A recuperação judicial da Americanas (AMER3) foi formalizada nesta quinta-feira (19) e fez cair por terra a possibilidade de um aumento de capital para “salvar” a companhia.
A expectativa é de que, com isso, a Americanas consiga um fôlego maior com fornecedores e mantenha suas operações em voga dentro do possível, dada a redução drástica do seu caixa.
Isso porque a companhia tinha um caixa considerado “confortável” pelo ex-CEO, Sergio Rial – que revelou ao mercado as inconsistências contábeis. Em conferência um dia após a revelação, o executivo citou a cifra de R$ 7,8 bilhões.
Com o imbróglio judicial, contudo, a varejista passou a ter seu caixa reduzido para R$ 800 milhões logo em seguida, após um bloqueio de R$ 1,2 bilhão a pedido do BTG Pactual (BPAC11).
Em meio ao pedido de Recuperação Judicial a companhia conta com um valor de R$ 250 milhões em caixa, após citar um ‘aniquilamento’ dos valores que até então eram detidos pela companhia.
É porque Safra, Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4) fizeram bloqueios de R$ 100 milhões, R$ 474 milhões e R$ 50 milhões, respectiva e aproximadamente.
Na petição, a defesa da Americanas diz que a negativa da recuperação judicial pode inviabilizar operações da empresa e citou os bloqueios dos bancos como “indevidos”.
“O risco, então, caso não seja deferido o imediato processamento desta recuperação judicial, é de um absoluto aniquilamento do fluxo de caixa do Grupo Americanas, o que impedirá o cumprimento de obrigações diárias indispensáveis ao exercício da atividade empresarial, tal como o pagamento de fornecedores e funcionários”, diz o documento obtido pelo Suno Notícias.
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O advogado Luciano Giongo, do escritório Andreatta & Giongo, destaca que a decisão era iminente e dá vazão à urgência da empresa com fornecedores.
“A recuperação Judicial dá um fôlego maior com relação aos fornecedores. Evidentemente que eles [fornecedores] não vão faturar mais. Juridicamente, essa cautelar foi correta”, comenta sobre o caso.
Os fornecedores, aliás, já se manifestaram sobre o caso e pressionaram a varejista após a revelação do rombo bilionário.
Para o especialista, a reversão que o BTG promoveu na Justiça, com R$ 1,2 bilhão bloqueado em recursos da Americanas, apesar de contestada pela defesa da varejista, está dentro da legislação e da jurisprudência atuais.
“Imagino que são recursos atrelados à alienação fiduciárias. São recursos que a propriedade contínua do banco. A jurisprudência coloca que é possível essa reversão [conseguida pelo BTG], a depender de cada caso”, comenta.
‘Briga jurídica’ da Americanas deve seguir
A expectativa é de que o processo se desenrole por meses, e que ocorra “uma briga jurídica intensa”.
“Se todos os credores cobrarem a divida antes, a empresa decreta falência e aí não é bom para ninguém. Eles tem 60 dias para apresentarem o plano, e acredito que eles devam ter interessados, sendo uma empresa desse porte. Em empresas lucrativas, geralmente vemos investidores com interesse, que posteriormente injetam capital. Se isso acontecer, há probabilidade de o processo de recuperação dar certo, embora os valores sejam astronômicos”, explica Giongo.
O que acontece com as ações AMER3
Com desvalorização de 90% nas ações da Americanas, os papéis devem ser afetados na bolsa ainda nos próximos dias.
Além das quedas, que fizeram o valor de mercado da Americanas cair de R$ 10,8 bilhões para R$ 1 bilhão conforme dados do Status Invest, a empresa deve sofrer com liquidez ao deixar índices.
Já nesta quinta (19) a Bolsa de Valores Brasileira, a B3 (B3SA3), comunicou que irá retirar os papéis AMER3 de seus índices.
De acordo com um comunicado da B3 à imprensa, o espaço da ação AMER3 será “redistribuído proporcionalmente aos demais integrantes da carteira com o pertinente ajuste nos redutores dos índices”.
Em entrevista ao Suno Notícias, o sócio-fundador da Quantzed, Pedro Menin, explica que os impactos burocráticos devem impactar a negociação dos papéis.
“Isso deve trazer uma venda passiva importante e uma perda de liquidez muito relevante”, estima, sobre o caso da Americanas.