A Americanas (AMER3) se manifestou sobre a reportagem da agência Bloomberg, dizendo que o trio de bilionários da 3G Capital – Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles – aceitou ficar um período de cerca de três anos com restrição na venda de ações da varejista. O comunicado da varejista foi feito a pedido da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que solicitou esclarecimentos sobre o lock-up.
Em comunicado, a varejista disse que vem mantendo conversas com seus credores e que nelas, como parte de uma negociação mais ampla, um grupo de credores solicitou a inclusão de um período de lock-up para venda de ações da companhia pelos acionistas de referência.
“A abrangência desse lock-up ainda está em discussão no âmbito do acordo mais amplo”, pontuou Camille Loyo Faria, diretora financeira e de relações com investidores da Americanas. Segundo ela, não há consenso com seus credores financeiros sobre a proposta apresentada.
Na nota, Camille destacou ainda que a empresa segue empenhada em manter negociações construtivas com seus credores em busca de uma solução que permita a continuidade de suas atividades. “Assim que um acordo esteja inteiramente negociado com os credores, a companhia divulgará ao mercado todo seu conteúdo”, completou.
Entenda o caso
Segundo a matéria da Bloomberg, o acordo mencionado que envolve Lemann e os demais acionistas da Americanas faz parte de um plano de reestruturação da varejista.
Bancos e credores ainda não firmaram o período de lock-up, mas a exigência é de que ele seja de ao menos até 2027, segundo fontes a par do assunto.
O plano de reestruturação integra a estratégia de reerguer a Americanas após a companhia revelar um rombo contábil bilionário no início do ano, entrar em recuperação judicial e travar uma briga acirrada com bancos credores na Justiça.
O plano deve conter uma injeção de R$ 10 bilhões de imediato por parte do trio da 3G Capital, com mais R$ 4 bilhões adicionais divididos em duas parcelas, em 2026 e 2027, que ficaram condicionados aos patamares de alavancagem e liquidez da empresa.
Atualmente o trio soma uma participação societária de cerca de 30% no capital social da Americanas. Com a injeção de capital via oferta de ações, os empresários teriam uma fatia ainda maior da varejista, a depender da demanda pelos papéis.
Os bancos credores devem entrar na jogada, com a conversão de dívida em ações, aderindo ao pacote de R$ 10 bilhões, segundo as informações da Bloomberg.
Negociação da dívida da Americanas
Além da oferta de ações, a Americanas deve ter uma negociação do seu valor de face da dívida. Detentores de títulos de dívida devem, em conjunto com advogados, pedir por um desconto menor do valor de face da dívida da empresa no leilão reverso que está no plano.
Além disso, há a reivindicação de que o pacote de R$ 10 bilhões contenha uma opção de dívida pura – ou seja, de títulos que não possam ser convertidos em ações.
A expectativa é de que o acordo final envolvendo credores, investidores, detentores de dívida, Lemann e os demais acionistas da Americanas saia ainda nas próximas semanas.
Americanas vê indícios de fraude em investigação interna
Nesta terça-feira (13), a Americanas (AMER3) destacou em fato relevante que suas investigações internas apontaram que houve fraude por parte da diretoria. Após a divulgação das novas informações, os papéis da varejista chegaram a subir mais de 12%. Na reta final do pregão na Bolsa, às 16h30, avançam 6,8%.
O relato é fruto de um parecer elaborado por assessores jurídicos da Americanas, no âmbito de seus procedimentos que foram iniciados após a descoberta de um rombo contábil no início deste ano.
Além da fraude, os antigos diretores teria feito esforços para ocultar os atos das autoridades e do Conselho de Administração da empresa.
Os assessores jurídicos identificaram o modus operandi da diretoria.
Segundo comunicado pela varejista, foram identificados contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (VPC) que foram criados de forma artificial. Com isso, os contratos teriam inflado o resultado operacional da empresa.
Os contratos de VPC representam cerca de R$ 21,7 bilhões até setembro de 2022. Já a contrapartidas dos contratos, que são redutores de custos, representam uma cifra de R$ 17,7 bilhões nos balanços contábeis – os R$ 4 bilhões de diferença se devem aos lançamentos em outras contas do ativo da Americanas.
“A indevida contabilização dessas operações de financiamento nos demonstrativos financeiros da Americanas não permitiu a correta determinação do grau de endividamento da companhia ao longo do tempo”, diz a Americanas.
Além disso foram identificados lançamentos redutores da conta de fornecedores oriundos de juros sobre operações financeiras. Essa operação teve impacto de R$ 3,6 bilhões até setembro de 2022.
Participação do CEO e diretores da Americanas
O relatório indica participação na fraude da Americanas do ex-CEO Miguel Gutierrez e de outros seis diretores e executivos da companhia.
Vale destacar que Gutierrez foi desligado no fim de 2022 e os outros diretores já foram afastados.
“Os ajustes contábeis, derivados dos fenômenos, são preliminares, não auditados e ainda estão sujeitos a alterações. Os ajustes contábeis definitivos estarão refletidos nos demonstrativos financeiros históricos auditados que serão reapresentados assim que os trabalhos estiverem concluídos”, diz o fato relevante da Americanas.
“Da mesma forma, o efeito desses ajustes nos resultados da companhia ao longo do tempo ainda está sendo apurado, mas a expectativa da administração é de que o impacto nos resultados mais recentes seja significativo”, segue.
A orientação dada pelo Conselho de Administração foi de que a Americanas deve ‘apresentar o relatório às autoridades competentes’ e avaliar quais medidas tomar para ressarcir os danos causados pela fraude nos balanços contábeis.