A Argentina está prestes a ingressar em uma nova crise financeira.
A recessão mundial provocada pela pandemia do novo coronavírus (covid-19) levou a Argentina a prenunciar um novo calote em suas dívidas.
Na semana passada, a vice-presidente Cristina Kirchner e seus aliados pediram para adiar o acordo para o pagamento de US$ 44 bilhões (cerca de R$ 250 bilhões) com o Fundo Monetário Internacional (FMI) até que a pandemia diminua.
O próprio presidente argentino, o peronista Alberto Fernandez, tinha declarado acreditar que o FMI deveria conceder mais tempo ao país vizinho, além de termos mais flexíveis.
Em bom português, isso se chama anúncio de calote.
Há meses a Argentina está tentando negociar com o FMI termos de reestruturação da dívida, obtida pelo antecessor de Fernandez, o liberal Maurício Macri, no final de seu mandato, para tentar amenizar a desvalorização do peso argentino.
O ex-mandatário tinha negociado um empréstimo de US$ 55 bilhões com o órgão internacional, mas o atual governo se limitou aos US$ 44 bilhões.
Os acordos com o FMI previam que Buenos Aires cumprisse uma série de medidas macroeconômicas, como cortes nos gastos públicos e redução drástica da inflação, que está por volta dos 50% ao ano (no Brasil estamos em cerca de 3-4% por ano).
Mas o governo de Fernandez não quer levar adiante essa política econômica que considera restritiva.
Para o atual Executivo, a crise provocada pelo covid-19 deixa impraticável qualquer corte. Além disso, a chegada das eleições legislativas no dia 24 de outubro deste ano estão levando o governo a desconsiderar seus compromissos e antecipar o início de uma nova rodada de renegociação com o FMI.
Além da dívida com o FMI, existe também uma outra dívida, de US$ 2 bilhões, com o Clube de Paris, que deixa a situação ainda mais pesada.
No total, o país vizinho tem US$ 324 bilhões de dívida pública, cerca de 90% do PIB. Entretanto, é bom lembrar que a crise de 2001 ocorreu quando a dívida pública representava cerca de 60% do PIB.
A Argentina terá que quitar grande parte da dívida entre 2022 e 2023. Mas com a economia que sofreu uma contração de 10,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 esse reembolso parece impossível de ocorrer.
A esperança do governo é que 2021 seja o ano da recuperação após três anos consecutivos de queda do PIB.
Argentina em crise econômica permanente
A Argentina vive uma crise econômica permanente desde 2001, com mais de 40% da população – de um total de 45 milhões de habitantes – que vive abaixo da linha de pobreza.
O peso argentino perdeu mais de 30% do seu valor frente ao dólar somente em 2020, se confirmando a pior moeda entre os países emergentes pelo sexto ano seguido.
A crise provocada pelo coronavírus, combinada a recessão econômica, a inflação e ao êxodo de muitas empresas estrangeiras está piorando a situação.
As medidas descabidas de política econômica decididas pelo governo Fernandez, como o congelamento de preços, estão levando à consequências dramáticas, como o desabastecimento de alimentos nos mercados e a fuga de grandes empresas para países vizinhos, como o Brasil.
Dezenas de multinacionais – como a Basf, Nike ou Saint-Gobain – abandonaram suas operações na Argentina ou reduziram suas estruturas para os mínimos operacionais.
Assim como a decisão de impor um novo imposto sobre grandes fortunas está levando muitos argentinos a migrar para o Uruguai.
Por isso, os compromissos financeiro muito provavelmente não serão respeitados por Buenos Aires. E, em homenagem a melhor tradição argentina, começará um longo e exaustivo cabo de guerra com as instituições financeiras internacionais.
Um novo tango acrobático para a Argentina, na tentativa de evitar o colapso de um país, que nos últimos vinte anos já decretou, direta ou indiretamente, três calotes da dívida. E que já acumula um currículo de nove default desde sua independência.
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