Pode isso, Arnaldo? Ex-árbitro aposta em dividendos como investidor

Primeiro árbitro brasileiro a apitar uma final de Copa do Mundo e ex-comentarista da “TV Globo”, Arnaldo Cezar Coelho, 77, pode dizer que atingiu o auge da carreira.

O que pouca gente sabe, contudo, é que Arnaldo Cezar Coelho também teve uma trajetória de sucesso no mercado financeiro, onde foi agente autônomo, dono de corretora, e, principalmente, investidor.

Com bordões famosos em parceria com o narrador Galvão Bueno, para o ex-arbitro a regra é clara: investir é se tornar sócio das empresas por um longo período. Se a companhia escolhida pagar dividendos, melhor.

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“Eu sou muito favorável a dividendos. Quando compro ações, não falo apenas que investi na empresa. Mas, sim, me tornei sócio. Eu não posso ser sócio de empresas que não paguem dividendos”, afirmou o ex-comentarista, que aprendeu a investir com o irmão, Ronaldo Cezar Coelho.

Os setores preferidos de Arnaldo Cezar Coelho muito tem a ver com sua filosofia de investimentos, sempre de longo prazo. Ele prefere o setor bancário e de energia, tradicionais pagadores de dividendos.

Aos que chegam agora ao campo dos investimentos, uma dica daquele que levou a credibilidade de árbitro ao mercado e a independência do mercado aos campos. Como quem responde “Pode isso, Arnaldo?”, ele diz: no mercado, o que pode mesmo é a diversificação.

“Eu prefiro não ter grandes lucros, mas não ter grandes prejuízos também. Então eu diversifico. Essa é a palavra chave do mercado. Diversificar é não botar todos os ovos na mesma cesta”, disse o investidor, que possui, além de ações, ouro, renda fixa, dólar e imóveis físicos.

Confira a entrevista exclusiva do SUNO Notícias com o ex-árbitro de futebol, ex-comentarista, empresário e investidor Arnaldo Cezar Coelho:

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-Como o senhor começou no mercado financeiro?
Quando acabei o segundo grau, eu fui me preparar para o vestibular de economia em um cursinho. E eu tinha um professor que me chamou de canto e disse que eu não ia passar em economia, porque eu faltava muito para trabalhar na Nestlé, fazendo promoções dentro de supermercados, os preparando para o dia seguinte. Aí esse professor disse que eu era ligado ao esporte, apitava futebol de praia, com 19 anos, e ele falou pra eu prestar vestibular para Educação Física.

Eu acabei me inscrevendo para o vestibular de Educação Física, passei e logo no primeiro ano, quando eu fazia um curso de técnico de futebol, eu passei em um concurso do colégio Pedro II, do RJ, que é um dos mais conceituados da cidade, para dar aulas.

Dei aula lá por 29 anos, me aposentei, mas durante esse período, como sempre fui inquieto, comecei a descobrir novas atividades. Uma delas foi que a minha mãe me ensinou a comprar apartamentos com o primeiro dinheiro que ganhei no futebol.

Esse apartamento tinha as parcelas mensais pequenas, mas com parcelas intermediárias de seis em seis meses. Uma porrada. Aí ela falou: apartamento você arrepende do que vende, não arrepende do que compra. É um bem e eu me virava para pagar de seis em seis meses aquela parcela intermediária.

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Meu irmão [Ronaldo Cezar Coelho], que já era operador de pregão da Multiplique, falou que no prédio dele tinha uma propaganda de Letra de Câmbio do Safra que vencia de seis em seis meses. Aí eu fui até o Safra e o cara já me conhecia do futebol e eu passei a comprar essas LCs para casar com a parcela do apartamento.

Na terceira vez que eu levei dinheiro vivo que eu ganhava no futebol, um cara que eu sempre conversava na agência me perguntou se eu não queria ser agente autônomo de investimento. Isso em 1970, 1971. Eu falei que não sabia fazer conta naquelas calculadoras complexas da época, mas ele disse que, como eu conhecia muita gente do futebol, eu conseguiria clientes e levaria lá. Cada produto que eles vendiam, eu ganhava comissão.

Com a comissão, eu comprava mais Letra de Câmbio. E a função de agente autônomo também começou a crescer. Nessa, os clientes da Bolsa do Rio de Janeiro começaram a aparecer também.

Começou a pintar cliente e, mesmo eu sem fazer conta, fui crescendo como agente autônomo, mas sempre voltado à área comercial. Sempre voltado a captar clientes novos.

-O senhor tinha bastante contato? Sabia vender os produtos, por isso se dava bem nessa área?
Sim. Eu comecei a apitar e o futebol me deu popularidade e credibilidade. O mercado financeiro me dava independência no futebol, já que as vezes eu ganhava muito mais no mercado do que nos campos. E ainda dava aula.

Eu fui crescendo, abrindo fundos, comprando CDB de banco estadual, e eu tinha uma boa empresa com muitos produtos na prateleira, que era a Multiplic. Então eu comecei a criar uma área comercial na Multiplica com 12 caras fazendo captação, overnight, operação longa, CDB, etc.

Em 1985, a Multiplic já tinha visitado banco e eu era diretor da área comercial e de marketing. Eu fazia campanha publicitária, escrevia, fazia tijolinho e nisso eles me mandaram morar em São Paulo.

