Quase uma semana após anunciar a descoberta de um rombo contábil de R$ 20 bi, a Americanas (AMER3) prepara um pedido de recuperação para os próximos dias. É o que afirma reportagem da Folha de S. Paulo publicada no site do jornal.
A apuração da Folha diz que os principais acionistas da Americanas não aceitaram injetar a cifra de R$ 20 bilhões para tentar recuperar o buraco nas contas da empresa. Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles detêm 31% das ações da Americanas.
O trio de bilionários estaria disposto alocar R$ 6 bi na empresa. Como esse volume não vai solucionar o caixa da empresa, decidiu-se pela recuperação judicial, segundo a Folha.
A Americanas contratou os advogados Ana Basílio e José Roberto Sampaio, do escritório Basilio Advogados, e Rodrigo Salomão, do escritório Salomao, Kaiuca & Abrahao, para comandar o processo de recuperação judicial. Salomão disse à Folha falta fechar os últimos detalhes para iniciar o processo.
Na última sexta a Americanas confirmou, em documento enviado à CVM, que o juiz da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Paulo Assed, “concedeu medida de tutela de urgência cautelar pedida pela companhia”. Essa decisão elimina a possibilidade de bloqueio, sequestro ou penhora de bens por causa das dívidas da empresa.
O documento foi assinado por João Guerra, que assumiu interinamente as funções de diretor Presidente e de Relações com Investidores da Americanas.
Após essa decisão, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) deu 30 dias corridos para a Americanas entrar com pedido de recuperação judicial, se a empresa decidir por essa medida.
O pedido da Americanas se deu porque as inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões comunicadas pela empresa podem levar ao vencimento antecipado de R$ 40 bilhões em dívidas, segundo alegação da varejistas ao TJRJ.
XP: recuperação judicial é o “caminho mais viável para a Americanas”
Analistas da XP lembraram, em relatório, que a Tutela foi ajuizada “depois de um dos credores ter executado o vencimento antecipado de sua dívida, movimentando todos os outros credores a fazer o mesmo”.
A XP entende que a companhia trabalhará em dois caminhos:
- negociação de uma injeção de capital com os bancos, “que estimamos entre R$ 10-20 bilhões (ante o atual valor de mercado da Americanas, de R$ 2,8 bilhões);
- A organização dos documentos necessários para solicitação de uma Recuperação Judicial, o que pode ser considerada a alternativa mais provável, dado o tamanho da dívida da Americanas e da potencial necessidade de capital, além do número de credores envolvidos.”
A XP reforça que mantém a recomendação para as ações da Americanas “sob revisão”. Na quarta os papéis estavam valendo R$ 12 e agora, depois de derreter 77,33% na quinta (12), um dia após a divulgação do rombo bilionário, desceram para R$ 3,15 na sexta (13), com a recuperação e mais leilões na Bolsa na sexta (13). Nesta terça as ações da empresa chegaram a entrar em leilão no final e no intradia. Fecharam cotadas a R$ 1,90, com baixa de 2,06%.
Venda de ativos
Um dos caminhos apontados pela XP para a Americanas tentar se recuperar é a venda de ativos. Neste domingo (15) o Valor Econômico informou em reportagem exclusiva que a companhia estaria planejando justamente se desfazer de dois em especial.
O primeiro seria a Natural da Terra. A Americanas anunciou em agosto de 2021 a compra de 100% das ações da hortifruti. O valor da transação foi de R$ 2,1 bilhões.
Na época, a empresa, como lembrava a Americanas, “é referência digital do setor no país, com as vendas online representando 16% do total.”
E acrescentava: “A HNT oferece conveniência, atendimento diferenciado e alta recorrência de compra, por meio da capilaridade, localização estratégica das lojas e integração digital.”
A Americanas (AMER3) publicou fato relevante nesta terça (17) informando que avalia efetivar “diversas oportunidades” de venda de ativos.
A companhia afirmou, no entanto, que “não existe nenhum fato ou documento vinculante que mereça divulgação, nos termos da legislação em vigor, mas confirma que está avaliando diversas oportunidades. A empresa informa que permanecerá normalmente com suas atividades comerciais, operacionais e administrativas.”
O outro ativo que estaria nos planos da Americanas para venda, segundo a reportagem do Valor, é a participação na Vem Conveniência, parceria com a Vibra Energia (VBBR3) que “visa a exploração do negócio de lojas de pequeno varejo, dentro e fora de postos de combustível, com as redes de lojas locais e BR Mania.”
A Vem Conveniência tem uma estrutura de gestão e governança corporativa próprias. O capital social é detido pela Americanas e Vibra, ambas com participação de 50% cada. A parte da Americanas valeria ao menos R$ 1 bi.
Bancos credores rejeitam ser sócios da empresa
A novela sobre o rombo bilionário na Americanas (AMER3) ganhou novos capítulos nesta terça-feira (17). Instituições financeiras recusaram ações da varejista como forma de pagamento das dívidas. Além disso, BTG Pactual (BPAC11) e Bank of America (BofA) acionaram seus times jurídicos e levaram o caso à Justiça.
