A Barclays projeta rombo de 1% do PIB nas contas do governo central brasileiro no ano que vem, mesmo após entrega da Proposta de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2024 ao Congresso na semana passada – com previsão de déficit primário zero. Em relatório divulgado na quarta-feira, 6, o banco britânico destaca que o cumprimento da meta fiscal no ano que vem dependeria de uma receita líquida extra incerta, ou de um corte de gastos, no valor de R$ 120 bilhões.
“Se as propostas de aumento de receitas apresentada ao Congresso não forem aprovadas a tempo e/ou forem diluídas, a receita condicional precisaria ser removida do rascunho de orçamento. Nesse caso, as despesas teriam de ser aparadas ou ao menos temporariamente congeladas (possivelmente impondo alto custo político); caso contrário, a meta de resultado primário teria de ser rebaixada (impondo grandes custos de credibilidade)”, afirma o economista para Brasil do Barclays, Roberto Secemski.
Caso a impossibilidade de se cumprir a meta do ano que vem se torne clara nos próximos meses – por exemplo, devido à falta de receitas extras ou à resistência do governo em cortar gastos -, o banco britânico afirma que manter o alvo seria melhor do que alterá-lo. Nesse caso, os gatilhos previstos pelo novo arcabouço fiscal entrariam em cena ao longo do tempo, com custos menores para a credibilidade do País.
“No entanto, pode ser demais pedir isso de Brasília, especialmente considerando as eleições locais em outubro de 2024. Mesmo assim, mudar as metas originais no primeiro ano do novo arcabouço fiscal para impedir quaisquer gatilhos (por mais graduais que sejam) pode ser percebido pelos agentes econômicos como oportunista e danoso à ainda incipiente credibilidade do novo arranjo institucional”, diz o relatório.
PIB avança 0,9% no trimestre e acumula alta de 3,7%
O Produto Interno Bruto (PIB) registrou um crescimento de 0,9% no segundo semestre em comparação com o primeiro tri de 2023. Ao todo, os bens e serviços finais produzidos no Brasil somaram R$ 2,651 trilhões em valores correntes no trimestre (até junho). Os dados foram calculados pelo Sistema de Contas Nacionais Trimestrais e divulgados nesta sexta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O crescimento do PIB no trimestre equivale ao oitavo dado positivo consecutivo do indicador na comparação. Ainda na comparação trimestral, a alta foi menor do que a observada no primeiro intervalo de 2023, de 1,8%.
Contabilizando todos estes fatores, o avanço anual no primeiro semestre chegou a 3,7%, com a atividade econômica do Brasil dando sinais de restabelecimento de +7,4% acima dos níveis pré-pandemia (4T19). Agora, o PIB apresenta seu ponto mais alto da série.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que a alta do PIB “foi uma boa surpresa”. Campos Neto está em Washington (EUA) onde ocorre evento Lide Brazil Development Forum.
Para Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, os dados surpreenderam um pouco o mercado acima do esperado: “O crescimento esperado pelo mercado era de 0,3% veio 0,9%, claro muito abaixo do anterior que era 1,9%.” Além disso, Richetti destaca que a própria elevação do PIB em relação ao semestre anterior era esperada em 2,7%, com o resultado de 3,4% acima do esperado.
Projeções para os próximos índices
“O ponto que eu chamo atenção aqui também é que com essa queda que já era esperada no crescimento do Brasil via PIB, o mercado ficará atento em relação ao debate fiscal agora, principalmente referente aos gastos públicos”, pontua Richetti. O especialista traz à tona a nova MP dos fundos exclusivos e offshores, contrapondo que, apesar de aumentar a arrecadação, não propôs nada sobre cortes na máquina pública, o que deixa o mercado insatisfeito.
“Acredito que teremos sim uma pressão maior nessa linha do governo se posicionar. Não adianta aumentar a arrecadação via impostos sem haver o corte destes gastos, então isso vai gerar uma pressão muito grande a partir de agora, esse também é um principal ponto a ser levantado depois da divulgação desses resultados [do PIB]”, conclui o especialista.
Com Estadão Conteúdo