As ações de varejistas despencaram nesta segunda-feira (23), com Americanas (AMER3), Via (VIIA3) e Lojas Americanas (LAME4) liderando as perdas do Ibovespa. A queda tem como motivo principal a percepção de piora de perspectivas para o cenário fiscal e institucional.
O papel preferencial da Lojas Americanas liderou as maiores baixas do Ibovespa, caindo 6,08%, a R$ 5,25. Já as ações das varejistas Americanas e Via recuaram 4,25% e 4,17%, respectivamente, para R$ 39,20 e R$ 10,80.
Mas as empresas não foram as únicas do setor. Magazine Luiza (MGLU3) caiu 3,87%, a R$ 18,13, enquanto, no segmento de moda, a Lojas Renner (LREN3) perdeu 2,93% e terminou a R$ 38,05.
“O Brasil ainda segue analisando o risco fiscal e a deterioração institucional, esta última impulsionada pela solicitação de impeachment de Alexandre Moraes, ministro do Tribunal Superior Eleitoral. Tais fatos somados a inflação fez com que as ações relacionadas ao varejo caíssem em bloco,” avaliou a equipe do analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos.
A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021 passou de 7,05% para 7,11%, de acordo com o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira. A estimativa já está acima do centro da meta do Banco Central (BC) para este ano, de 3,75%, sendo que a margem de tolerância é de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%).
No terreno político, além do pedido de impeachment entregue pelo presidente da República, o governador do Estado de São Paulo João Doria afastou um comandante da Polícia Militar por simpatia aos apelos por insurgência, fator que deve ganhar relevância à medida que se aproxima o 7 de setembro, especialmente tensionado este ano pelo acirramento da disputa entre o presidente Bolsonaro e a cúpula do Judiciário.
A esperança de distensionamento das relações entre os Poderes foi apagada pelo pedido de impeachment contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, encaminhado por Bolsonaro na sexta, e seus desdobramentos estiveram entre os principais pontos de cautela nos mercados. Moraes, por sua vez, autorizou a coleta de novos depoimentos no caso que investiga a denúncia de interferência política do presidente na Polícia Federal.
Cenário com ruído político
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, segue tentando colocar panos quentes, mas admitiu que a atitude do presidente da República dificulta o restabelecimento do diálogo e garantiu que não admitirá nenhum tipo de retrocesso no Estado de Direito. Na leitura dos analistas, a aprovação do ex-ministro da Justiça André Mendonça, indicado por Bolsonaro, para uma vaga no STF, por exemplo, já subiu no telhado, o que pode provocar nova ofensiva do presidente. Em outra frente, liderados por João Doria, governadores já se mobilizam para a realização de uma reunião com os chefes dos três Poderes em defesa da democracia.
“Cada declaração de um lado e de outro põe mais lenha na fogueira e quem sofre é a economia”, disse Camargo Rosa, destacando os números da pesquisa Focus, que mostra um cenário estagflacionário das estimativas. Enquanto as medianas para o IPCA 2021 e 2022 subiram para 7,11% e 3,93%, acima das metas de inflação, a projeção de PIB para este e o próximo ano caíram a 5,28% e 2,00%.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, mais do que altas ao longo de toda a curva, o que realmente impressiona é a esticada em relação ao mês anterior. “Está evidente que o mercado mudou de vez o tom com Brasília, mas mesmo depois de tanta alta o mercado segue nervoso sem saber qual o patamar que equilibra seus receios com a piora do cenário”, comentou, lembrando ainda que nesta segunda, em São Paulo, Doria afastou o coronel Aleksander Lacerda após o policial militar convocar seus comandados à manifestação bolsonarista do dia 7 de setembro.
Varejistas derrubam Ibovespa hoje
Os papéis de varejistas pressionaram o Ibovespa no pregão desta segunda-feira. O índice acionário de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) terminou o dia em queda de 0,49%, a 117.471,67 pontos.
(Com Estadão Conteúdo)
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