Segundo a apuração do Broadcast/Estadão, uma das propostas colocadas à mesa era a de que os sócios injetassem R$ 6 bilhões na companhia e que os bancos credores entrassem com outros R$ 6 bilhões. Com a dívida da Americanas estimada em R$ 40 bilhões, as instituições financeiras não compraram essa ideia, o que estremeceu as negociações para a rolagem.
A injeção desse montante daria às instituições ações da Americanas, em uma conversão proporcional às dívidas com cada banco. Em termos nominais, os mais expostos são Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11), Itaú (ITUB4), Safra e BTG Pactual. O último, na semana passada, tentou congelar um depósito de R$ 1,2 bilhão da Americanas.
Os bancos querem que os acionistas de referência – Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira – desembolsem algo entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões. Menos do que isso, “nem pensar”, disse um banqueiro ouvido sob a condição de anonimato pelo Estadão.
Americanas vs bancos credores
Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Conselho de Administração do Bradesco, disse ontem (16) que a exposição do banco é “pequena” e “não requer preocupação” na lista de credores.
Essa sinalização é oposta a apresentada pelo BTG Pactual, que partiu para o ataque. Na semana passada, o banco de André Esteves entrou na Justiça do Rio de Janeiro contra a Americanas e disse que a empresa “tem fraude fiscal em seu modelo de negócio”. Nos autos, a instituição também realizou críticas ao trio do 3G Capital.
No fim de semana, o desembargador Luiz Roldão de Freitas Gomes Filho rejeitou analisar o caso no regime de plantão. Ontem, o BTG fez mais uma petição na 4.ª Vara Empresarial do Estado do Rio de Janeiro. Além disso, levou o caso para a arbitragem em São Paulo.
No novo pedido, os advogados do banco – dos escritórios Galdino & Coelho, Pimenta, Takemi, Ayoub Advogados e FCDG Advogados – argumentam que o juiz do Rio, que bloqueou o pagamento de dívidas “induzido a erro pela narrativa simplória da Americanas” e novamente usa o termo “fraude” para definir os problemas no balanço da companhia.
Bradesco (BBDC4) fez maior empréstimo à Americanas (AMER3): R$ 4,7 bi
Analistas do Citi afirmaram que o Bradesco (BBDC4), o BTG Pactual (BPAC11) e o Santander (SANB11) estão entre os bancos com maior exposição à crise desencadeada pela Americanas (AMER3), que revelou um rombo bilionário em seus balanços contábeis na semana anterior.
Em termos nominais, o Bradesco foi o banco que mais emprestou dinheiro à Americanas, com R$ 4,7 bilhões. Enquanto isso, o Santander e o BTG emprestaram R$ 3,7 bilhões e R$ 1,9 bilhões, respectivamente.
O banco com maior impacto no lucro líquido em função do provisionamento deve ser o Santander. A casa estima que o caso da Americanas deve afetar o resultado do banco em um percentual de 3,3% a 5,6%.
O Bradesco, por sua vez, deverá ser impactado de 2,9% a 4,9% ao passo que o BTG deve ser afetado entre 3,3% e 5,6%.
Isso se dá pelo fato de que a exposição do Bradesco, proporcionalmente, é menor, já que o banco tem 0,5% da sua carteira de crédito vinculada à Americanas.
Segundo o Citi, o BTG e o Santander possuem 1,6% e 0,6%, respectivamente – ou seja, dentre os três o BTG Pactual é o banco que possui a maior exposição, apesar de ter empréstimos nominalmente menores e um impacto no provisionamento menor do que o do Santander.
Sergio Rial abre o jogo sobre descoberta de rombo bilionário
Sergio Rial abriu o jogo sobre o período de nove dias em que atuou como presidente da Americanas (AMER3), quando descobriu o rombo contábil de cerca de R$ 20 bilhões na companhia. Nesta terça (17), o ex-CEO da varejista ressaltou que “jamais transigiria” a sua biografia.
Em um texto publicado no LinkedIn, o ex-Santander Brasil (SANB11) explicou que uma das suas primeiras tarefas na varejista foi entrevistar os executivos remanescentes junto com Andre Covre, ex-CFO da companhia. Assim, a dupla identificou o rombo na Americanas e levantou as informações divulgadas no fato relevante da última quarta (11) “com transparência e fidedignidade”.
Quaisquer especulações ou teorias distintas disso são leviandades. Eu jamais transigiria com a minha biografia.
“Portanto, com a conclusão do diagnóstico inicial, surgiu a necessidade premente de correção de rota. E essa correção partiu da transparência e do apoio incondicional que recebi do conselho de administração e dos acionistas de referência [3G Capital]”, prosseguiu Sergio Rial.
O executivo disse que essa experiência trouxe um aprendizado de que “ser líder não é ser corajoso, mas ser responsável e ético; não é ser herói ou heroína, mas ter a resiliência para defender a verdade e fazer o que é certo”.
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