A Americanas (AMER3) pode ser considerada “grande demais para quebrar”? A expressão é utilizada para descrever empresas que são referência no mercado financeiro e avaliadas em valores bilionários. No caso da varejista, um rombo de R$ 20 bilhões em lançamentos contábeis foi trazido à luz na quarta-feira (11), o que levou à renúncia do CEO Sergio Rial após 10 dias no cargo. Em entrevista ao Suno Notícias, o analista CNPI da Suno Research José Daronco diz que “a companhia está longe de uma recuperação judicial”.
A visão do especialista é embasada na presença dos acionistas de referência da Americanas, que detêm 31,13% da companhia: Jorge Paulo Lemann – o homem mais rico do Brasil –, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Herrmann Telles.
“Com as informações que temos, até então, não vemos a possibilidade de a Americanas quebrar, principalmente porque esse grupo apoiará a empresa na capitalização. Não haverá falta de caixa. Eventualmente, haverá uma diminuição e destruição expressiva de valor dos acionistas, o que já vimos com a primeira queda na bolsa”, avaliou Daronco.
Apesar de a fatia representar apenas uma parcela mínima da fortuna bilionária dos empresários juntos, eles não deixaram de cair algumas posições no ranking dos mais ricos do Brasil da revista Forbes.
Apenas no pregão de quinta-feira (12), as ações da Americanas passaram por um longo período em leilão e terminaram o dia em queda de 77,33%, negociadas a R$ 2,72.
Tem salvação, mas Americanas não terá caminho fácil
Leonardo Santamaria, especialista em ações da Suno Asset, também não acredita no colapso da Americanas, mas traz à tona a dificuldade que a empresa deverá passar para se recuperar tanto nas contas, como em sua credibilidade diante do mercado.
“No contexto da Americanas, os R$ 20 bilhões estavam dentro do balanço, mas em contas erradas. Algumas pessoas ainda não entenderam se isso tem, de fato, um impacto na operação da companhia – e a resposta é sim. Conforme uma empresa fica em dívida com um banco, há novas condições e taxas. Isso não se configura mais como uma conta de fornecedor, mas sim um empréstimo bancário, portanto deveria estar configurado como empréstimos e financiamentos”, explica.
Há dúvidas sobre a capacidade da geração de caixa operacional companhia, se conseguirá sustentar a sua operação. As contas de fornecedores eram pagas pelos bancos e, em seguida, pela Americanas às instituições. Segundo Santamaria, não havia uma visão clara sobre o quanto isso impactava os resultados da empresa. Hoje, diante das informações disponíveis, há a perspectiva de que a alavancagem da varejista possa chegar a 8 vezes mais do que o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) gerado.
Além disso, sem os R$ 20 bilhões nas conta, o lucro da Americanas pode ter sido superestimado ao longo dos anos, portanto seu patrimônio líquido ficou maior. “Daqui para frente, uma oferta subsequente de ações (follow-on) é esperada, além do corte de custos, com fechamentos de lojas, para elevar o resultado operacional e sanar o maior endividamento”, constatou Santamaria.
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