O Banco Central (BC) adotou uma postura mais “vocal” sobre a questão fiscal na última ata divulgada do Comitê de Política Monetária (Copom), segundo análise do economista-chefe do Rabobank, Mauricio Une.
A ata do Banco Central que foi analisada pelo especialistas diz respeito à reunião do Copom que elevou a Selic ao patamar de 7,75% ao ano, feita na quarta-feira passada, dia 27.
“A ata foi bem mais ‘hawkish‘ que o comunicado”, afirma. “Dessa vez, o BC foi mais vocal em como esse questionamento em relação à situação fiscal aumenta o prêmio de risco que, por sua vez, acaba aumentando o risco de desancoragem das expectativas.”
Para a economista, apesar de deixar a porta de certa forma aberta, a ata indica uma maior propensão para manutenção do novo ritmo de alta, de 1,5 ponto porcentual, no próximo reajuste, mas com possibilidade de extensão do ciclo.
“Agora não estamos mais falando em regular ou diminuir o estímulo monetário. Desta vez, o Copom está sendo bastante explícito ao dizer que já estamos fazendo o aperto monetário e menciona de forma bastante clara que alterar a regra do teto de gastos acabou fazendo com que a taxa de juros neutra também possa ser mais alta.”
Une mantém as projeções para inflação no final de 2021, de 9,3%, e de 2022, de 4,3%, além das expectativas para Selic a 9,25% no encerramento deste ano e com taxa terminal de 10,50% em março do próximo ano.
“Mantido esse ritmo e estendendo o ciclo dentro de 2022, aumentam as chances do BC de deixar a inflação dentro das bandas, se aproximando da meta de 2022.”
O economista acrescenta que na ata o BC continuar a sinalizar que prefere suavizar a flutuação no nível de atividade econômica e pleno emprego. Apesar disso, se for necessário, acredita que, para ancorar as expectativas tanto de 2022 quanto de longo prazo, a instituição pode rever expectativas e também incorporar apertos mais profundos, o que pode ocasionar em uma atividade ainda mais fraca no próximo ano.
O Rabobank projeta crescimento de 0,8% para o PIB em 2022.
Taxas de juros disparam com tom ‘hawskish’ da ata do Banco Central
Os juros futuros disparam na manhã desta quarta (3), com os mais curtos com avanço de 30 pontos-base após o Banco Central ter sinalizado na ata do Copom que pode ir além da alta de 150 pontos-base da Selic.
O BC também afirma ser que o grau apropriado de aperto monetário é “significativamente mais contracionista” do que o utilizado no cenário básico. Além disso, o mercado está cauteloso diante da expectativa de votação da PEC dos Precatórios na Câmara.
“Dúvida agora é se o BCB está preocupado com a atividade vs estar de mãos atadas ao consenso do mercado. Ruídos na comunicação devem seguir gerando volatilidade na curva e dificultando o trabalho do Tesouro, que não tem conseguido emitir nas ultimas semanas, reduzindo o conforto com o colchão de liquidez, mesmo que ainda em um patamar com bastante margem de manobra”, diz o operador de renda fixa sênior da Renascença DTVM, Luis Felipe Laudisio, em relatório.
Na manhã desta quarta, a taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subia para 12,61%, de 12,29% no ajuste anterior.
Após as mudanças feitas pelo Banco Central, o DI para janeiro de 2025 subia para 12,79%, de 12,49%, e o para janeiro de 2027 batia máxima de 12,74%, de 12,53% no ajuste anterior.
Com informações do Estadão Conteúdo