instituições financeiras.
Como exemplo, a quebra do Silicon Valley Bank (SVB), a derrocada e venda do Credit Suisse e a crise do First Republic Bank.
“Os episódios envolvendo bancos no exterior têm elevado a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até o momento, requerendo contínuo monitoramento”, diz a Ata do Copom.
“Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente. Em diversos países, as leituras de inflação recentes apontam para alguma estabilização dos núcleos de inflação em patamares superiores às suas metas e reforçam o caráter persistente do atual processo inflacionário”, completa.
Concessão de Crédito
Sobre a concessão de crédito no Brasil, o documento aponta que o comportamento se mostra compatível que o cenário atual, dada a taxa básica de juros e o juro real, ainda que as ofertas sejam menores em algumas modalidades específicas.
“O Comitê antecipa uma moderação na concessão do crédito ao longo dos próximos meses, mas em linha com o que se observou em ciclos anteriores de aperto de política monetária. O Comitê reforça que o Banco Central possui os instrumentos de liquidez apropriados e necessários, ligados à política macroprudencial, para tratar das fricções relevantes localizadas no sistema, caso ocorram”, diz a Ata do Copom.