Em recuperação judicial e em meio a uma crise de credibilidade, a Americanas (AMER3) pode realizar uma venda de ativos para ganhar fôlego no momento atual.
A estratégia foi adotada pela Oi (OIBR3) em sua última recuperação judicial. Especialistas apontam que mesmo se a Americanas optar por essa estratégia, ainda terá desafios a frente
Isso, considerando que a varejista é dona de marcas com grande notoriedade, como Submarino, ShopTime e Ame.
A varejista deu início ao processo de recuperação judicial em 19 de janeiro, declarando uma dívida de mais de R$ 40 bilhões para credores, como bancos, fabricantes de eletrônicos e fornecedores de chocolate.
As marcas do grupo Americanas:
- Lojas Americanas
- Americanas Express (versão menor das lojas físicas)
- Americanas.com (loja online)
- Americanas Empresas (e-commerce de vendas do tipo B2B, business-to-business)
- Submarino (e-commerce)
- Shoptime (canal de vendas para artigos da casa)
- Local (lojas de conveniência)
- Vem Conveniência (lojas de conveniência)
- Digital (lojas menores que as de conveniência)
- Hortifruti Natural da Terra (rede varejista especializada em frutas, verduras e legumes)
- AME (fintech e plataforma de negócios mobile)
- AME GO (lojas sem atendimento, com pagamento por meio de inteligência artificial)
- LET’S (plataforma de gestão compartilhada)
- +AQUI (plataforma para serviços de crédito, seguros, cartões de conteúdos e venda assistida)
- Grupo Uni.co (dono das marcas Puket, Imaginarium, MindD e Lovebrands)
Com o processo de recuperação aceito pela Justiça, a empresa passará pelos ritos tradicionais, com a apresentação de um plano de pagamento das dívidas após 60 dias, a ser votado em assembleia de credores. Esse plano pode incluir a injeção de capital por parte dos sócios ou a venda de bens.
Em 2021, a Americanas uniu negócios com a B2W (antigamente listada sob o ticker BTOW3), que operava o comércio eletrônico da varejista, assim como as marcas Submarino,
ShopTime e AME. Além disso, a rede de varejo popular também comprou o Hortifruti Natural da Terra no mesmo ano, em um acordo de valor estimado em R$ 2,1 bilhões.
Para Eduardo Yamashita, diretor de operações na Gouvêa Consulting, a Americanas vai enfrentar um cenário de mercado desfavorável durante a sua recuperação, especialmente, devido aos problemas financeiros que devem dificultar a aquisição de mercadorias.
“Os fornecedores serão muito mais duros nas negociações, o que vai reduzir a oferta de produtos e a demanda do consumidor vai cair. As outras varejistas veem isso como oportunidade”, afirma.
Yamashita vê possibilidades de vendas de ativos como dados anônimos de perfil de consumo de clientes, imóveis e marcas, como a carteira digital AME. “Existem ativos que podem ser monetizados, mas estão fazendo avaliação interna.”
‘Dentro da Lei, tudo é possível’
Renato Leopoldo e Silva, líder de contencioso empresarial cível, recuperação de empresas e arbitragem do escritório Donelli Abreu Sodré e Nicolai Advogados, diz que casos de recuperação judicial como o da Americanas tendem a permitir a criatividade para a quitação de débitos.
“A lei é aberta. Dentro da legalidade, a Americanas tem diversas opções para apresentar formas de pagamento, como venda de ativos e aumento de capital. É comum a empresa negociar com seus credores algo que seja factível para lidar com as dívidas contraídas após o pedido de recuperação judicial”, afirma.
Caso da Americanas é delicado
Filipe Denki, sócio do escritório Lara Martins Advogados e diretor da Comissão de Recuperação de Empresas e Falência do Conselho Federal da OAB, vê o caso da Americanas como “delicado”, uma vez que tem ações negociadas na bolsa de valores e a injeção de capital se mostra necessária diante do caixa estimado em R$ 800 milhões.
“As demissões em massa serão inevitáveis, por causa da redução de lojas. Fora isso, deve ocorrer o fatiamento da Americanas para evitar que todas as unidades de negócios sejam afetadas. No plano de recuperação judicial, a empresa pode prever unidades produtivas isoladas, que podem ser vendidas. É um processo de cisão. No caso da Oi, a telefonia celular foi vendida para operadoras e o negócio de fibra óptica foi para o BTG”, diz.
Denki lembra que o caso recente mais comparável ao da Americanas é o da Ricardo Eletro. A varejista precisou fechar todas as lojas físicas e demitir milhares de funcionários, ficando apenas com o seu site de comércio eletrônico. Como adiantou o Estadão, a empresa agora já planeja a abertura das primeiras cinco lojas.
Com Estadão Conteúdo