Durante a transição de comando da Americanas (AMER3) no ano passado, Sergio Rial foi vetado de uma reunião decisiva sobre os números da varejista em 2022. Nesta terça (28), o executivo revelou que a ordem partiu de Miguel Gutierrez, então CEO da empresa.
“Na última semana de dezembro de 2022, até o dia 26 de dezembro, não se sabia prospectivamente qual seria o resultado da Americanas para 2022. Na verdade, não sabemos até hoje. Eu, obviamente, tentando entender esse ano, que seria base para projetar o orçamento de 2023. Há uma reunião organizada pelo ex-presidente [Gutierrez], em que ele pede para que eu não participe do fechamento, pouco comum essa atitude, e não participo”, detalhou Rial.
Junto com Leonardo Coelho Pereira, atual CEO da Americanas, o ex-Santander participou de uma sessão na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para explicar a crise na Americanas, que culminou na recuperação judicial bilionária da varejista.
De acordo com Sergio Rial, Gutierrez controlava fortemente as informações da companhia, o que dificultou o processo de transição de comando. “Extraía a conta-gotas as informações do dia a dia. Não havia uma predisposição de explicar como isso aconteceu”, desabafou.
No relato, o executivo afirmou que Gutierrez convocou uma nova reunião com a presidência do conselho de administração e, mais uma vez, não convidou o futuro gestor da empresa. Porém, a liderança do conselho defendeu a presença de Rial e, graças a isso, ele foi incluído na discussão.
“Uma reunião que chamaria de legado, onde ele apresenta, entre outras coisas, as oportunidades e desafios da empresa, sob o ponto de vista financeiro, nos próximos anos. Uma apresentação extremamente densa, muitos slides”, ressaltou Rial.
Americanas: Revelação da crise
Por causa da complexidade dos dados apresentados por Gutierrez, ao assumir a gestão da varejista, Rial solicitou que esse material também fosse mostrado para André Covre, CFO que também havia acabado de entrar na empresa na ocasião.
“No dia 3 de janeiro, um dos diretores sinaliza a necessidade de conversar comigo porque eu não havia entendido corretamente a apresentação. Não demonstrei nenhum tipo de preocupação naquele momento e, no dia 4, dois diretores me revelam que aquilo que era dívida bancária não estava devidamente contabilizado na rubrica bancos no balanço”, complementou Rial, ao detalhar o estopim para a descoberta das inconsistências bancárias na ordem de R$ 20 bilhões.
Em seguida, o rombo que gerou a recuperação judicial da Americanas foi apresentado aos demais atores, como conselho de administração e a empresa de autoria PwC. De acordo com Rial, todos ficaram surpresos com o caso e demonstraram desconhecimento da real situação da empresa.
Miguel Gutierrez não foi localizado pela reportagem. Confira a participação de Sergio Rial no Senado sobre a crise na Americanas: