Quase três meses após o anúncio da fusão entre Arezzo (ARZZ3) e Grupo Soma (SOMA3), confirmada em 5 de fevereiro, as empresas têm enfrentado alguma resistência em convencer investidores dos ganhos do negócio. Desde a data, ambas as varejistas perderam valor de mercado, o que levou o mercado a se questionar sobre o futuro da operação.
Na época do anúncio, a Arezzo (ARZZ3) valia R$ 6,97 bilhões, enquanto o valor de mercado do Grupo Soma (SOMA3) era de R$ 6,05 bilhões. Atualmente, a Arezzo vale R$ 5,77 bilhões – mesmo tendo se tornado uma empresa bem maior –, enquanto o Grupo Soma, incorporado, vale R$ 4,79 bilhões.
Pedro Marinho Coutinho, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, avalia que as duas ações podem ter sofrido no curto prazo por alguns motivos. O primeiro deles é a reação negativa do mercado em relação aos ativos cíclicos, já que o cenário de juros ficou menos previsível nas últimas semanas.
Além disso, o cenário desafiador para o setor têxtil no começo do ano também pode ter sido um dos fatores desta reprecificação de curto prazo.
“É sabido que o mercado especula algumas possíveis sinergias interessantes para o deal, como a integração da cadeia de suprimentos, expansão de negócios das marcas da Soma em relação a calçados (utilizando a expertise da Arezzo), melhoria na rede de franquias e ainda redução de despesas e custos operacionais. Porém, podemos ter sim um motivo ligado à fusão, que seriam ainda algumas avaliações conservadoras por parte dos analistas”, pontua Coutinho, que não acredita que a negociação tenha “esfriado”.
“As condições macroeconômicas e de mercado pioraram um pouco no curto prazo, mas o deal está de pé, pelo que o mercado tem divulgado”, acrescenta. Para o especialista, uma outra questão relevante em relação à fusão entre Arezzo e Soma se refere à questão tributária, um ponto de bastante atenção pontuado pelos analistas de mercado.
“Podemos ter algumas análises um pouco mais conservadoras sendo divulgadas no curto prazo, mas isso não muda a ideia apresentada na fusão, que ainda é bem clara quanto às possíveis sinergias. Este deal vai criar uma empresa com receita de R$ 10 bilhões, Ebitda de R$ 1,6 bilhão e lucro de R$ 750 milhões, segundo análises de mercado”, descreve.
Arezzo e Soma: Citi reitera compra, mas reduz preço-alvo das ações; entenda
No início da semana passada, o Citi reiterou recomendação de compra para a Arezzo e Grupo Soma antes dos resultados do primeiro trimestre de 2024 (1T24). Segundo o banco, a fusão está próxima de ser concluída e ambas as ações estão sendo negociadas com assimetria positiva. No entanto, ajustando-se à expectativa de uma empresa combinada e em resposta a condições desafiadoras no curto prazo, a casa cortou os preços-alvos das ações.
A nova projeção de preço para as ações da Arezzo é de R$ 72, abaixo dos R$ 84 anteriores, o que representa um potencial de valorização de 35%. Para o Grupo Soma, o novo preço-alvo é de R$ 8,70, ante os R$ 9,50 anteriores, implicando um potencial de alta de 38% em relação ao último fechamento do mercado.
“O risco de queda [dos papéis] parece limitado, enquanto o potencial de valorização é enorme nesses múltiplos”, afirma o Citi. O banco diz que o cenário desafiador que o setor têxtil enfrentou neste começo do ano já está refletido nos preços das ações.
Sobre projeções futuras, o banco prevê que as companhias tendem a apresentar crescimento a partir do segundo trimestre (2T24), impulsionadas por sinergias operacionais e economias tributárias. Os analistas do Citi observam ainda que o mercado está avaliando a nova marca resultante da união entre Arezzo e Soma de forma conservadora, com suposições como impostos mais altos, crescimento mais lento e falta de sinergias.
No entanto, eles argumentam que a combinação das sólidas trajetórias e portfólio premium das empresas justifica uma avaliação mais otimista, o que pode resultar em resultados mais sólidos neste ano.
Para Pedro Coutinho, da The Hill Capital, a questão da expansão do business de calçados pela FARM e outras marcas do Grupo Soma, utilizando a expertise da Arezzo, pode ser um ponto muito positivo no curto prazo. “Além disso, a redução de custos pela Arezzo utilizando a capacidade da Hering pode gerar economias relevantes, girando entre 20 e 40%”, explica.
Vale lembrar que o Grupo Soma adquiriu a Hering há quase três anos. Em abril de 2021, a companhia pagou R$ 5,1 bilhões pela concorrente, com o objetivo de formar o que é chamado de “house of brands” e se tornar uma grande gestora de marcas desejadas pelos consumidores.
Queda da Selic pode ser favorável para Arezzo e Soma?
Grandes operações no varejo merecem uma atenção especial do mercado, já que o setor está intrinsecamente ligado às taxas de juros. Segundo a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa Selic foi reduzida de 11,25% para 10,75% – o grupo também decidiu mudar sua orientação e antecipar uma redução de 0,50 ponto percentual na taxa de juros apenas na próxima reunião, prevista para ocorrer na semana que vem.
Para Coutinho, da The Hill Capital, o movimento de queda na Selic pode ser favorável para uma operação como a de Arezzo e Soma, pois diminui o custo para o consumidor brasileiro na ponta final, facilita o crédito e aumenta o seu poder de compra. “Arezzo e Soma podem se beneficiar disso de forma direta, com uma operação robusta e com marcas que se complementam. Vale acompanhar se este cenário de juros em queda vai perdurar ou teremos alguma mudança no ritmo da política econômica por parte do Copom”, ressalta.
No geral, Coutinho acredita que um M&A do porte da Arezzo e Soma sempre traz desafios relevantes quanto às sinergias, principalmente entre “big players” do varejo. Segundo ele, a questão cultural é um ponto bastante relevante a ser observado, além da manutenção de pontos fortes e vantagens competitivas das marcas envolvidas.
“Mesmo assim, acredito que Arezzo e Soma estejam comprometidos em fazer esta operação dar certo, respeitando o que cada uma tem de melhor a oferecer”, finaliza.
Desempenho das ações de Arezzo e Grupo Soma
No mês, os papéis de Arezzo e Grupo Soma caem 19,54% e 20,10%, respectivamente. No ano, a queda é de 19,86% e 18,38%, nesta ordem.
Cotação ARZZ3