Ata do Copom mais ‘hawkish’ muda projeções do mercado
A Ata do Copom, divulgada no início desta terça (8), sinalizou uma preocupação extra do Banco Central com a política fiscal do país, que poderia impactar a inflação. Além disso, o documento surpreendeu os analistas com a ausência de sinalização da magnitude dos próximos ajustes.
A Ata do Copom também enfatizou que deve ocorrer uma diminuição no ritmo de ajustes. O documento ainda apontou para o descumprimento da meta de inflação em 2022, precificando o IPCA deste ano em 5,4%.
“No documento, o comitê alerta para o risco de se adotarem políticas fiscais que tenham como objetivo conter a inflação de curto prazo, mas que no médio e longo prazos podem ter o efeito oposto”, observa Leandro Vasconcellos, Head da mesa de alocação Alta Renda e sócio da BRA.
“O alerta acontece por causa das recentes discussões no legislativo no sentido de se tentar reduzir o preço dos combustíveis no curto prazo alterando o arcabouço fiscal”, acrescenta.
Após a publicação do documento do Banco Central o mercado de juros futuros mudou com o teor “hawkish” da autoridade monetária.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, sendo que o DI para janeiro de 2023 teve taxa de 12,115% ante 11,950% no ajuste anterior; já o DI para janeiro de 2025 ia a 11,120%, de 10,970% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,255% de 11,115%, na mesma comparação.
Veja os principais pontos do documento do BC:
- O aperto monetário nos EUA cria condições mais difíceis para os mercados emergentes;
- Dados mostram ligeira evolução da atividade brasileira no final de 2021;
- Persistência da inflação no Brasil segue alta;
- Um risco baixista para a inflação é uma eventual queda nos preços das commodities em reais;
- Os riscos de alta são as atuais políticas fiscais, que podem dar impulsos adicionais à demanda agregada e deteriorar a trajetória fiscal. A incerteza pode desancorar as expectativas e gerar mais riscos inflacionários;
- O Copom ainda ressalta que é apropriado que o aperto monetário avance significativamente em território contracionista;
- Para as próximas reuniões, Copom sinaliza que a desaceleração do ritmo de alta é mais adequada, mas pode ser ajustada para garantir a convergência da inflação para a meta
“O tom mais hawkish da ata do Copom pesou sobre os negócios no mercado acionário e forçou para cima os juros futuros. Isto, por sua vez, trouxe impacto sobre ações mais sensíveis aos juros, como as empresas de tecnologia”, analisa o economista Alexsandro Nishimura.
O analista destaca que o BC indicou que o processo de elevação da Selic não deve parar na reunião de março.
“O documento foi ainda mais incisivo ao dizer que possíveis intervenções fiscais que reduzam o IPCA no curto prazo podem aumentar o prêmio de risco do país, o que atua como fator de pressão altista para a condução da Selic”, comenta.
Essa comunicação ‘rígida’ da autoridade deve afetar novas projeções para a Selic, ainda em ciclo altista – que deve se estender até o fim do ano, segundo o consenso do mercado.
Com Ata do Copom, BofA muda expectativas
Com a mudança de tom do BC, o Bank of America (BofA) vê uma comunicação mais “intensa” e que o caminho para ancorar mais uma vez as expectativas de inflação deve ocasionar uma alta de juros para o patamar de 12,2% em maio.
“Após a alta de 150pb na semana passada, levando a taxa Selic para 10,75%, o BC afirmou que a desaceleração do ritmo de alta é o caminho mais adequado para alcançar a convergência da inflação para a meta e reancorar as expectativas, mas deu a entender que haverá mais ajustes à frente, em vez de um final em março, como esperávamos”, dizem os analistas.
“Dados os sinais de hoje, esperamos agora que o BC suba a Selic mais duas vezes, mas desacelerando o ritmo. Em março, deve subir 100bps, seguido por uma alta final de 50bps em maio. Mantemos nossa projeção para o ano de 2023 em 9,5%”, projeta o BofA.
Apesar disso, o banco observa que a incerteza em torno dos preços de ativos e commodities diminuiu a assertividade do BC acerca da magnitude dos próximos ajustes na taxa de juros.
“O conselho considerou que o risco de desancoragem das expectativas de mais longo prazo, decorrente da evolução do cenário fiscal, sustenta um viés de alta para as projeções no seu cenário de referência. Considerando essa assimetria ao balanço de riscos, o Copom avaliou que suas projeções estão acima da meta para 2022 e em torno da meta para 2023″, diz o BofA.
Com a Ata do Copom em mãos, os economistas afirmam ainda não terem clareza do que será o “processo mais apertado” citado pela autoridade monetária – o que pode levar a uma taxa Selic mais alta, seguida de cortes, ou ao mesmo nível final previsto com um ciclo de flexibilização adiado do cenário de referência.