Em manifestação protocolada no último domingo (10), a Americanas (AMER3) voltou a negar as argumentações do ex-diretor-presidente da empresa, Miguel Gutierrez, apresentadas em processo judicial movido pelo Bradesco (BBDC4) contra a varejista.
Em comunicado à imprensa, a companhia reiterou que Gutierrez “não apresentou contraprovas, em nenhum momento, para os documentos e fatos apresentados à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no dia 13 de junho de 2023, que demonstram a sua participação na fraude, evidenciada novamente em mais dados apresentados nesta manifestação aos autos do referido processo”.
O mesmo se deu com os demais órgãos competentes que atuam nas investigações do ocorrido, disse a varejista, e que já acataram e homologaram delações premiadas de ex-executivos da Americanas.
A empresa reforçou, também, que foi a única parte a apresentar provas no âmbito do processo judicial e reiterou a afirmação sobre a fraude e a responsabilidade direta do ex-CEO a partir da exposição de novas evidências apresentadas nesta manifestação, tais como:
- “arquivo digitalizado com anotações de próprio punho de Miguel Gutierrez, localizadas em equipamento eletrônico da companhia por ele utilizado, em materiais que apontam a existência de duas versões dos demonstrativos da Americanas, uma de uso interno da antiga diretoria e outra destinada ao Conselho de Administração”;
- “e-mail enviado por Miguel Gutierrez aos ex-diretores, com orientações para que não fossem levadas, em reunião com Sérgio Rial, respostas a dúvidas sensíveis em relação ao 4T22 e endividamento da companhia”;
- “e-mail enviado pelo ex-CEO aos ex-diretores envolvidos na fraude, pelo qual Miguel Gutierrez reclama do “mar de comentários”, referindo-se a diligentes questionamentos dos membros do Comitê de Auditoria, em linha com as boas práticas de governança recomendadas”.
Ainda na nota, a Americanas destacou que, adicionalmente, foram identificadas ‘várias contradições e mentiras’ nas alegações contidas na carta apresentada por Miguel Gutierrez, tais como:
- “O senhor Miguel Gutierrez alega que a companhia passava por situação financeira difícil no segundo semestre, que precisaria de aporte de capital e que todos os órgãos da administração tinham ciência desse fato. Documentos apresentados ao Comitê Financeiro em 07/11/22, arquivados no portal de governança da companhia e já disponibilizados à CPI e demais autoridades, mostram de forma inequívoca que a antiga diretoria, liderada por Miguel Gutierrez, apresentou aos conselheiros visão de que a Americanas geraria R$ 500 milhões de caixa no 4º trimestre de 2022 e continuaria gerando caixa nos anos subsequentes, mantendo índice de endividamento financeiro saudável”;
- “Outra argumentação sem fundamento apresentada é a de que os órgãos sociais deliberavam sobre questões estratégicas da Americanas sem conhecimento e participação do ex-CEO Miguel Gutierrez. Esta falsa afirmativa cai por terra diante de mensagem sobre ações do Comitê Financeiro, assim como de agendas de reuniões do Conselho, que mostram que o senhor Miguel Gutierrez era ativo na gestão da companhia, como é de se esperar de qualquer Presidente de empresa”.
A Americanas explicou que tanto as afirmações supracitadas quanto as evidências que as certificam constam da petição protocolada em resposta ao agravo em processo judicial de autoria do Bradesco e que “lamenta a posição da instituição financeira, não compartilhada pelos demais bancos credores da companhia, que seguem empenhados num consenso ao plano de recuperação judicial“.
Na nota, a empresa reafirmou “que o relatório preliminar apresentado na Comissão Parlamentar de Inquérito se baseia em documentos levantados pelo Comitê de Investigação Independente, além de documentos complementares identificados pela administração e seus assessores jurídicos, que formataram os documentos em um relatório que indica que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas, capitaneada pelo senhor Miguel Gutierrez”.
“A companhia confia na competência de todas as autoridades envolvidas nas apurações e investigações, à frente das conduções de delações homologadas já em segredo de justiça, que devem trazer ainda mais robustez às já contundentes provas apresentadas. A Americanas reforça que é a maior interessada no esclarecimento dos fatos e que irá responsabilizar judicialmente todos os envolvidos na fraude”, finalizou.
Americanas (AMER3): bancos entram com pedido contra Bradesco para evitar “drible” na recuperação judicial, diz jornal
Em mais um capítulo da crise na Americanas (AMER3), os bancos Itaú (ITUB4), Santander (SANB11) e ABC Brasil (ABCB4) entraram com pedido na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro para que seja rejeitada uma tentativa do Bradesco (BBDC4) impugnar créditos na recuperação judicial da varejista e negociá-los à parte dos outros credores.
Segundo o blog do Lauro Jardim, do Globo, os três bancos avaliam que a resistência do Bradesco pode prejudicar a paridade entre os credores e atrapalhar a coletividade.
Recentemente, a 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo deu uma vitória ao Bradesco em processo que tenta dificultar uma eventual venda do patrimônio dos acionistas de referência – Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles – da Americanas.
A Americanas tem uma dívida de R$ 4,7 bilhões com o banco.