E-mails trocados entre a diretoria da Americanas (AMER3) e o presidente do Conselho de Administração, Eduardo Saggioro indicam que o representante fazia reuniões frequentes com o ex-CEO Miguel Gutierrez e a cúpula da gestão, para temas estratégicos. A apuração foi feita pelo Broadcast e também se baseia nos depoimentos de Saggioro à PF no dia 28 de junho.
Atual presidente do Conselho de Administração, Eduardo Saggioro foi indicado para a cúpula pelo trio de acionistas Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, sendo eleito à presidência em 2020.
Com investigações ainda em andamento, Gutierrez é o principal acusado pela empresa e pelo trio de referência como um dos responsáveis pela operação fraudulenta que acarretou no rombo nas contas da Americanas (AMER3) de R$ 20 bilhões.
De acordo com o depoimento de Saggioro, suas reuniões com Miguel Gutierrez aconteciam apenas cinco vezes ao ano pelo Conselho e em contatos pontuais. Entretanto, os e-mails obtidos pela reportagem sinalizam que esse número pode ser maior: ao menos oito em 2022 e nove em 2021, de um Comitê de Estratégia e Comunicação.
Segundo fontes ao Estadão, as reuniões do comitê aconteciam de maneira remota, por videoconferência, e se intensificaram com a fusão da operação digital da B2W.
Os e-mails de Saggioro à diretoria também tem o contato de Sicupira como cópia.
Reuniões poderiam ser quinzenais, apontam e-mails da Americanas
Os e-mails trocados sobre o Comitê se referem a “pontos para follow up (FUP)) e a frequência deles apontam que as reuniões deveriam acontecer mais vezes do que havia sido relatado anteriormente.
São e-mails em 27 de dezembro de 2021, 2 de fevereiro de 2022, 19 de abril de 2022, que se referem a reuniões quinzenais.
“Boa noite! Desculpem a demora, seguem abaixo os pontos que anotei da nossa última reunião quinzenal”, escreve Saggioro, em e-mail de dezembro de 2021, sobre uma reunião de 15 de dezembro daquele ano. No e-mail, ele ainda confirma mais uma reunião no mesmo mês.
Segundo sugerem os e-mails, as reuniões do Comitê de Estratégia e Comunicação tratavam de assuntos importantes para a companhia, como:
- Compra do Hortifruti Natural da Terra, com propostas e contrapropostas;
- Visão do mercado sobre a empresa, no sentido de encontrar justificativas para a queda de 54,81% do preço das ações de AMER3 no ano de 2022 até o mês de junho;
- Estratégias de “otimização tributária”;
- Contratações e treinamentos de executivos, como de Sergio Rial para o cargo de CEO.
Segundo o depoimento à PF, Saggioro a primeira pista sobre a dívida maior que o reportado nos números oficiais no dia 4 de janeiro de 2023, através de uma ligação telefônica com Rial e só foi tratado mais a fundo em uma reunião do dia 6 de janeiro. Entretanto Saggioro alega que as explicações de Marcelo Nunes sobre o assunto foram “evasivas”.
Após a reunião do Conselho no dia 11 de janeiro deste ano, ainda segundo o depoimento de Saggioro, foi tomada a decisão de publicar o fato relevante que trouxe a público o escândalo.
Os advogados do presidente do Conselho de Administração, afirmam em nota que “seu cliente sempre atuou com diligência e com o máximo de zelo e ética sobre a Companhia, observando rigorosamente as normas e a legislação aplicável”.
Em nota, a Americanas (AMER3) por sua vez diz “que seus órgãos sociais atuam de acordo com as melhores práticas de governança do mercado. É boa prática que temas estratégicos sejam acompanhados pelos membros do Conselho de Administração e Comitês, como é o caso dos e-mails citados, que tratavam do acompanhamento de temas do Comitê de Estratégia e Comunicação”.
