Em busca de mitigar a dependência das importações de carne de frango, o governo saudita limitou as compras de produtos fabricados pela BRF (BRFS3) em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos.
De forma oficial, os alimentos industrializados à base de frango feitos pela BRF foram barrados depois de uma auditoria do governo, segundo o jornal “Valor Econômico”.
O governo da Arábia Saudita procura por essa autonomia pois porque a fábrica local, inaugurada em 2014, foi construída com incentivos fiscais do Conselho de Cooperação do Golfo — além dos sauditas, o órgão é composto por Emirados Árabes Unidos, Barein, Omã, Catar e Kwait.
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De acordo com fontes ligadas ao setor, entretanto, a impressão é de que a restrição imposta pelas autoridades é um recado para a empresa brasileira. A Arábia Saudita não vai abrir mão do plano de abastecer 60% de sua demanda doméstica por carne de frango produzidas nacionalmente a partir do ano que vem.
Entraves no principal mercado consumidor da BRF
A decisão árabe restringiu o acesso da BRF ao seu principal mercado da região. A Arábia Saudita absorve pelo menos 30% dos produtos da planta de Abu Dhabi. No intervalo de abril-junho, a companhia produziu aproximadamente 40 mil toneladas de produtos processados no mercado halal (tipo de produção de carne que segue as regras da religião islâmica).
No entanto, a BRF ressaltou que “a planta de Abu Dhabi passa por auditoria para atestar o valor agregado na produção local, segundo as regras do GCC. A empresa tem estoque suficiente na região e direciona sua produção a outros mercados do Golfo até que o fluxo comercial seja totalmente restabelecido”.
Além disso, em favor da empresa brasileira também consta o fato de a exportação de carne de frango a partir do Brasil para a Arábia Saudita, principal via da acesso da companhia no país, continuar sem alterações.
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No segundo trimestre deste ano, o negócio halal da BRF comercializou 258 mil toneladas de carne de frango in natura — o que abrange outros mercados, não apenas o saudita —, conforme o último balanço reportado pela empresa. A receita líquida da BRF no mercado halal ultrapassa os R$ 8 bilhões por ano, representando cerca de 25% da faturamento total.
Simultaneamente à barreira aplicada à unidade de Abu Dhabi, a BRF continua negociando com as autoridades sauditas a entrada no mercado local de carne de frango. Dessa forma, a companhia atenderia aos interesses do país de ampliar a oferta local da proteína.
Uma das saídas averiguadas pela BRF para fechar com um parceiro na região era envolver a fábrica de Abu Dhabi e as operações de distribuição de alimentos no Oriente Médio.
Segundo o “Valor Econômico”, a BRF ofereceria uma fatia minoritária nesse ativos e, por consequência, se tornaria sócia de um produtor de frango local. A Saudi Agriculture and Livestock Investment (Salic) chegou a sinalizar com uma proposta de US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,23 bilhões na cotação atual). Entretanto a saída do presidente da companhia saudita alterou os rumos das negociações.
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Na avaliação da companhia brasileira, o ideal seria anunciar o acordo com um parceiro da região ao decorrer da visita do presidente Jair Bolsonaro à Arábia Saudita, no fim desse mês.
O CEO da BRF, Lorival Luz, acompanhará a visita do presidente. Segundo fontes, a empresa está negociando com um produtor de frango de médio porte do país árabe e um desfecho positivo pode não demorar a acontecer.