Eu não quis e optei por abrir uma distribuidora de valores, com clientes pequenos. Montamos a corretora, coloquei o nome de Liquidez e começamos com sete pessoas. Quando vendi para os gringos [da BGC Partners, em 2009] tínhamos 250 pessoas.

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Depois comprei título da BM&F, virei corretor, fui do conselho da BM&F, tudo isso como professor de educação física com o dom de fazer amigos dentro e fora do Brasil.

A empresa chegou a fazer 13% do montante da BM&F, segunda colocada no ranking, só atrás da Link, dos Mendonça de Barros.

Depois, eu vendi a corretora, que virou BGC Liquidez, que existe até hoje e eu continuei com outros negócios.Hoje sou investidor, estou ligado no mercado financeiro mais do que nunca.

-O senhor têm algum setor preferido?
Agora, mais do que nunca, eu compro ações para me tornar sócio e ganhar dividendos. Eu aprendi com meu irmão. Ele nunca fumou na vida e ele colecionava ações da Souza Cruz [empresa de tabaco]. Chegou a ter 5% da empresa, sem nunca fumar. Isso porque a Souza Cruz tinha um bom caixa, pagava juros sobre dividendo próprio e dividendo do lucro da empresa também.

E tudo que ele ganhava de dividendo, reaplicava, e chegou a ter 5%. Também fez parte do Conselho da empresa. Hoje, ele tem 20% da Energisa e 20% da Light.

-Qual sua filosofia de investimentos?
A primeira coisa que eu fiz foi diversificar o meu dinheiro. Tenho ouro, dólar, imóvel, título de renda fixa, mesmo com a Selic a 2,25%. Já ações eu compro e permaneço com elas. Eu não vendo ação e, por isso, eu ter prejuízo em ação é muito difícil.

Hoje em dia você pode ter um dinheiro para comprar e vender, mas eu sou muito ansioso, não tenho a calma que os profissionais de mercado têm. Hoje, com os juros zero no mundo, até negativos em alguns países, o melhor atrativo vai ser Bolsa. E papéis de empresas que você ache que tem futuro, que saibam administrar o negócio, e te paguem dividendos. Empresas de energia são empresas boas, assim como os bancos.

O governo não vai permitir que os bancos paguem mais de 25% neste ano. Sem problema. Ano que vem ele volta a pagar mais. Então é uma questão de tempo. Se você é investidor de longo prazo, você vai ganhar.

Eu tenho 77 anos, então mesmo vendo muita coisa, sempre se aprende. O que eu estou aprendendo agora, nessa quarentena, não está no gibi.

-Quantas empresas no portfólio o senhor tem hoje?
No Brasil, eu tenho seis ou sete empresas só. Não tenho muita não. Tenho empresas de energia e setor bancário , principalmente.

-Como o senhor fazia para conciliar tanta coisa?
Eu nunca fiz nada bem feito, porque para fazer bem feito, você tem que estar focado naquilo e eu nunca consegui. Mas eu acertei mais do que eu errei.

-O senhor foi juiz de final de Copa do Mundo. Isso é mais que acertar..
Aí tem que compor uma coisa. O primeiro é sorte, o segundo competência, o terceiro é estar no lugar certo, na hora certa. Não adianta propagar um produto que não seja bom. Se você não fosse bom, não estava trabalhando aí por mais que tivesse amigos aí no SUNO Notícias. Então é uma conjunção de fatores.

-O senhor, como árbitro internacional, sempre viajou muito. O senhor sempre apostou em uma equipe boa para te suprir nessas horas?
Sempre, sempre, sempre. Eles me davam susto as vezes, claro. Nem só de glórias se vive no mercado financeiro. O patrimônio da Liquidez no início da década de 1990 era de R$ 2 milhões e um garoto errou e perdemos R$ 1 milhão. Depois recuperamos e ganhamos mais R$ 3 milhões.

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Atualmente, com essas quedas todas causada pela crise do coronavírus (covid-19), você vai aprender muito.

-O senhor que gosta de dividendos, gosta de fundo imobiliário?
Depende do ativo do fundo imobiliário. Nessa crise, só uns três ou quatro estão se dando bem. Hoje, você vende na Bolsa, mas eu prefiro ter imóvel fixo.

-Estamos vendo uma ida massiva à Bolsa. Qual conselho o senhor daria para quem está começando?
A regra é clara. Tem dois tipos de investimentos: renda fixa e renda variável. A renda fixa você aplica e sabe quanto vai ganhar, já a variável o próprio nome está dizendo, ela varia.

Você pode comprar por 10 e estar 15 o final do ano, mas também por 5. Então, por isso, eu aconselho aos clientes que queiram comprar para “sentar em cima do papel”, comprar empresas que paguem dividendos, porque, se cair, ao menos os dividendos atenuam a queda da ação.

Algumas ações são puramente especulativas, de empresas com uma série de variáveis, mas eu prefiro não ter grandes lucros, mas não ter grandes prejuízos também. Então eu diversifico. Essa é a palavra chave do mercado. Diversificar é não botar todos os ovos na mesma cesta.

Eu sou muito favorável a dividendos. Eu quando compro ações, eu não falo apenas que investi na empresa. Mas, sim, me tornei sócio. Eu não posso ser sócio de empresas que não paguem dividendos.

Entrevista com Arnaldo Cezar Coelho

Vinicius Pereira

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