A Americanas (AMER3) confirmou na sexta (13) que conseguiu na Justiça proteção contra credores que queiram antecipar o pagamento de dívidas, em torno de R$ 40 bi. Com o rombo de R$ 20 bi detectados esta semana e o tamanho de débitos com credores – a maioria deles, bancos -, a recuperação judicial está no radar da empresa. Em relatório, a XP diz que esse seria o caminho mais provável para a varejista.
O juiz Paulo Assed, da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, concedeu uma tutela cautelar para suspender vencimentos antecipados e efeitos de inadimplência da Americanas. Analistas da XP lembram que a Tutela foi ajuizada “depois de um dos credores ter executado o vencimento antecipado de sua dívida, movimentando todos os outros credores a fazer o mesmo”.
A XP entende que a companhia trabalhará em dois caminhos:
- negociação de uma injeção de capital com os bancos, “que estimamos entre R$ 10-20 bilhões (ante o atual valor de mercado da Americanas, de R$ 2,8 bilhões);
- A organização dos documentos necessários para solicitação de uma Recuperação Judicial, o que pode ser considerada a alternativa mais provável, dado o tamanho da dívida da Americanas e da potencial necessidade de capital, além do número de credores envolvidos.”
A XP reforça que mantém a recomendação para as ações da Americanas “sob revisão”. Na quarta os papéis estavam valendo R$ 12 e agora, depois de derreter 77,33% na quinta (12), um dia após a divulgação do rombo bilionário, desceram para R$ 3,15 na sexta (13), com a recuperação e mais leilões na Bolsa na sexta (13).
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Processo longo e saída do Ibovespa?
E o que a provável recuperação judicial das Americanas representaria, na prática? A XP relacionou no relatório as consequências: “Aprendendo com os casos passados de Recuperação Judicial, trazemos quatro principais implicações para a Americanas caso a companhia decida solicitar RJ”. Eis o tamanho do problema:
- “É um processo longo, com duração média de 3 anos, mas excedendo esse prazo em muitos casos. A Oi (OIBR3) levou 6 anos e a Viver (VIVR3), 5 anos;
- Saída do Ibovespa: de acordo com a metodologia da B3, as companhias em RJ não são elegíveis para entrar no IBOV, o que pode impactar negativamente a liquidez da companhia;
- Muitas possíveis soluções: o rebalanceamento da estrutura de capital pode ser feito por meio do desinvestimento de ativos, renegociação de dívidas, conversões de dívidas em ações e aumento de capital, apesar de uma dissolução da companhia também ser possível;
- Ações pressionadas e volatilidade: as ações tendem a sofrer durante processos de recuperação judicial, uma vez que as medidas são focadas nos credores e são geralmente diluitivas aos acionistas.”
Um dos caminhos apontados pela XP para a Americanas tentar se recuperar é a venda de ativos. Pois parece que essa estratégia já está mesmo no foco da varejista. Neste domingo (15) o Valor Econômico informou em reportagem exclusiva que a companhia está planejando justamente se desfazer de dois em especial.
O primeiro é a Natural da Terra. A Americanas anunciou em agosto de 2021 a compra de 100% das ações da hortifruti. O valor da transação foi de R$ 2,1 bilhões.
Na época, a empresa, como lembrava a Americanas, “é referência digital do setor no país, com as vendas online representando 16% do total.”
E acrescentava: “A HNT oferece conveniência, atendimento diferenciado e alta recorrência de compra, por meio da capilaridade, localização estratégica das lojas e integração digital.”
O outro ativo que estaria nos planos da Americanas para venda, segundo a reportagem do Valor, é a participação na Vem Conveniência, parceria com a Vibra Energia (VBBR3) que “visa a exploração do negócio de lojas de pequeno varejo, dentro e fora de postos de combustível, com as redes de lojas locais e BR Mania.”
A Vem Conveniência tem uma estrutura de gestão e governança corporativa próprias. O capital social é detido pela Americanas e Vibra, ambas com participação de 50% cada. A parte da Americanas valeria ao menos R$ 1 bi.
Americanas: capitalização gera impasse sobre valores propostos por acionistas
Outra saída avaliada pela Americanas é, claro, a injeção de capital pelos acionistas da 3G Capital, que detêm 31% das ações.
Mas as conversas entre representantes da Americanas (AMER3) e dos bancos credores chegaram a um impasse após o trio de investidores Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, acionistas de referência da empresa, indicarem uma injeção de R$ 6 bilhões na empresa.
A medida foi anunciada na sexta-feira, 13, mesmo dia em que o juiz Paulo Assed, da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, atendeu pedido da companhia e concedeu liminar para suspender a cobrança antecipada de débitos.
A cifra foi considerada insuficiente pelos bancos para sanar os problemas de caixa decorrentes da descoberta de “inconsistências” no valor de R$ 20 bilhões no balanço da varejista. A existência do rombo foi comunicada durante a semana por Sergio Rial, que estava no comando da Americanas havia menos de 15 dias. Os bancos avaliam que o trio precisaria colocar algo entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões para viabilizar uma capitalização que a varejista precisa fazer – e de forma urgente.
Criadores da gestora 3G Capital, Lemann, Telles e Sicupira estão por trás de outros grandes lances empresariais, como a Anheuser-Busch InBev, criada em 2004 a partir da fusão da belga Interbrew e da brasileira Ambev (ABEV3). O investimento na Americanas foi o primeiro fora do segmento financeiro feito pelo trio – que ficou na empresa por décadas, até sair do seu controle no fim de 2021.
Com informações do Estadão Conteúdo